Figas no Jornal de Notícias

Figas no Jornal de Notícias
Aquando da entrevista ao JN nos seus 120 anos.

Poder

Pensamento do Conde:
O poder não reside em quem pensa que manda mas sim em quem desobedece.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Copiem Valongo


COPIEM POR VALONGO
Quando se visita um Concelho, no seu posto de turismo é suposto encontrar-se o que mais representa a terra visitada. Tendo recebido um amigo estrangeiro, lembrei-me de ir até Valongo. Parabéns. Tem um museu, que muito bem representa uma das actividades do concelho, a extracção da ardósia, que serviu e serve para variados fins, entre eles quadros de escola e a célebre lousa, onde escrevemos as primeiras letras. Toda a actividade mineira, está ali bem representada,através de belíssimas fotos, nas quais o visitante pode apreender, através das ferramentas exposta, como se processava o trabalho da feitura das lousas, assim como retrata o que era a vida dos mineiros! É um museu que se recomenda e modelo para outros concelhos, neste caso para o de Gondomar; capital da ourivesaria, capital da filigrana, mas que nem uma caravelazinha nem um coraçãozinho tem em filigrana para turista ver! Em contrapartida, no posto de turismo de Valongo, tinha, óbviamente, muitas peças de artesanato em ardósia, assim como as saudosas lousas.
Gondomar, até pode ter um coração de ouro, mas a sensibilidade
para o turismo é de cobre!
Seu posto de turismo é pobre. Muito pobre!
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
Gondomar

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Que democracia? Que representantes do Povo?

Ao analisar o currículo dos 230 deputados à Assembleia da República, constatei que mais de 90% são licenciados, sendo que entre estes 80% são licenciados em Direito!

Ora, sabendo-se que licenciados e doutores em Portugal não ultrapassam os 10% da população e que a maioria do Povo tem o ensino básico ou até ao 12º ano, é lógico deduzir que os 90% da Assembleia representam só 10% da sociedade portuguesa!

Logo representam uma pequena minoria do Povo, não a maioria!

Assim sendo, é lógico dizer-se que a Assembleia não representa o Povo.

Devia ser ao contrário; a Assembleia devia ser composta por 90% de deputados com estudos até ao 12% e 10% de licenciados ou doutores! Também aqui, assim como para as mulheres, devia existir um sistema de quotas.

Até porque, para ser Presidente da República basta ter o equivalente à antiga 4ª classe e ter mais de 35 anos!

Para fazer o papel, que tanto doutor na Assembleia faz, qualquer um, com estudos até ao 12º ano, é capaz!

O Jerónimo de Sousa é um bom exemplo, com apenas o 4º ano dum Curso Industrial

.Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo

Gondomar

domingo, 12 de julho de 2009

Sóis que se levantarm

Sóis que se levantaram,
Subiram ao meio-dia,
Luz que deles reflectia
mentes iluminaram.

Andaram de mão em mão:
-“Olha. Veio no jornal!.
Era alegria da publicação
Num diário de Portugal!

Foram muitos anos de poesia,
Mas tudo que começa acaba,
Nem sempre durou a alegria,
Que à tristeza deu chegada!

Não mais raios do luar
Nem suspiros do coração,
Não mais terras a louvar
Nem ais de lamentação!

Tiraram aos poetas papel
Duma página de jornal,
Eram como pingos de mel
Do alimento espiritual.

Os poetas não têm azedume;
Pois serem abandonados
É prática do costume!
Resta-lhes, como sempre,
Sós ou acompanhados,
Livres, irem em frente!

Poetas agradecem ao JN
Os poemas publicados,
Embora quem, ao leme,
Com seu poder, ordene
Doravante dispensados!

Quem sabe, se um dia
Volte a brilhar a poesia
Um dia por semana.
Ela anda sempre por aí,
Como anda o Santana!

Sóis continuam a nascer
Em cada poema escrito!
Por cada um sol poente
Há sempre um nascente
E poesia no infinito!
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque)

sábado, 11 de julho de 2009

O JN deu um pontapé na poesia!




O JN deu um pontapé na poesia!
Já estava avisado, desde semana passada, mas esperei para crer. Sim, é verdade!
Como diz o poeta; “o mundo é composto de mudança”.
Também a poesia, que tinha lugar de honra no JN, levou um pontapé. Foi para a rua, que valores mais altos se levantam! Foi bom enquanto durou.

Era no JN que poetas populares, aqueles que, de vez em quando, punham em versos seus sonhos, suas críticas, seus amores e viam seus poemas vir à luz do dia!
Aliás, o JN, honra seja feita, foi sempre um jornal com maiores ligações ao povo, nomeadamente ao da zona norte do País. Daí ser natural a realização do concurso de quadras ao S. João, Não sei se tal concurso também vai acabar. É natural.
Isto dos jornais está a dar uma grande volta! A mudança de paradigmas de acesso à informação também os atinge!
Quando a informação em papel nos chega às mãos já dela, antecipadamente, sabemos, tanto pela rádio, pela TV ou pela Net! Além do mais, os jornais, quase que metade das suas páginas só trazem publicidade! Ora para ler publicidae há os jornais gratuitos.

O leitor não precisa de pagar papel. O futuro da informação tende a evoluir para plataformas e suportes electrónicos em detrimento do papel.

As vendas de jornais diários tem caído acentuadamente nos últimos anos, por isso é natural que os jornais tentem diminuir custos, sacrificando os poetas, que, como se sabe, são vistos como idealistas e não dão a ganhar muitos carcanhóis. Por isso, rua poesia!

Por mim, que desde sempre mandei alguns dos meus poemas para o JN e tive o prazer e honra de ver a publicação de muitos deles, assim como vários artigos, só me resta agradecer. Tudo que mandei, por carta ou e-mail, foi sempre acompanhado “para eventual publicação”. Também muito do que enviei não viu a luz do dia.
Reconheço que o JN é dono do espaço, eu dono do que escrevo sem ser obrigado a enviar para publicação para quem quer que seja.
Por isso estamos quites. Cada um segue seu caminho.

Por fim, deixo uma sugestão. Ao longo de décadas, o JN publicou poemas dos seus leitores, e nele surgiram lindos poemas sobre vários temas, inclusive muitos dedicados à cidade do Porto, além de outros temas!
Como o Jornal de Notícias tem editora própria, seria ótimo que alguém, o Pina, por exemplo, e mais alguém, fizessem uma colectânea, aí com uns duzentos poemas dos leitores. Podia ter o título de “Poemas de Poetas Leitores”.
O JN fazia uma edição, inseria-a na normal distribuição comercial, e o produto da venda podia reverter para a UNICEF ou outra insituição do género. Também não ficaria mal, aí em Coimbra, o JN promover e organizar um encontro, como despedida e para se conhecerem, de todos os poetas que colaboraram. Iria quem quisesse e pudesse e cada um pagaria o seu! Quanto à poesia, ela saiu do JN, mas anda por aí, como o Santana!
Sou quem sabem, até um dia, com poesia.
Silvino Taveira Machado Figueiredo
(o figas de saint pierre de lá-buraque)
S. Pedro da Cova- Gondomar

quarta-feira, 8 de julho de 2009


GONDOMAR SEM SAÍDA!

“Entre outras versões, a denominação “Gondomar” é atribuída ao rei visigodo “Gundemaro” que, em 610 teria aqui fundado um couto.” Isto é o que consta no site da Câmara de Gondomar, logo Gundemaro é igual a Gondomar. Ora, uma das explicações para o facto de Gondomar ser o município mais atrasado da área metropolitana do Porto, embora tenha três cidades! (Oh, que felicidade!) é o facto de a rua atribuída ao Rei Gundemaro, que deu o nome a Gondomar ou a ele o foram buscar, não ter saída! É um quelho, situado na Cidade, que vai dar a um grande mato!

Também um facto, factos são factos, é Gondomar ter vinte um arruamentos com o nome de D. Miguel (o Absolutista)! Até parece que o cerco ao Porto liberal continua.

Ora, tanto absolutismo e a Rua Gundemaro, sem saída, explicam o atraso em que Gondomar tem vivido. Para quando tirar o absolutismo e dar saída a Gundemar?
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Autor do texto: Silvino Taveira Machado Figueiredo
Rua das Bocas, 880
S. Pedro da Cova-GONDOMAR

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ceptcismo? Sim, sou céptico-

Resposta dada à LTSc, no Blogue do Leitor do JN.

Ceptcismo? Sim, sou céptico.

Atendendo à hipocrisia humana não acredito na bondade da mesma.

Estou de acordo com o primeiro paragrafo, que não contraria quando digo que a ignorância leva ao colectivismo das massas, seja ao trabalho ou à reacção com violência, porque o homem culto tende a não violentar fisicamente, quando muito só pela palavra.

Por definição o Homem é um ser gregário, mas que tende para a autonomia individual dentro do grupo!

Basta analizar que, durante milénios, povos que viveram em sistemas comunitários, com tarefas distribuidas rotativamente aos indivíduos, mas que, logo à primeira oportunidade, nomeadamente após a Revolução Industrial, desertaram para autonomias pessoais. A classe trabalhadora tende a deixar de ser denominada classe operária para empresários em nome individual, a recibos verdes, embora inseridos e subordinados a grandes multinacinias de produção de bens e serviços.

(agora, permissão para meter ironia:

Trabalhar a recibos verdes é bom para o meio ambiente)

Continuando sério:

O que defendo, embora seja trabalho de décadas, é um Governo mundial, caminho que se não assumido voluntàriamente, será empurrado pelas circunstâncias da pressão de trocas comerciais

Já não há mais terra a descobrir. Hoje a riqueza não está na posse das mesma, mas sim na capacidade de produzir bens que a todos ou à maioria interessa.

Hoje não interessa matar opositores para conquistar terra, mas sim conservá-los como consumidores de bens. Nesse caminho, questões como o ambiente, política energética, sistema financeiro e sua regulação, regulamentação do trabalho, serão questões centrais e têm que ter acordo mundial. No final,após uma grande volta, tudo voltará ao mesmo, ou seja: Nos primórdios, o indivíduo integrava uma comunidade e a ela obedecia nas regras de comportamentos recíprocas. Agora, a caminho da Comunidade Mundial, cada membro nela integrado, países e continentes, tem de cumprir tarefas comuns para a salvagurda da própria existência. Poluição e política da água, por exemplo, a isso obrigará

As questões menores, embora de grande relevância, as que englobam as artes, seja cinema, teatro, dança, música, pintura, artes plásticas, literatura, religião, essas sim, podem veícular a idiosincrasia de cada povo ou nação. Agora as questões globais, que a todos interessam, não podem estar ao livre arbítrio de cada nação, seja da Rússia, China, América, Índia, Brasil, Europa, etc. O que a todos interessa por todos deve ser gerido!

Acho que neste caminho a qualidade da Democracia melhorará, porque o conhecimento cultural, técnico e sociológico estará mais espalhado e mais acessível.

A Europa é um bom exemplo da evolução para a globalização das mesmas políticas sobre um mesmo território, além da moeda única.

Quem é que agora vê vantagens em sair da UE?

A China parece que já está a querer uma moeda única mundial!

Lentamente, cada povo na Europa residente, vai interiorizando mais o sentir Europeu em detrimento do nacionalismo. saloio.

O Homem é um ser Universal. Não pode ser discriminado pelo facto de estar em qualquer ponto da Terra.

No Governo Mundial, os Continentes serão os Grandes Concelhos e os actuais países simples freguesias, embora com alguma autonomia, mas todos sujeitos às detreminações globais para questões globais de hoje, que mais globais serão no futuro.

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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo

Abram em os olhos

ABRAM OS OLHOS
Não fecheis os ohos ao tempo que passa:
De Portugal ter lindo céu azul
No seu rumo a sul,
Mas viver no cinzento da desgraça;
Com mando mui bolorento
A navegar num tormento!

Vem aí o tempo de eleições;
Tempo de arrumar escolhos,
De tomar novas decisões
E de abrir bem os olhos.

Não fecheis os olhos
Ao tempo que passa.

Abram bem os olhos,
Varramos do céu azul
O cinzento que grassa..

Cada português,
Com sua pequena vassoura,
Por si e por sua vez,
Exploda, com seu voto,
A revolta que em si estoura!
.............xxxxxxxxxx..................
Autor deste original inédito:
Silvino Taveira Machado Figueiredo
Gondomar-PORTUGAL

segunda-feira, 6 de julho de 2009

GROSA POÉTICA

Amor à nossa volta
Ah,
que ninguém queira agarrar o amor,
o amor não tem amarras!

O amor é vagabundo,
diurno, nocturno,
alegre, soturno,
por vezes nem se nota!


Que ninguém queira agarrar o Amor,
ele vai e vem
e nem sempre está
em quem pensa que o tem!


Ah,
ninguém queira agarrar o Amor,
ele anda por aí,
livre,
só livre vive sob muitas formas,
por vezes nem se nota!

Não queiram agarrar o Amor,
desejem, apenas,
sem o agarrar,
que o Amor ande, sempre, à vossa volta.
xx


Anda cá, amor.
Anda cá, amor,
quero falar-te duma coisa doce,
como chocolate,
que até a ti me trouxe!

Deixa-me olhar bem para ti,
deixa-me encostar-me a ti.
deixa-me beijar-te.
afagar-te,
apertar-te.

Sabes, amor,
amar é uma arte!

Dizem que também é um impulso,
mas eu quero de ti fazer obra prima,
ser dela escultor,
e no final,
como milagre,
todos vejam
que houve milagre de amor!

Quero ser teu vaso,
quero que sejas minha flor!

Vem cá, amor,
quero falar-te duma coisa doce,
como chocolate,
que até a ti me trouxe!
xx


Poema de amor
Amor é estar perdido no deserto,
ter sede,
é estar quase a morrer,
mas encontrar um oásis de amor
para amor poder beber!

Amor é estar perdido na escuridão,
mas encontrar luz:
um grande clarão!

Amor é estar perdido na tempestade,
mas encontrar a bonança
e a aurora duma esperança!

Amor é andar sozinho
na aridez da solidão,
mas encontrar guia amoroso,
que nos dê o mapa do seu coração!

Amor tem muitas definições!

Eu tento dar mais algumas,
pôr o sentir do amor a nu,
mas desisto, porque amor,
Amor,
simplesmente…… és tu!
xx


Poetas; uns desgraçados!
Sabe-se de poetas,
que escrevem sobre o amor,
e bem, mas pouco se sabe, de verdade,
dos poetas que amor têm!

Os poetas, são tão desgraçados,
pelas dores e amores,
que por outros escrevem,
até se esquecem
de ficar apaixonados!

E a fingir, fingindo,
dizem do seu sentir,
mesmo mentindo!

Os poetas; uns desgraçados,
embora digam coisas certas,
dizem-lhes que estão enganados,
mas, tudo que ao poeta acontece
mostra ao mundo as doenças
de que o Mundo padece!
xx


Versos hipócritas
Escrevo. Que é o escrever? Que faço?
que tenho para fazer?
o mundo está mal,
passa fome,
a Terra cada vez mais destruída,
o Homem pior!
que escrevo?
que faço para melhorar a vida?

Escrevo banalidades
como outros já escreveram!
cometo barbaridades
como outros já cometeram!

Entretanto, músicos tocam belas melodias!
poetas fazem belas poesias,
mas o mundo, sempre pior todos os dias!

Todavia,
vamos falando sempre d'esperança;
a tal, a sempre desejada:
Terra sem ganância e respeitada.

Escrevo. Que é o escrever?
banalidades para alguém ler
e tudo igual permanecer!

Entretanto, músicos tocam belas melodias,
poetas fazem belas poesias
nas pautas,
nos versos das hipocrisias!
xx


Esperança negra
Vindo dum mundo de escravos,
agora, governa a casa do senhor,
outros senhores estão admirados
e olham-no com algum temor!

A esperança é grande no negro,
que a outras cores muito seduz,
o negro está contente com seu ego,
pois é no negro que brilha a luz!

O mundo, de branco está cansado,
por isso, vestiu veste doutra cor,
com flor d’esperança enfeitado!

Saiba agora, o novo grande senhor,
fazer um arco-íris, bem irisado,
sobre um mundo de toda a cor!
xx


Amor amor amor
Amor,
amor,
amor,
companheiro de luta
nas batalhas com fragor
dos amores em disputa!

Amor,
amor
amor,
quantos vezes de amor chamado?!
quantas vezes amor ou favor
nas vezes em que és usado?!

Nos amores, dados ou vendidos,
nos corpos andas sempre junto
e dás-te a um só ou a conjunto!

Amor,
quando num corpo entranhado
lhe chega o cansaço
por momentos fica vencido,
mas logo ao corpo retornado,
para a um só ser dado
ou por muitos repartido!
xx


Conhecer
A quem não me conhece
eu dou-me a conhecer,
ficará no que lhe parece
e eu sem o saber!

Na ida a qualquer encontro
cada um leva sua verdade,
um do outro contraponto
mas dum todo só metade!

Nos encontros que temos,
sempre algo receamos
em desconhecidos terrenos!

Quando a um encontro vamos
não queremos ficar pequenos,
mas só grandes em vaidades!

A quem não me conhecia
dei-me a conhecer,
ficou a saber o que já sabia;
temos muito que aprender!
xx


À espera do tombo
Nos passos que já dei
muito caminho pisei,
não sei quantos passos por dar
nem onde irei chegar.

Se me interrogo
a mim não me respondo,
só sei que logo logo
darei grande tombo.

Eu vou pelo sol,
venho pela lua
e lavo-me com o rol.

De cara lavada,
lá vou, outra vez,
em nova caminhada,
em busca do sol,
e se me interrogo
a mim não respondo,
sei apenas que,
de qualquer jeito,
de qualquer modo,
darei grande tombo,
logo logo.
xx


Manhãs
Obrigado noite,
por dares luz às estrelas,
de as tornar mais belas!

Obrigado
por realçares o luar;
do dia irmão,
que nos faz sonhar!

Obrigado noite,
por, no teu ventre
albergares sémen de sóis-nascentes,
que te fazem pré-mamã,
que, após gestação nocturna,
nos dás belas manhãs;
lindas, refulgentes,
logo gatinhando,
dançando no palco azul
até ao cume do meio-dia,
a caminho de sóis-poentes!

Obrigado noite,
desculpa, vou-me deitar,


Espero sonhar no teu luar,
levantar-me cedo
para poder assistir a outro parto natural,
d’outra manhã, de que nunca me farto
no céu de Portugal,
de norte a sul, no seu céu azul!

Até amanhã.
xx


Não vos conheço.
Não vos conheço
nem vos quero conhecer,
eu convosco me pareço;
sou apenas um parecer!

Mas,
afinal que sou eu?
homem ou animal
ou coisa assim-assim?
eu se vos conheço mal
mal conheço a mim!

Estupidez querer conhecer outros,
sempre em contínua mutação,
basta conhecermo-nos, aos poucos,
sem qualquer conclusão!

Eu não quero conhecer os outros,
que a vida a meu encontro traz,
basta conhecê-los, aos poucos,
e com eles viver em paz!

Eu não vos conheço
nem o mundo conhece a mim,
eu com ele me pareço;
nem sempre somos jardim!
xx



Rumo ao futuro.
O futuro é tempo que não existe,
é apenas um tempo d'imaginação,
só o tempo do presente persiste
e o passado da recordação!

O futuro é rota de navio
nunca a nenhum porto chegado,
é como da vela seu pavio,
que arde no presente queimado!

O futuro, que se almeja,
é incógnita por acontecer,
sem que se saiba o que seja!

O futuro são batidas do coração,
que, no presente do seu bater,
tem o futuro sempre na mão!
xx


Dias
Cada dia,
que de mim se despede,
não mais regressa,
passa a dia de mim emigrado
na lonjura do passado!

Nenhum dia
dos meus dias passados,
vem, novamente,
passar o Natal comigo,
nem regressa, por alturas de Agosto,
às romarias da minha aldeia!

Não,
nenhum dia,
de mim emigrado,
volta a estar a meu lado,
só o dia presente vive comigo,
mas tenho os do futuro prometidos!

Quando os do futuro chegam
logo de mim emigram,
continuam sua viagem,
eu deles, apenas, ponto de passagem,
não me mandam cartas,
a dizer onde estão!

Sou estação de dias,
de chegados e vividos,
de mim já partidos;
de mim emigrados,
no cais, fico à espera do futuro.

É neles que penso quando durmo no escuro.
xx


Noites com vida
Quando o Sol da Terra desaparece
dá entrada à noite serena,
escura, densa, profunda,
que nos arrefece
e nos deixa sem nada para fazer
....e quase fenece o viver!

A Noite é cor que acompanha a Morte,
parte do dia com sua luz perdida,
porém, mistério profundo,
é na noite que o amor tem mais sorte,
mais vida
e mais vidas dá ao mundo!
xx


As crianças são estrelas
Olhar as estrelas;
cabides de prendas,
para seu transporte milhões de renas
vindas do norte!

Queremos sempre uma prenda,
nem sempre sabemos o quê,
esperamos, sempre,
que alguém nos entenda
na prenda que dê.

Estrelas cintilam; são prendas a luzir,
e os olhos das crianças,
cheios d'esperanças, perguntam:
-"Quando vão cair?"

Milhões de crianças olham as estrelas
sem que reparemos nelas!

As crianças olham as estrelas,
vamos nós olhar para elas.

Elas têm desejos,
mas antes que prendas caiam do céu
dêmo-lhes prendas dos nossos beijos.
xx


Gelado amoroso
Se olho para ti, e nada te digo,
resta leres no meu olhar,
é que eu, estando contigo,
nem consigo falar
nem sei como começar,
mas, a linguagem de que mais gosto
é quando a ti me encosto
e, sem te falar,
me consegues entender!

Depois, em ti encostado,
sou gelado a derreter,
que gostas de comer!..
xx


Uma estrela, uma constelação!
É noite,
está escuro,
mesmo muito escuro!

Abro a janela,
nem uma estrela,
no céu não as há!

Fecho a janela,
deito-me na cama,
ela já lá está,
a meu lado,
toco-a, o quarto fica iluminado!

Que bela noite,
só com uma estrela!
xx


Encontro
Aos encontros vão ilusões,
outras vão encontrar,
juntam-se emoções no sentir e desejar.

Enquanto o encontro dura
vai-se tecendo amizade
que dure uma eternidade.

Quem vai a um encontro
também se quer encontrar,
seja em qualquer ponto,
mas tudo só faz sentido
se quando com outro se encontrar
se encontre também consigo.
xx


Sou pavão
Sou um pavão,
gosto de me pavonear,
sei andar pelo chão,
mas também sei voar!

Há quem me queira imitar,
mas belas penas não tem,
quando as quer mostrar
causa penas a alguém!

Eu não,
eu sou um pavão, belo,
quem não é reduza-se à sua pobre condição,
ninguém me pode imitar!

Eu ando pelo chão,
mas também sei voar!
xx


Desgraça
Há poetas,
que cantam o vazio da esperança,
sem leme na rota do seu navegar!

Há poetas que dão voltas no mar
e às voltas que dentro de si têm,
mas sem portos onde aportar!

Desgraça, desgraça,
ter-se nascido com tudo
e viver sentindo que não tem nada!

Há poetas,
que em busca d'inspiração,
olham para as estrelas,
pensando que delas a inspiração vem!

Outros não, apenas olham para o chão,
e vão-se queimando
nas estrelas que em sim têm!
xx


Morar em ti
No silêncio da tua ausência
tu estás sempre presente,
amor é doce demência
que invade a mente!

A mente guia o corpo
na busca d'amor eterno,
sem mente um corpo é morto,
sem amor é corpo enfermo!

Minha mente não está aqui,
mas, embora daqui ausente,
está sempre a pensar em ti!

Quando do encontro for hora,
parecerá que em ti sempre vivi
e nunca de ti fora!
xx


Dai-me um sorriso
Dai-me um sorriso,
que seja de criança,
eu dele bem preciso
na tristeza da esperança.

Quem nos deu vida
deu-nos lágrimas para chorar,
a cada um sua medida
sem as poder secar!

Quando uns olhos choram,
deixai-os, deixai-os chorar,
é tristeza a esvaziar,
confortai-os com a esperança,
com o sorriso d'outro olhar;
o sorriso duma criança,
que faz as lágrimas secar!
xx


Bolsos do desespero
Nascemos, logo nos vestem roupas,
mais tarde com bolsos,
de carapins passamos a usar sapatos
e até botas!

De bolsos para lenços
passamos a usá-los para notas
e a viver tensos,
deixamos de ser meninos e passamos a cretinos,
a querer contas no banco
e acções a render outro tanto!
mesmo os poetas, que cantam o amor,
a lua, o céu e as estrelinhas,
não desdenham
que seus versos lhes rendam notinhas!

Os bolsos, que na roupa estão,
com eles temos de viver,
dão-nos a preocupação de os querermos encher!

Com boas ou más acções?
depende das notícias do vento
e das novas que a bolsa traz,
ponto fulcral dos nossos anseios é que bolsos,
às roupas cosidos ou colados,
andem sempre cheios,
senão ficamos nós
vazios d’esperança, desesperados!

Resta-nos o conforto de termos nascidos nus,
sem nada, sem bolsos para notas,
e embora morramos vestidos, bolsos à roupa cosidos,
sabemos que os levamos vazios, porque, mesmo cheios,
já não mais abrem portas!
xx


Tradição
O Homem não se veste como se vestia,
não dança como dançava,
não come como comia,
não canta como cantava,
não feira como feirava!

O Homem não mantém tradições,
muda-as, como cada sol poente,
e, nas várias evoluções,
de selvagem julga-se gente!

Mas, se tudo muda,
se tradição só é enquanto dura,
coisa que o Homem não descuida
é amor no que procura!

O amor é a maior tradição,
que, na vida,
no coração impera e tudo gera!

O amor é um rio,
que corre dentro de nós,
coração de navio,
que noutro rio ou mar quer foz!

Só a tradição do amor é permanente,
imutável, nasce no coração da gente,
o resto é variável,
até na tradição de se fazer gente!

Mas, nada substitui a tradição do beijo,
a felicidade do enlace e a satisfação do desejo,
que dentro de nós nasce!

o Homem altera tradições do corpo,
mas do coração e do amor..... não!
xx


Somos folhas, somos gente!
Somos folhas verdes de Primavera,
despontamos d’árvores invernosas,
agarramo-nos aos ramos da quimera
e fazemos sombras esplendorosas!

Somos gentes,
como folhas de diferentes côres,
fazemos paisagens diferentes
como fazem várias flores!

Somos gente
como folhas dos ramos da vida!

Brotamos de troncos e hastes
e de cada raíz renascida!

Quando em nós há desbastes
noutras folhas fica a vida,
novamente!

Afinal, somos folhas,
somos gente num florir permanente!
xx



Prémio do amor
Nascer é a primeira jogada
do jogo da vida,
depois somos prémios,
somos jogo
jogado no casino do tempo todo,
com muitas portas d'entrada
e poucas de saída!

Jogamos parados, jogamos a correr,
jogamos de nós emigrados,
jogamos no viver a este jogo amarrados!

Vivemos na ilusão de ganhar,
ninguém joga para perder!

A Terra é um grande casino,
com prémios principais:
saúde, dinheiro, amor e glória,
é à volta destes prémios
que jogadas das nossas vidas
fazem história!

Nascer é a primeira jogada do jogo da vida,
depois somos prémios ou prejuízo da vida toda
quando dela saída!

Porém, nesta vida de apostar,
só há um vencedor,
é quem dos prémios maiores
ganhar o prémio AMOR!
xx


Não quero ser maior.
Não,
não quero ser maior.

Do tamanho que sou,
por vezes sou um engano.

Eu só quero ser eu,
ser da minha altura;
do meu tamanho.

Da minha altura não quero tonturas,
na minha pequenês não quero rastejar.
só quero ser eu aonde puder chegar,
porque, vendo bem,
qualquer um pode chegar bem alto
com a altura que tem!

Quero ser só eu,
com a altura ou a pequenês que tenho.
com uma subir ao Céu,
com outra descer ao Inferno,
mas ser sempre eu
com a altura que tenho
xx


Andando por aí
Quando saio por aí,
encontramo-nos!
eu podia ser um de vós,
podia ser tudo o que não sou
a caminho do que serei.

Quando saio por aí,
não levo espelho,
vejo mundo que do mundo ri
sem em seu olho ver chavelho!

Quando saio por aí,
vejo quem sofre,
quem chora,
quem ama,
vejo corpos ricos,
mas com pobre fama d’alma!

Quando ando por aí,
ver o mundo bem tento,
quase que de tudo já vi,
só me falta ver por dentro!

Do mundo muito sei,
do mundo muito exploro,
sei de muita humana lei
enquanto de mim ignoro!

Quando ando por aí
e encontro um de vós,
um do outro sempre se ri
enquanto alguém se ri de nós
e dou comigo a perguntar:
se quem ri..... se ri de si!
xx


Quando o mar bate na rocha!

Acordo,
ainda na cama logo fico fora de mim!

Sinto a brisa do mar,
o mexer dos mexilhões,
o vento junto às velas d'estai,
que das quilhas saem!

Sem abrir a janela já me sinto feliz.

Batem à porta,
entra o sol, é um drogado,
pede esmola para a dose,
perco a pose, fecho a porta,
mando-o trabalhar.

Fico dentro de casa,
mas fora de mim!

A droga fica lá fora a pedir esmola!

Depois, volto a ouvir o mar!
é tão difícil nele navegar
...e sonhar!
Cai a noite,
regresso a dentro de mim,
oiço os gritos dos mexilhões,
é o mar a bater na rocha!
xx


Vigília
Estou de vigília,
adivinho seu florir,
sua alvura!
por alturas de Janeiro
seu florir primeiro!

Quando uma flor aparece,
logo me parece
que o frio de Janeiro aquece!

Depois outra e outras,
como toucado de noiva!

Ali fica ela,
mostrando sua virgindade, no meu jardim,
depois vai-se despindo,
pétala a pétala,
imagino que para mim!

Como gosto de ti,
minha magnólia branca!

Tu sabes que tua beleza,
teu toucado d'alvura me espanta!

Enquanto estiveres no meu jardim,
prometo fazer-te poemas assim.

Tuas pétalas,
mesmo já caídas no chão,
aquecerão, sempre,
o Janeiro do meu coração!
xx


Dai-me uma crença
Dai-me um sorriso
para acreditar na Justiça.

Dai-me uma crença
para acreditar nos políticos.

Senhor,
não me façais tão desconfiado,
ainda há pouco ouvi-os dizer
que isto vai melhorar,
mas nunca vi tanto crime
e pelo poder tanto drogado!

Bem sei que a Esperança
é a última a morrer,
mas, olhai,
estou a perder o sorriso no meu viver,
só me apetece chorar,
porém os políticos dizem que isto vai melhorar!

Senhor,
dai-me uma crença,
fazei de mim uma criança
para neles acreditar.
xx


Um poeta é um mar!
Um poeta é rio da fonte até à foz,
vai de desvio em desvio
com a torrente da sua voz!

Na torrente de sentimentos
leva aluviões de poemas,
alguns dele lamentos
ou d’outros suas penas!

O poeta, no seu versejar,
ama a paz, o amor, a natureza,
odeia o guerrear!

Um poeta nasce para amar,
nasce para cantar a beleza
e tudo que seja de louvar,
tudo engrandece no seu cantar,
deixando de ser rio para ser mar!
xx


A vida é um jogo
A vida é um jogo,
de muitas cartas,
que nos são dadas
e com que fazemos jogadas,
umas certas outras erradas!


No jogo, que nos dão,
queremos sempre bom jogo
e a ilusão de o adivinhar todo

As cartas, do baralho,
são baralhadas, repartidas,
cada uma é um atalho
de baralhadas vidas!


Se a vida é um jogo,
então, devemos sempre jogar,
até que se acabe o jogo todo
e a nossa vez de baralhar.
xx



Busca
Ai, esta mania de escrever,
de me explorar,
se ao menos me pudesse ler,
se ao menos me pudesse encontrar!

Em cada dia um novo tempo,
em cada dia um novo ser,
cada dia novo fermento
e pão fresco fazer!

À minha volta tudo muda,
o mundo roda
para que outros mundos descubra!

Nesta viagem, sem fim,
eu vou numa carruagem,
para ver se me descubro
..............a mim!
xx



Por sua mão
Já cá estava feito o leito,
o leite, o alimento,
a água, vento,
a lei do mais forte
do corpo ou da mente,
a lei da vida e da morte!

Já cá estava a Natureza!

Só me foi necessário nascer,
para ver, para tudo admirar
e sentir a falta de jeito para andar!
depois comecei a estragar
muito do que estava feito,
alterei e deixei d’outro jeito!
chamam a isso “desenvolvimento”!

Embora digam que Deus fez o mundo perfeito,
o Homem está sempre a alterar,
a modificar, até que, finalmente,
fique desfeito.
depois dirão:
“Foi a vontade de Deus. “ Deus assim quis”

O Homem nunca reconhece o mal que faz,
do que diz. Defende-se com o:
“Deus assim o quis”, e, assim,
fica descansado, feliz!
xx


Poema anti-ciúme
Ainda há pouco, disseram
que meu amor com outro viram,
quiseram tornar-me louco
e por pouco conseguiram!

Ele, com outro pode andar
e andar por caminho errado,
mas passos certos do seu andar
trazem-no sempre para meu lado!

Quando com outro “amor” o acham,
logo me vem dizer,
compreendo a razão,
é que na cabeça não encaixam
que:
um amor não pode ser d’outro
quando d’outro é o coração.
xx


Verão e um bom gelado
Verão,
tempo de férias, tempo de viagens,
tempo de navegar por paisagens,
corações buscando amores quentes!

Corpos, comem gelados;
andam em calções ou de mini-saias,
captam olhares, tomam banhos em praias
ou deitados em areias,
despertos sentidos lêem livros,
vêem belezas a passar!

Mas, quando o Verão acaba,
quando tudo acabado,
sensação que nos esmaga
é que foi bom,
como a sensação de comer um bom gelado
enquanto durou!

Quando chega o Inverno
chegam saudades daquele calor do Inferno!
aí, o que consola a gente
é um bom chocolate...bem quente!
xx


Poema aquático
As mulheres usam belas saias,
que cobrem barrigas redondas,
podem dar à luz nas praias
sob águas de salsas ondas!

Em cada hospital uma piscina
como maternidade aquática,
à luz virão meninos e meninas
feitos em danças terráqueas!

Nascer-se debaixo d’água
pode ser a salvação da nação,
para não vermos a mágoa
da água,
que pelas barbas nos dão!

Mas, se os homens nascem das saias,
debaixo d’água ou em terra, para viver,
não faltam em Portugal belas praias
para amor seco ou molhado se fazer!
xx


Fundição do amor
Muitas gotas d'água fazem chuva,
muitos grãos d'areia fazem desertos,
abraços e beijos fazem amores,
trazendo-os para mais perto!

O amor tudo amarra,
quem o tem a ele fica amarrado,
é navio que não sai da barra,
mas navega, mesmo parado!

Amor é orvalho da manhã,
são os raios do luar,
são os beijos que o amor nos dá
de manhã até ao deitar!

O amor guia nossos passos,
para satisfazer nossos desejos
de a alguém dar muitos beijos
e cair nos seus braços!

Mas o amor, o amor real,
o perdido e fatal,
o de doces gritos e ais,
é quando dois amores se unem
e se fundem em muitos mais!
xx


A esta hora
A esta hora, milhões morrem de fome,
a esta hora, milhões morrem de sede,
a esta hora, miséria milhões consome,
a esta hora, está tudo...como não deve!

A esta hora, ricos estão mais ricos,
a esta hora, todos pedem felicidade,
a esta hora, ouve-se milhões de gritos,
a esta hora, milhões querem caridade!

Mas, a esta hora,
onde estão os bons governos?

A esta hora, onde estão as boas pessoas?

A esta hora, onde está o que merecemos?

A esta hora, vindos de muitas lisboas,
chegam pedidos para sermos felizes,
boas pessoas,
mesmo sendo pequenos!

A esta hora, hora nunca no tempo acertada,
sempre para a felicidade atrasada!

A esta hora há sempre uma maldita hora,
fora de todo o tempo para uma bela aurora!
xx


O mundo tem caixa de correio?
O mundo tem caixa de correio?
qual a sua direcção?
qual sua posta restante?
queria escrever-lhe uma carta,
que começaria assim:
-“Querido mundo,
espero que estejas bom de saúde, e em paz”

Não, nunca cheguei a saber a sua direcção,
a sua caixa de correio, sua posta restante,
todavia, fiz mais uma tentativa,
mandei outra carta ao Mundo, à deriva.
um dia, a carta chegou-me a casa, devolvida.
por fora do envelope, dizia:
-“Mundo bem de saúde, e em paz,
tem morada desconhecida”

Eu hei-de fazer outra tentativa,
eu gosto do Mundo.

Quem souber da sua direcção,
então,.... diga!
xx



Sentir
Entre o teu chegar e partir
há um tempo de ficar;
um tempo de bem sentir
num permanente bem estar!

Depois do teu partir,
fica o vazio do tempo,
cheio de tempo para sentir
por ti, a todo o momento!

Se para lá do tempo
mais tempo houvesse,
levaria lembrança de ti,
para que contigo me enchesse!

Num tempo de chegar
até ao tempo de partir
há o tempo de gravar meu sentir.

Teu amor em mim ficou gravado
num tempo, que foi de amar!
pode o tempo chegar a cabo,
que não o consegue apagar!
xx


Volteando
Andasses tu à minha volta,
fosse eu teu centro,
então, volta não volta,
puxar-te-ia para dentro.

Mas não,
sou eu que ando à tua volta,
tu és o meu alvo,
e espero, volta não volta,
por ti ser salvo.

Nas voltas que damos,
e nos passos perdidos,
volta não volta nos encontramos
e juntamos os sentidos!

É neste voltear,
cada um com seu centro,
que acabamos por nos encontrar
de fora para dentro!
xx


Faltavas tu
Numa noite, estrelada, contei uma,
duas, vinte, cem mil,
contei quase um milhão de estrelas,
mas faltava uma entre elas,
faltava um clarão!

O céu estava mal iluminado,
não estava como dantes!

Tornei a contar, a reparar,
não, ela não estava,
faltava uma; a que me interessava,
todas as outras eram bruma!

Todas contei, todas vi,
mas, numa noite de estrelas,
basta que falte uma:
a estrela do meu amor,
para que a noite seja só bruma
e o céu sem fulgor!
xx


Escrever no luar
Há tanto tempo
que não escrevo na virgindade do luar,
não tenho tido tempo para escrever no vento!

Fantástico no tempo não ter tempo!
mas,
o luar continua a ter tempo para iluminar-me!
dá-me brancas folhas de claridade,
da sua virgindade!

Basta de ingratidão,
vou ter tempo de nelas escrever,
depois, o vento levá-las-á!
quando chegarem à Lua,
em fase de lua nova,
virar-me-à as costas
e, nas folhas da sua virgindade,
lerá meus versos na escuridão!

Basta de ingratidão
xx


Feia
Um dia
vou dizer que não te quero

Um dia
vou chamar-te feia, mesmo muito feia!

Nesse dia,
que não sei quando vai acontecer,
será sinal de que estarei quase cego,
porque sem ti, sem a luz do teu olhar,
ao dizer-te que não te quero
é condenar-me a morrer!

Mas, enquanto não me farto de ti,
se um dia te chamar feia,
a ti; luz do meu olhar,
é com intenção de que dês mais luz
à candeia do amor
que até ti me faz guiar!

Vou experimentar:
-“Feia. É mesmo muito feia!

É nessa altura que dás mais brilho
à candeia que a ti me guia!
xx


Lavagem
Encostado à janela do tempo,
batem-me murros de vento:
pancadas que abrem meu peito,
fazem-me limpeza,
aspiram sujidade acumulada;
pó passivo, antigo,
que vive comigo!

O vento bate na janelas,
abre-as de par em par!

Mais fortes, ainda,
batem-me murros de vento para me lavar

Fico molhado,
lavado por fora,
não por dentro!

A água, que de mim escorre,
lava-me de toda a sujidade!

Algum pó, que ainda fica,
fica como fermento,
esperando que, um dia,
venha mais chuva e vento,
que me consigam lavar
todo por fora e também por dentro.
xx


Meu neto será poeta
Meu neto nasceu e logo chorou,
Traria, já, dentro de si,
um mundo de tristeza?

Todavia,
meu neto deu-me grande alegria;
grande e agradável surpresa,
só para mim!

Ninguém mais sabia,
tomei a coisa como certa,
meu neto seria poeta,
faria poesia.

Ninguém viu,
mas meu neto para mim sorriu!

Ah,
meu neto será poeta,
tenho a coisa como certa.

Com um sorriso por dia
fará muita poesia!

A poesia é como sol na vida,
que se levanta pela manhã

Meu neto será poeta,
com um sorriso por dia
muita poesia fará,
tenho a coisa já como certa.
xx


Negra escuridão
O dia foi-se,
chegou a negra escuridão,
meus olhos se fecharam em corpo,
deitado no colchão.

Revi o filme do dia,
vi gentes de diferentes fisionomias,
revi rostos de amigos,
ouvi falas de alegria,
de tristeza e de chalaça!

Quando chega a noite,
a noite tudo amordaça
com sua negra escuridão.

Meu corpo deitado, no colchão,
só?... não.

A meu lado um corpo amigo,
ele já dormia consigo,
eu fiz o mesmo:
dormi comigo

Na vida somos todos irmãos,
todos amigos,
todos vivemos juntos,
mas cada um vive e dorme consigo
e nem sempre de si seu amigo!

Quantas vezes, deitado no colchão,
com corpos a seu lado,
um corpo não dorme só com a solidão?
xx



Rugas
A última vez que te vi,
reparei nas tuas rugas,
lembrei-me do tempo
em que fui teu amor eleito,
para ti amor perfeito,
mas, eu de ti parti,
não te quis, casei,
tu também,
foste feliz?

Ai essas rugas,
regos de lágrimas,
rios de fugas?

Cheguei a casa,
olhei-me no espelho,
vi minhas rugas no meu corpo velho,
sou feliz?

Eu, um dia fui teu amor perfeito,
mas, um dia, refizemos novos amores
do nosso amor desfeito.

As rugas?
Ah, as rugas!:
regos de lágrimas,
rios de fugas!
xx



Tu não sabes o valor que tens
Tu não sabes o valor que tens,
mas eles sabem, e tu sabes quem!
Eles sabem que tens bons braços!

Tu não sabes o valor que tens,
mas eles sabem, e tu sabes quem!
eles sabem que tens bom lombo,
boas costas,
quanto mais largas melhor,
tudo isso eles sabem!

Tu não sabes o valor que tens,
mas eles sabem,
e tu sabes quem!
eles sabem que tens boas pernas e pés,
tudo isso eles sabem!
fazem de ti apenas um número, um aparelho,
para fazerem um novo mundo velho!
Só isso lhes interessa!

Por mais evidente que seja,
por mais evidente que pareça,
eles não vêem nem contam com a tua cabeça!

A tua cabeça não lhes interessa!

Tu não sabes o valor que tens,
Mas, bom seria
que aprendesses a não mostrares só teus braços,
tuas mãos, tuas costas, mãos e pés,
mas sim mostrares, primeiro, o que és:
Mulher ou Homem, que outros não comem.
xx


Meus olhos pequenos piscam
Meus olhos pequenos piscam,
tremem frequentemente
e por momentos ficam fechados!
não sei se é da idade,
mas,
se meus olhos pquenos piscam,
tremem frequentemente,
e por momentos ficam fechados,
é quando vêem os olhos dos outros,
cobertos por fingimentos,
com maior claridade!
xx



Obra em três minutos
Estes dias fui a Espanha,
palavra de honra que fui,
almocei em Valença,
continuei para Vigo,
de regresso vim por Tui,
naquele dia histórico em que a Vigo fui,
mas escutai o que vos digo:
a Tui chegado
entrei num café, para descansar,
tomei meia de leite, perguntei pela toillete,
para me “aliviar”.

Já na sanita sentado,
de repente, fiquei às escuras,
a luz tinha-se apagado!

Então, reparei,
era um sistema automático,
económico, prático,
o cliente só tinha três minutos, para se “aliviar”.
em caso de prolongamento,
tinha que se levantar do assento
para ao interruptor chegar
e dar à luz, novamente!
É indecente!
-“Merda para estes espanhóis”, pensei.

Ainda hoje,
penso naquele dia em que a Espanha fui
e quando no regresso passei por Tui;
linda cidade, onde no Café Central entrei,
mas não obrei à vontade,
só o fiz em Portugal,
feliz de contentamento,
onde se faz merda, livremente,
...sem limite de tempo!...
xx


Explicar o amor
Amar é gostar sem saber explicar,
ilusão pensar que se gosta dum amor
só porque tem olhos bonitos!
dum amor até se gosta de olhos fechados!

Ilusão pensar que se gosta dum amor
só porque anda bem vestido,
porque dum amor até se gosta despido!

Ilusão pensar que se gosta dum amor
só porque tem bom palavreado,
porque dum amor até se gosta calado!

Ilusão tentar explicar o amor,
dizer isto ou aquilo.

Quando se começa a senti-lo,
a explicação não é por palavras,
mas pelo coração.
xx


Amores enrugados
Amor de velho ou de velha,
amor de nova ou de novo,
que importa no amor a idade?
o que importa é o amor de verdade.

Há amor num olhar,
amor num gesto,
até no silêncio há amor,
há amor em todo o resto.
até há amor sem contacto,
por vezes, basta só estar,
nada dizer,
nada fazer.
há amor até no morrer!

O amor é mistério,
há o amor a brincar
e o amor muito a sério!
qual a diferença?
a diferença está no que cada um pensa,
mas não deixem fugir o amor,
não o deixem chorar,
não o deixem fazer rugas;
caminho de lágrimas ou de fugas!
xx



Ser criança
Nasci sem vontade,
demorei a tê-la,
depois, já de certa idade,
voltei a perdê-la!

Se, eu antes de morrer,
disser que depois de morto
de viver tenho esperança,
então,
podeis crer, voltei a ser criança!

Uma criança não tem vontade,
apenas faz perrices
às divinas imundícies,
delas estou cheio,
delas já tenho azia,
preferia morrer de barriga vazia!

Mas, se eu disser,
antes de morrer,
que de viver tenho esperança,
então, podeis crer,
é porque voltei a ser criança!
xx



Um rio corre
Um rio corre violento no seu leito,
por vezes salta das suas margens,
nelas se espraia, nelas fica.

Um rio nunca está definitavente feito!

Um rio,
quando sai do seu leito
muitos homens irrita,

Mas um rio é como o Homem;
gosta de correr em liberdade
e, para mantê-la
muitas vezes corre em zig-zag,
mas sempre livre fica.
xx


Embalo de mãe
Quem me dera ser embalado,
outra vez por minha mãe,
mas, esse embalo é já passado,
dum tempo que já não vem!

Sendo eu já homem,
que dela se lembra bem,
sou eu que embalo seu nome
no berço,
que minha mãe em mim tem.
xx


Orvalho
Tenho desejo
de colher a frescura do orvalho,
captar o azul irradiante
e desfazê-lo,
macerando pétalas de rosa
e, no fnal da tarde,
ter a felicidade, de num instante,
duma abelha tirar néctar de mim
e alguém ficar bêbedo com mel!

Que bom um mel assim!

É no que dá
a quem tem o desejo
de colher o orvalho da manhã!
xx


Nasci. Que fizeram de mim?
Logo que comecei a andar me quiseram guiar,
logo que comecei a falar não dizia o queria,
logo alguém me dizia:
-“Menino, isso não se faz. Isso não se diz”

Logo que comecei a olhar para o Sol,
com olhos meus,
logo se apressaram a dizer:
-“O Sol é obra de Deus.”

Fui pela Sociedade catequizado,
nela enquadrado,
claro que para meu bem, diziam.
queriam que eu fosse feliz,
mas tendo sempre em conta o:
“Isso não se faz. Isso não se diz”

Tive que ir a muitas missas,
porém, depressa vi mais além,
vi que neste mundo de cobiça,
há muito catequizado
em forma de quadrado,
que só ama o redondo do vintém!

Tive que parecer domesticado,
parecer um ser social,,
até que o cheguei a ser,
mas só no meu exterior,
porque, no meu interior,
sou muito selvagem,
dizem até que malcriado,
que vê no mundo actual,
muito homem-estupor,,
muito mais animal
com tanta aprendizagem

Nasci,
depois, que fizeram de mim?

Já com uma certa idade,
com o olhar um pouco baço,
respondo:
-“não sei quem me fez assim,
mas,agora,
finjo que sou eu que me faço!”
xx


Aperto saudoso
Saudade é aperto suspenso,
bate à porta da esperança,
surge a cada momento
e outro longe alcança.

Saudade; combóio de desejos,
que vai só numa direcção,
carruagens levam beijos
e enleios de coração!

Saudade;
negativo duma lembrança,
duma bela fotografia,
sempre em arquivo para
se olhar em qualquer dia!

Saudade é lembrar-se de algo,
lembrar-se do que se teve,
mas que já não se tem,
é como lembrar-se dum tempo de fidalgo
quando já não se é ninguém!

Não tenho saudades de nada
nem da vida que me gastou,
só tenho saudade dobrada
de ter sido o que já não sou!
xx


Afagos
Lembro-me dos tempos de menino,
brincava com latas de café,
era ainda menino, de colinho,
e mal me aguentava de pé.

Doces recordações de criança
no coração resguardo,
são sempre minha esperança
quando, em desespero, as afago,

Belos tempos, os da infância,
cercada de muitos mimos
e de muita tolerância.

Que bom,
em adultos sentirmos,
-nesta vida de luta e de ganância-
doce lembrança do tempo de criança.
xx



Alma
Neste corpo que me tocou
vive ela dele aliada!

Para todo o lado que vou
vou por ela acompanhada!

Meu corpo é dela vaidoso,
ela melhora seu aspecto,
no meu olhar, se luminoso
é ela que brilha, decerto!

É sócia maioritária
na sociedade da minha vida,
tem asas para voar,
meu corpo não!

Quando do meu corpo
-já capela mortuária-
der a partida,
é dela que ficam a falar
com o corpo no chão!
xx


Amor, o maior bem!
Amor é bem que eterno que não se tem,
mas que se busca desde nascença,
é um eterno jogo do vai e vem
sem que para sempre nos pertença!

Amor, penso que és só minha,
apenas te achei, não te comprei,
agora tenho um bem que não tinha,
mas receio qu’um dia o perderei.

Amor há quem o queira livre,
mas, tal não se pode compreender,
amor só é quando preso noutro vive!

Eu, como sempre,
teu amor quero ter,
serás o maior que já tive
se por mim te deixares prender.
xx


Charlotte
Charlotte andava desgostosa,
carente.

Charlotte pensava que era amada,
Charlotte ganhou forças,
e disse isso mesmo ao marido,
resultou!

Charlotte,
ao tomar banho,
ficou surpreendida
ao ver que seu marido
lhe queria, docemente,
esfregar as costas,
com escova de cabo comprido!

Charlotte ficou contente
e, nesse dia,
resolveu andar mais tempo
....em pelote!

Charlotte gosta que lhe esfreguem as costas!
xx



Amizade
A amizade não é matéria,
mas dela deriva,
corre em cada artéria;
de cada alma sentida.

Elos, que a amizade une,
não formam forte corrente,
senão quando a amizade liga e funde
e em amizade funde a gente!


Desde um olá ou um abraço,
um beijo ou aperto de mão,
são elos do mesmo laço!

E os amigos, que o são,
que à amizade dão espaço
mais amigos serão.
xx



As chaves
Olho para ti, mas não vejo teu corpo,
fico parado, a olhar teu olhar,
porta de entrada da tua sala de estar,
fico à espera que me dês as chaves,
para entrar.

As chaves baloiçam, bailam,
tilintam nos teus lábios!

Olho para ti, mas não te vejo,
porque, cego de desejo,
a qualquer momento,
espero entrar por ti dentro!

Não me importa que
às cabeçadas,
contra as paredes do teu ser
ou às apalpadelas
até encontrar tua sala de estar.

Fofa como és,
em ti descansarei
da cabeça aos pés

Sim, pressinto,
que uma vez em ti por dentro
terei amoroso tratamento

Só estou à espera que me dês as chaves,
que baloiçam nos teus lábios
e, a qualquer momento,
entrar por ti dentro.

Amor….dá-me as chaves.
xx


Mel já feito

Zzzzz,
horas e horas, a eito,
voa a abelha de flor em flor!
mas que sorte
eu encontrar mel já feito
no favo do meu amor!

Zzzzz,
que bom,
mel e amor ter, sempre pronto,
para comer
e lamber a cada refeição

Zzzzz,
o trabalho que tenho,
que é o meu papel,
é no meu voar tentar
meu favo de amor
e de mel guardar
xx




Dominó
As palavras
são como pedras de dominó,
que casam umas com outras!

Uma palavra só não faz muito sentido,
só a outras ligada
faz o pretendido!

As palavras sós;
pedras de dominó,
que, separadas,
são como pessoas
à espera de serem casadas!

Toda a gente fica contente
quando alguém quer a nossa pedra,
a nossa palavra só,
para fazer dominó,
para fazer gente.
xx


Não há explicações
É burro quem isto não percebe,
não há explicações,
ou se ama ou não se ama,
o amor não explica sensações!

Quando se cai nas malhas do amor
dispensam-se razões!

É burro quem isto não percebe,
porque amor não teve!

O amor não se explica,
não dá explicações!

É burro quem isto não percebe.
O amor não dá explicações!
xx



Isenta de renda
Se a poesia em mim morasse
isentava-a de toda a renda,
queria só que um pouco me emprestasse
para te dar como prenda!

Toda a poesia mereces,
quem me dera a saber fazer,
para te lembrares de quem esqueces
e que teu poema quer ser.

Poesia são palavras,
palavras leva-as o vento
com suas fortes rajadas!

Mas poesia é sentimento,
que nem fortes rajadas
arrancam meu intento:

Embora poesia não faça
tento tudo fazer, para que,
em todo o momento que passa,
com poesia te prender

Se a poesia em mim morasse
isentava-a de toda a renda,
queria só que um pouco me emprestasse
para te dar como prenda.
xx


Sem ti sou maré baixa
Meu olhar olha para o mar,
mas não vejo o horizonte!
que me interessa tanta água?
que me interessa tanto mar?
só me interessa tua fonte de amor
sempre a brotar!

Amor,
olho para ti,
tenho sede do amor
que de ti brota,
abre-me da tua fonte
ou da tua mina a porta.

Depois de em ti beber,
um mar será meu ser,
não mais serei maré baixa,
mas sim oceano a encher!
xx



Passos perdidos
Andar,
mesmo à volta de um claustro,
mesmo num pequeno terreiro,
logo que seja ao ar livre,
o Homem gosta,
porque inteiro!

Parar é morrer.

Parar,
só para dormir ou descansar,
mas logo se volta ao caminho,
ao quintal, ao jardim
ou vai-se numa excursão!

Os passos, que o Homem dá,
vão em todas as direcções,
por vezes até corre,
não gosta de estar parado
prefere de pé quando morre!

Todavia,
muitos, no seu caminhar,
acabam por morrer a rastejar,
com joelhos feridos,
porque passos que na vida deram
foram sempre perdidos,
de pé não souberam andar!
xx




Sinfonia
Quando dois corpos se encontram
e se encontram loucos de paixão,
são dois corpos que nunca contam
que algum deles diga não!

E como se beijam e se roçagam!..
e como se esfregam e se lambuzam!..
nunca se cansam do que fazem
nem das ferramentas que usam!..

Quando dois corpos se desunem
da paixão que os unia,
logo amorosamente se iludem,
esperando que amores, dum dia,
durem eternamente nos corpos,
em perfeita e louca sinfonia!
xx


Longevidade
Lembras-te, amor, do amor,
que perdidamente gastámos
com os corpos que usámos?

Vês, amor,
agora, o estado em que estamos?

Lembras-te do fogo que nos consumia
na paixão do dia a dia?

Lembras-te de como era durável o amor?

Mas,
se todo o amor já gastámos,
agora com que ficamos?

Como entender do amor sua longevidade?

Amor profundo nunca acaba,
prolonga-se em profunda amizade,
dá tudo sem querer nada!
xx


Nomes
Já me têm chamado de intratável
de formidável, de engraçado,
de crítico, de satírico,
de irónico, de cómico,
de sovina, de pessoa cretina
de bom rapaz e de homem de paz!
até já me têm chamado de homem rico
e muito viajado!

As coisas que me chamam!
simplesmente formidável!

Enfim, que sou eu?
eu vos digo:
sou variável e instável,
sou brilhante como o Sol,
dou luz, mas faço sombra!

Sou claro como a clara lua,
mas com luas que não dão a cara!

Sou como o mar,
com marés vazas ou em preia-mar!
sou como vento bonançoso ou tempestuoso!

Já me esquecia,
também me chamam de poeta
e ao que escrevo de poesia,
enfim, mais uma mania!

Perdoai-lhes Senhor,
só Vós sabeis o que sou
na minha instabilidade animal:
às vezes besta,
por vezes bestial.
xx


Um calhar
Não me peçam para rimar,
para tudo encaixar em rima.

Um poeta, livre,
não pode ser obrigado a métrica
na sua veia poética,
para quê aprisionar a poesia em quadras rimadas, forçadas?
há algum rio que corra sempre a direito?
não existem curvas nas estradas?

Não,
a poesia pode ser em zig-zag,
pode ser em qualquer altura,
pode até nem cantar a lua, amor e paixão

Não, a poesia pode ser tudo
ou ser nada quando o poeta sem inspiração.

Um poeta, até pode exclamar:
-“Merda para quem poesia perfeita escreve,
perfeita na forma e rima,
mas vazia de sentido,
que para nada serve”

A poesia quer-se livre,
pode até rimar mas, isso,
num poeta até é um calhar.

As palavras querem-se como armas,
como mel ou fel, por atacado ou a granel,
mas sempre livres em qualquer papel.

Se a poesia rimar,
isso num poeta até é um calhar!
xx



Passos
Nos passos, que damos para a frente,
buscamos sempre o futuro,
mas paramos, frequentemente,
por um presente seguro!

Nem sempre caminho em frente
caminho seguro se faz,
bom faz a muita gente
dando alguns passos atrás!

Damos muitos passos a correr
para depressa a um sítio chegar
e por não termos tempo a perder!

Tudo queremos alcançar!
tudo intensamente viver!
mas morrer?!
isso mais devagaaaaar!
xx


Charco
Que sorte, a minha,
ter nascido de um ventre fecundo,
donde nasceram varões
que deram novos mundos ao mundo!

Que sorte,
a minha,
de ter nascido dum ventre imortal!

Que desgraça,
a minha, agora,
de viver em Portugal

É preciso,
urgentemente,
consertar o leme do barco,
para sairmos deste mar enlameado,….
deste charco

O Povo já está gritando,
mas, ai, tantas velas por remendar!

Quando estará pronto o barco,
para sairmos deste mar enlameado,
deste charco?
xx


Antes e depois
Antes do 25 de Abril,
o que era o País?

Depois do 25 de Abril,
o que é o País?

Portugal, quando será feliz?

Vem um Governo,
a seguir vem outro,
mas, o que vamos vendo
é que vai havendo liberdade,
mas de felicidade pouco!

Antes Portugal era atrasado,
depois só mudaram os bois
no mesmo meio de tracção,
o país anda devagar,
rápida só a corrupção!

Quando é que Portugal será feliz?

Perguntai ao Sócrates,
para ver o ele diz,
talvez, com sua filosofia de choque,
diga,
com ar natural:
-“Talvez um dia tenhamos um FreePortugal
ou um berloque”
xx


Porto encantado
No Porto,
cada canto é um canto,
que o poeta, com seu canto,
torna-o num encanto!

O Porto, encantado,
sobre o Douro debruçado,
fecunda o Atlântico
e leva, no oceano navegado,
seu vinho; um hino, um cântico!

Os que bebem seu vinho
lêem seu poema original:
Porto: Alma e Raiz de Portugal!
xx


Mordi-te
Mordi teus lábios,
beijei-os, tocámos línguas,
fizemos osmose de saliva,
seguiram mensagens aos seios,
mãos desceram aos meios,
barriga com barriga,
rolámos várias vezes,
esperámos nove meses,
gostámos,
repetimos mais vezes!
xx


Agitadores
Há poetas,
que tentam dar luz às estrelas,
que tentam dar brilho ao Sol,
dar claridade ao luar!

Os poetas são uns agitadores,
não amam a passividade,
não amam o descolorido,
não se dão ao desalento,
estão sempre em actividade,
sempre em permanente grito!

Mesmo mortos,
sente-se sua radioactividade,
que se mistura no vento,
que sobe até ao Sol,
que sobe até ao Luar
ou pairam sobre a Terra,
para tudo agitar!

Os poetas, os trovadores,
são uns agitadores!...
xx



Guerra
O burro é pacífico!
o homem é pacífico!
vão os dois pela mesma estrada
toc toc, vai o burro andando,
vai o homem caminhando!

Andam aviões no ar,
caem bombas!

O burro deu em zurrar,
o homem em gritar,
depois foram a enterrar!

Eram pacíficos,
os aviões continuar a voar!
xx



Que chatice
Um homem trabalha,
mas sonha em descansar!

Sonha em nada fazer,
mas, ao acordar,
vê que
para viver tem de trabalhar!

Que chatice!

Sonhar é aldrabice!
xx







Lembrar a Deus é preciso?
Mandam-me rezar,
quantas vezes não me mandam rezar?!

Mas, rezar é pedir,
negociar um milagre
para se ter saúde,
dinheiro ou outra coisa qualquer!

Mas, então,
Deus não sabe o que a gente quer?

Será que é preciso lembrar?
xx


Poetas; uns desgraçados
Sabe-se de poetas,
que escrevem sobre o amor
...e bem,
mas pouco se sabe,
de verdade,
dos poetas que amor têm!

Os poetas são tão desgraçados,
pelas dores e amores
que por outros escrevem
que até se esquecem
de ficar apaixonados!

E a fingir,
fingindo,
dizem do seu sentir
mesmo mentindo!

Os poetas,
são uns desgraçados,
embora digam coisas certas
dizem-lhes que estão enganados,
mas, tudo o que ao poeta acontece
mostra ao mundo das doenças
que o Mundo padece!
xx



Tumultuoso
Sou poeta,
que em tudo se transmuta;
ora homem,
ora massa bruta
ora bom menino,
ora bom cretino,
ora elogio, ora desafio.

Sou amoroso ou odioso.

Sou como rio em sereno leito,
mas que,
muitas vezes,
se desvia e transborda
e tumultuoso chega à foz,
nem sempre em corrente de poesia,
mas é nessa altura que ouvem minha voz;
só quando saio do meu leito.
ultimamente,
muitas vezes… a eito,

Tenho deixado de ser rio,
onde só navega a doçura,
para ser um rio de crise,
com correntes de amargura!
xx




Pedaços
É neste rasgar de mim que
em pedaços me vou rasgando,
espalhados pelo chão do tempo,
que por mim vai passando,
pedaços duma redacção,
que Alguém em mim escreveu,
espalhados pelo chão!

Ainda ninguém os viu:
pedaços da mim identidade,
dos meus rasgados passos,
a caminho da incerteza da verdade,
com indefinidos traços.

De tanto me rasgar,
e de me espalhar em pedaços,
pelo tempo,
inteiro não conseguirá ficar o livro da minha vida
….a tempo!
talvez só as capas, pelo chão,
arrastadas pelos ventos!

Dentro delas,
já não pedaços de mim
nem dos meus rasgados sentimentos!

Andarei por aí,
em rajadas dos ventos!
xx


Pisca pisca
Vim do escuro dum ventre,
foi da noite que nasci,
depois não vi luz permanente
na vida que vivi.

A luz é pisca pisca, intermitente!

Vem o dia,
cai a noite,
assim sucessivamente,
mas nunca luz permanente!

Apesar de no escuro dum ventre gerado,
foi quando melhor estive iluminado,
com a luz permanente:
o amor de minha mãe.

Quando do mundo tive vista,
toda a luz, em mim,
tem sido apenas um pisca pisca!
xx


Canibalismo
-“Este é o meu corpo.
tomai, comei todos”
Foi um filho dum deus que isto disse,
por isso,
não é de admirar que uma prostituta diga:
-“Tomai-me. Comei-me toda
depois de comigo terem feito boda,
mas não vos esqueçais,
-como manda a “Santa Madre Igreja-
de deixar algumas moedas
ou notas na bandeja.

Nunca são demais!
xx


Perdidamente
Nos passos que dei na vida
não sei se vida vivi,
sei que foram em direcção perdida
se não dirigidos a ti.

Tu dás-me a volta à cabeça,
fico sempre perdido, sem oriente,
em busca da direcção certa,
quando me dirijo a ti,
perdidamente.
xx



Sei de alguém!
Sei de alguém,
que pensa em alguém,
que ama alguém,
que quer entrar nesse alguém,
possuí-lo!

Possuir,
possuir e dizer:
-“meu. Só meu teu amor,
só meu teu olhar,
meu teu carinho,
meu todo teu ser,
meu todo o teu ter”

Que mistério tão profundo!!
quando se possui alguém,
quando se ama,
julga-se possuir-se o mundo!
xx



Ser tua lenha, teu carvão.
Amor,
não olhes para as estrelas,
que no céu estão a brilhar,
tu já és uma delas
que me prende meu olhar!

Nos dias que não te vejo,
acredita, fico sem rumo,
do amor és chama infinita,
que para mim ardes sem fumo!

Quero ser tua amorosa lenha,
teu especial carvão,
para que luz sempre tenhas!

Consome-me,
faz comigo um clarão,
para que todos,
ao longe vejam,
nosso amor em combustão!
xx


Pesquisa
Abram minha cabeça,
vede o que há em mim,
para que se estabeleça
se sou coisa boa ou ruím.

Entrai por minhas entranhas adentro,
caminhai pelo meu labirinto,
mas, cuidado,
sereis, a todo o momento,
ignorantes do que sinto.

Ai, esta ânsia de mostrar o que sou,
esta ignorância do meu ser,
sem saber por que aqui estou.

Porém,
tudo o que de mim possais ver
é só pele,
com que Alguém me embrulhou
para tudo vos esconder!


E a qualquer momento,
a qualquer hora,
quem entrar por mim adentro
pode ficar sempre de fora!
xx



Raízes
Cada um de nós, nós todos,
uns aos outros nos agarramos,
não querendo estar sós!

Tememos a solidão
e o peso das lembranças;
das saudades,
das raízes que chamam por nós
e a elas nos atamos!

Só os que vivem perto das raízes
é que são mais felizes!

Outros,
que a vida empurra para outros países,
para ganharem pão,
aprendem a dizer que são felizes na saudade
e na solidão, nas terras em que estão
Oxalá.
xx


Saudades
Saudades; lembranças
depositadas no coração,
neles guardadas,
quantas vezes esquecidas?!
são como roupas usadas,
que não mais nos são servidas!
já não servem à realidade,
são saudades de quando vestidas!

Saudade é tudo o que já não temos,
mas que ao presente nos convinha,
são como uvas, que já comemos,
duma já vindimada vinha!

Saudade é a marca dum tempo,
de algo que aconteceu,
mas que, passado o momento,
logo desapareceu!

A saudade, pode ser tão forte,
tão inculcada na mente,
que um corpo, à beira morte,
tem saudade de ter sido gente!
xx



Rosas
Num só poema
queria meter todo o amor.

Num só poema isolar o sofrimento.

Num só poema expulsar a ignorância.

Num só poema
expurgar o ódio do mundo,
mas,
um só poema é apenas um raio de sol.
um só poema é só um raio da lua,
apenas o cheiro duma rosa!

Um poema,
mesmo pleno de significado,
perde-se na cosmicidade do infinito,
é simples átomo de coisa invisível,
do pensamento do poeta,
do seu desejo eterno:
ter num só poema tudo o que é supremo,
mas, um só poema
é apenas o cheiro duma rosa!

Há tantos jardins, por aí!

Cheirem as rosas!
xx


Dentro de portas
Eram oito horas da manhã,
sabia que era hora de meu amor passar,
estava quase,
ei-lo, a gingar,
trazia o sol consigo,
que, no seu olhar,
ardia com mais fulgor!

Olhou-me,
incendiou-me!
depois, seguiu seu caminho,
eu continuei,
dentro de portas,
sózinho!

O sol brilhava na rua,
eu ardia de amor,
naquela tarde,
a caminho das horas mortas,
e eu a esperar,
devagar,
que meu amor o fogo do meu viesse apagar,
à noite, dentro de portas!
xx


Raíz dum país.
Pego num cálice de vinho do Porto,
aproximo-o dos lábios,
cheiro seu odor,
calculo sua idade,
provo do seu interior,
e eis que, por mim dentro,
entra um pouco duma cidade
e a raíz dum país!

Quando bebo um cálice de vinho do Porto,
sinto-me tão feliz,
é tão natural,
porque bebo um pouco duma cidade
e um pouco de Portugal!
xx



Um homem não nasce, faz-se
Um homem não nasce/..............faz-se
Faz-se de qualquer maneira/.....caso se queira

De dia ou na escuidão/.............. com amor ou paixão
Um homem não nasce/..............faz-se!

Quando se perde a cabeça/.......é feita à pressa!
Quando com violência/...............lá se vai a decência!

Um homem nasce a gritar/........ para logo na mãe mamar!
É um projecto de vida/........que será longa ou comprida,

Chora horas a fio/......................de fome ou de frio!
Faz perrices para vencer a dele/....Pimba- Zás nelel

Não é produto acabado/.............terá de ser educado!
Sofrerá na educação/..................com muita, muita lição!

Um homem não nasce/...............faz-se!
Ouvirá falar de ciência e cultura/.....e nas artes da usura!

Ouvirá falar de negócios/..........maneiras de matar ócios!
Irá à pesca ou à caça/...........para mostrar para que vive!

Terá de matar/...........................mentir ou roubar!
Tudo, sempre/............................a trabalhar!

Um homem não nasce/..............faz-se!
Uns fazem-se doutores/.............outros...sedutores!

Uns fazem-se financeiros/.........outros caloteiros!
Uns são santos padres/.............outros só bons abades!


Uns armam-se em boas pessoas/....outros só dizem loas!
Uns fazem-se políticos/....................outros críticos!


Há também os sábios/...............com mentiras nos lábios!
Uns vivem em mansões/.................outros em prisões!

Há ainda os cangalheiros/.............de vidas e de dinheiros!
Um homem não nasce/.................faz-se!

É fatal destino/.................................ser bom ou cretino!
Uns serão grandes senhores/..........outros só servidores!

Os homens não nascem iguais/.......são como os animais:
Uns nascem em hospitais/................outros em currais!


Uns só têm graça/ ........outros quem os sirva....de graça!
Outros, com seu fascínio/........terão seu domínio!

Um homem não nasce/......................faz-se!
Ao saír da mãe/...logo se vê se o tratam por tu ou por Você!

Os filhos dos juízes/...........................empinam os narizes!
Foi e há-de ser assim/.......................na vida e no mundo!

Uns ficam em capelas/....outros enterrados...bem fundo!
O sol nasce para todos/...........mas, ao bater no primeiro,
Logo noutro faz sombra!/
Há muito homem que só vive ao sol!
E muito que só na sombra tomba!

Um homem não nasce/.........................faz-se!

Só não se sabe que fez Deus!
Mas um deus não nasce!
FAZ-SE
xx



Ressurreição
Hoje,
vindo da escuridão,
foi mais um dia de ressurreição!


O sol me saudou,
o sol refrescou minha face,
o que sempre faz
em cada dia que nasce!

Saí da cama,
pisei chão,
abri a janela de para em par,
vi o mar,
pus-me a imaginar!

Hoje;
mais um dia da minha ressurreição,
vindo da noite, da escuridão!

Lembro-me do que ontem ainda fui,
mas de amanhã não!

Não sei quanto devo
das alegrias que de viver recebo
nem sei a quem as pagar,
pois que nem percebo
da razão do meu viver
e não sei a quem, se para tal tenho de pagar,
ou de alguém algo receber
do meu diário ressuscitar!
xx


Remendos
Pego nas palavras,
brinco,
desmancho-as,
espreito-lhes o significado,
esvazio-as,
separo seus fonemas,
mas,
depois de desfeitas,
não as sei montar,
novamente!

Com elas queria montar um poema,
que pena, paciência!

Apesar da idade,
de poeta sou ainda um menino!
Minha mãe,
para me consolar,
diz que sou um poema ao seu olhar
e que, mais tarde,
para algo servirá minha pena!

Quando crescer vou ver,
se com palavras desfeitas,
imperfeitas,
poemas consigo fazer
ou apenas remendos!
xx


Que sabes tu?

Quantos anos tens? 15-30-50-70-90?
que sabes tu? que te ensinaram?
quando nasceste eras de tudo um ignorante!!!
agora, já não és? que sabes tu?

Sim, diz o que sabes tu!

Não sabes nada?
não sabes de todos os rios,
de todas as serras,
de todos os mares,
continentes,
ilhas e glaciares?

Não sabes de quantos deuses,
religiões, papas e cardeais,
de vigaristas, de ladrões e outros mais?
não?

Não sabes de quantas nações,
presidentes e reis que fazem as leis?

Sim, diz lá, que sabes tu?

Fecha os olhos. imagina que,
apesar da tua idade de nada sabes,
porque nada te disseram
e nada vistes, que,
depois abrires os olhos,
apenas constatas que existes
e tudo ignoras!


Partirás à procura do horizonte,
que jamais ultrapassarás,
e não saberás o que nele
e além dele haverá!

Porém, vão-te contar muitas “estórias”,
verás muita ciência.
muitos dirão, que este mundo,
cheio de ignorantes,
sabe tanto como dantes!

Tu vais querer saber sempre mais,
talvez até chegues a doutor, a professor,
a cientista com conhecimento profundo,
e, quem sabe?
um dia também dirás,
alto e com voz grossa:
-“um dia vai haver o fim do mundo”

Mas, agora,
depois de teres teus olhos fechados,
sem neles nada gravado, diz lá,
apesar da tua idade, o que sabes,
o que sentes de verdade.
nada?

Deixa lá,
porque hás-de mnorrer como nasceste:
IGNORANTE!!!
mas vivendo, sempre,
em busca do tal horizonte, inultrapassável,
para saberes de quantas ilhas,
quantos mares e glaciares,
deuses, religiões e línguas o mundo tem!

Que sabes tu? (continua)


Apesar de, às vezes,
te julgares importante,
uma coisa tu sabes,
muito bem,
e nós também,
tu, realmente és um Ignorante;
um Zé-Ninguém como eu,
que apesar do que já vivi,
quase ou nada aprendi!

Que sabes tu?

Quando,
em qualquer tempestade,
descobrires e souberes medir
a força que do vento,
vê, antes,
se consegues saber o que és
e a força que tens por dentro!

Se souberes, tanto com eu,
então, saberás que
da Verdade não sabes nem metade!

Que sabes tu?
xx


Que bem que eles se dão!
O Mal ataca o Bem,
mas o Bem ataca o Mal,
tão bem que eles se atacam,
mútuamente,
desde sempre!

Desde sempre assim foi
e será sempre assim!

Por que haveria de ser diferente?

Em nome do Bem ou do Mal
desde sempre matou-se muita gente,
porque, diziam, tal era preciso,
com garantia de se ganhar o Paraíso!

O Bem e o Mal,
que bem que eles se dão
em qualquer Afeganistão,
com falta de juízo!

Uns usam armas sofisticadas,
outros usam crianças não desmamadas!

Bem e Mal,
que bem que eles se dão
em qualquer Afeganistão!
xx




Que jeito faz uma religião!
Em todo o homem, criado,
há o Bem e o Mal,
há dias em que vira diabo:
são os dias do Carnaval!

Embora parecendo mal,
o Homem ama o Pecado,
o Carnaval é seu ritual
e dele fica enfartado!

Devois vem a Quaresma;
tempo de meditação
por alguém ter morrido!

Porém,
após a ressurreição
o mundo fica na mesma;
tudo absolvido!

Que jeito faz uma religião!
xx


Que filme!
No dia dos fiéis e defuntos
fui até ao cemitério,
sentir saudade de mortos
e ver vivos na “fé juntos!”

Vi muita gente a rezar,
cabisbaixa em oração,
com expressão dorida,
e eu ali a pensar:
-“depois vamo-nos embora,
para levarmos o resto da vida,
outra vez e ainda
com a cabeça no ar!”

No cemitério,
ficou ainda, e quase só, o Padre,
a pregar,
a pregar!!

Que pena,
sermos apenas actores na vida,
dum filme,
há milhares de anos em cena!

Naquele dia,
fui até ao cemitério,
vi muita gente com ar sério,
mas eu quase que a sorrir,
por ver tanta gente
seriamente a fingir!

Que filme!
xx




Atravessamentos
Atravessa-se um rio,
ó proeza fenomenal!
passar do aquém para o além!
sensação da conquista da outra margem;
duma miragem!

Atravessamos rios,
pontes e vales no nosso caminho,
sempre para irmos mais além!
mas,
ó que sensação esquisita,
sentir-mo-nos sempre aquém
e sempre à conquista!

A eterna insatisfação!
xx


Um deserto
Sou um deserto
para encher com meus passos!

Sou uma imensidão, vazia,
para preencher
com a solidão da poesia!

Faço-o com grãos de areia,
aconchegados às dunas.
os desertos têm suas areias
e ondas de secas espumas!

É nesses desertos,
de sóis infernais,
que me perco,

Atrás dum horizonte
outro horizonte vem,
que não leva a lado algum,
sempre ao encontro da fonte,
que mate a sede que se tem,
xx


Palco
Quando surjo no palco da vida
o expectador fica expectante,
não sabe se sou actor principal,
palhaço ou simples figurante!


Quando rio não faço rir,
quando choro não me levam a sério,
não sabem se sou tenor
ou menino de coro!

A vida é um palco,
o resto é maquilhagem,
com muito, muito pó de talco!

Nem sempre quem vai na carruagem
Tem do cavalo a mesma linhangem!
xx


Não quero TGV
Quando em ti viajo, vagabundeio
e tacteio entre teu seio,
por lá fico extasiado,
tudo por mim apalpado,
fotografado pela minha retina,
que só vê beleza em cada esquina
ou nas rotundas que te circundam.

Paro em todas as tuas estações
e descanso das belezas que em ti abundam!

Tu és minha paisagem favorita,
onde passeio sem carruagem,
apenas a pé, devagar.
Não quero TGV
para entrar no túnel da tua identidade,
pois, quando entro dentro de ti, sem olhar,
tu me iluminas com tua claridade
para o melhor sítio encontrar.

Ainda me lembro da porta
por onde em ti entrei, por lá fiquei!
por vezes finjo que venho embora,
mas coisa de pouca monta,
pois só o tempo de cada minuto,
de cada hora,
que dentro de ti estou conta.

Não quero TGV para por ti passar.
quero um combóio a vapor,
que ande devagar,
em todas as tuas estações apitar,
parar e resfolegar de amor!

Não. Não quero TGV,
com a sua velocidade amor não se vê!
xx



Parecido com meu pai
Disseram-me:
“Estás a ficar parecido com teu pai”
oxalá. Quem me dera ser como ele,
sorridente,
bonacheirão,
com a vida sempre contente!
gostava muito de ler,
era um pouco distraído,
mas amigo do seu amigo!

Quem me dera ser como ele
ou que ele estivesse comigo.

Agora,
que com ele estou mais parecido,
acho que, lembrando-me dele,
como muitos dias me lembro,
ser como ele consiga
à medida que vou vivendo!

Para já, leio mais um livro,
depois talvez vá brincar!

Meu pai era como uma criança,
também tenho essa esperança
de ser como ele perante o mundo,
eu, como ele, já sei chorar!
xx



Noite de reis
Era uma vez uma noite de reis,
que, por acaso, eram pobres
e eram seis!

Foi uma ceia de reis,
com aletria, filhoses e bolo-rei,
as barrigas saltaram de alegria,
eram uns pobres, seis,
reis por um dia,
naquela noite de reis!

Adoraram o Menino,
eles, uns pobres seis,
fartaram-se de vinho,
gastaram tudo a adorar o Senhor!

No bolso nem um centavo:
sina de todo escravo!
mas, como Ele ainda era menino,
talvez nem desse por ela,
beberam mais um copinho e
apagaram-lhe a vela!

Em seguida,
naquela noite de reis, no escuro,
foram até à janela,
olharam o céu, os pobres seis,
e apontando às estrelas
exclamavam:
-“É aquela! É aquela!”
foi assim aquela noite de reis,
eram pobres,
uns pobres seis!
xx


Deixei de cortar flores
Desde que te vi, deixei de cortar flores,
passei, simplesmente, a acompanhar-te,
e, de vez em quando,
quando precisas,
quando é caso,
tua flor vou regando,
rego-te, com carinho,
porque és a minha flor,
eu quero ser teu vaso!
xx


Egos
Chegaste,
não me disseste olá
nem olhaste para mim!

Tantas vezes isso fizeste,
tantas vezes essa cena se repetia,
que quando resolveste olhar para mim
e dizeres olá,
eu já não te via nem ouvia!

Os nossos egos acabaram por ficar surdos,
.........cegos!
xx



No dia dos meus anos
No dia dos meus anos,
escondi, num jardim,
um cesto vazio,
cheio de desejos.

Ali ficou ele,
cesto vazio,
disfarçado entre flores,
absorvendo perfumes!

Algumas pétalas de rosas
nele foram caindo,
o cesto, contente,
ia sorrindo!

Veio a dona do jardim,
viu o cesto perfumado,
tirou-lhe as pétalas,
uma a uma,
sentiu-lhe os desejos,
encheu-o de beijos,
que eram para mim!

Agradeci,
continuei a cuidar das rosas da dona
e do seu jardim.

E ela?
ela cuida de mim.
xx


Gravidade
Os dois,
debaixo dum macieira;
a árvore do pecado,
eis que uma maçã caiu
e passou-lhes ao lado!

Ele tentou explicar-lhe a teoria de Newton;
a razão das coisas caírem para baixo,
não para cima!

Ela,
cansada pela sétima gravidez,
nada entendia a razão,
de ele, não sendo uma maçã,
lhe cair em cima, muitas vezes!

Foi o que aconteceu,
naquela manhã,
junto à árvore do pecado,
ele caiu-lhe em cima,
outra vez,
enquanto a mação caía ao lado!

Ela já ia na sétima gravidez,
ele não era muito bom a explicar,
apenas sabia amar!
xx


Um livro
Tenho um livro,
onde guardo apontamentos,
do que comigo acontece!

Páginas e mais páginas,
um grande livro,
mas pequeno me parece!
não tem índice de ordenação!

O marcador é meu coração,
que o folheia e, por vezes,
pára desconfiado,
com medo que alguém o leia!

Não, não é segredo,
o marcador é meu coração,
que serve para marcar onde parar!

Quem quiser ler doutra maneira,
também o pode fazer,
acompanhar o pestanejar do meu olhar,
que lê, devagar, com quebranto,
e pára, muitas vezes, de espanto!
xx


Terra redonda
Na terra redonda,
só sei, amor,
que, quando te vejo,
para ti corro, em linha recta,
em busca dum beijo
ou para te abraçar!

Depois,
Ando com teu amor
às voltas e rodopio,
constantemente,
e até dou cambalhotas!

Nesta terra redonda,
se não te vejo
para de ti um beijo buscar
ou para te abraçar,
não sei qual a direcção a tomar;
qual a direcção certa.

Só sei que,
quando te vejo,
nesta terra redonda,
corro para ti em linha recta!
xx




A ponte que a ti me liga
Antes de me deitar,
escrevo palavras,
mas não sei se,
ao acordar,
me lembrarei do que escrevi,
sei que, à noite chegado,
mais um dia vivi.

Cruzei-me com milhares de olhares,
com vários horizontes,
bebi água de várias fontes.

Antes de me deitar,
deixo meu pensamento:
o Homem,
para rios atravessar,
precisa de pontes ou
de asas como vento!

Amanhã, ao acordar,
vou ler o que escrevi,
vou lembrar-me,
que, para te encontrar,
preciso de atravessar pontes
que me ligam a ti.
xx



Usufruto
Meu corpo
serve para qualquer espírito aportar,
quando a qualquer sítio chego,
ninguém sabe quem acaba de chegar!

Quando a casa regresso,
por vezes, meu corpo, vazio,
espera que um espírito regresse,
espírito vadio,
que do meu corpo se ausenta
e anda por aí, dias e dias,
a fio!
xx



Pisaduras
Sensação de deslizar
no sulco da tua atracção,
nele ser semente escondida,
esperando passos teus,
que a pise e a enterre,
para renascer em esperança florida!

Quando preparas o rego da sementeira,
ando sempre na tua esteira.
xx


Quem ama
O amor,
quando distraído noutro amor cai
e nele acaba por se afogar,
é estranho!
que não faça nada
para se salvar!
xx



Do alto da minha altura
Do meu metro e setenta e três
acima do chão;
apenas alguns centímetros acima do Mar,
fico admirado com a minha altura
que quase ao céu consegue chegar!

Ergo as mãos e mais alto fico,
mais alto sobem orações ao infinito,
ao encontro de novas visões!

Do alto da minha altura,
com mãos erguidas do corpo,
preocupado em libertar-se da terra,
mas dizem-me que só depois de enterrado,
fechado em sepultura,
para voar ao céu ou ao inferno que o espera!

Só me falta acreditar nas mentiras da terra:
que para um corpo poder voar
tem de, primeiro,
ir a enterrar numa sepultura
onde caiba sua altura!
xx


Constatação
Fico que nem,
não sei quem.
como tu não sei porquê.

Nasci,
não sei como me formei,
talvez as estrelas me embalassem,
os ventos canções me cantassem,
amores me beijassem,
mães me acariciassem!

Brinquei, brinquei,
ainda gosto de brincar e
levar tudo a reinar,
poesia; minha linguagem,
nela me fundo, me diluo,
desço ou subo!

Talvez seja pacífico,
talvez crítico ou onírico!

Amo, também odeio,
com passividade pelo meio!

Não sei quem me fez
nem o que sou neste momento.

Costumo dizer que
alguém me continua a fazer
sem que eu ter metido aditamento!

Se alguém gosta do que digo ou faço
fico sempre com embaraço,
porque,
o que sou e o que tenho alguém mo deu!
xx


Nasci assim.
Não sou bonito,
mas há quem goste de mim,
eu sou assim!

Não sou flor que se cheire,
mas há quem de mim se abeire!

Sou mesmo assim: chocolate doce,
embrulhado em papel grosso,
porém, há quem me julgue de cetim!

Há quem me veja benjamim,
contudo,
na incerteza do que sou,
não agrado a todos nem a todos me dou.

Para quem de mim gosta sou chocolate doce,
embrulhado em papel grosso!

Que tenho? Que pareço eu?
Será que do que tenho e do que pareço
todos têm um pouco de seu?

Para ser assim,
chocolate doce,
embrulhahdo em papel grosso
e parecer de cetim,
é preciso engenho e arte!
foi o que teve
quem a este mundo me trouxe!
xx


Bonança
Há corpos que foram tempestades,
tumultuosas tormentas,
corpos de fecundidades
com amorosas ferramentas.

Agora, num mar de serenidade,
corpos lassos,
são barcos em portos fechados,
parados e quase sem vontade,
seus mastros já quebrados!
e quilhas só a baloiçar!
todavia,
ainda de olhos postos no mar,
na praia,
com esperança de voltar a navegar.

Porém, só a vontade já não alcança,
quem andou não tem para andar!
à tempestade segue-se a bonança.

Olham o passado; todo lonjura,
tempo de paixão e de amar,
agora, só querem rios de ternura.

Nos corpos,
onde mora a serenidade,
há tempo para recordar tempo
que foi tempestade,
e aguardar, na bonança,
o tempo da eternidade.
xx


Choque frontal
Um carro vai, outro vem,
um e outro a mais de cem!

Ambos a tratar de vidas,
de negócios ou d’ócios,
sem tempo a perder,
tempo é dinheiro!
todos querem chegar primeiro,
mas, de repente....choque frontal,
chega a Morte e leva vidas!

Depois, o carro fúnebre a passar,
devagaaaaaar, devagaaaaaar!!!
atrás,
carros de familiares,
com vagaaaaareees!

Porém, à vinda do cemitério,
muitos já vêm a acelerar,
outra a vez a mais de cem!
outra vez um choque,
outra vez a Morte,
alguém exclama:
-“Coitadinhos. Tiveram pouca sorte!”
porém, iam a mais de cem!

Mais tarde, novamente,
o carro fúnebre a passar,
devagaaaar, devagaaaaar,
levando quem ia a mais de cem!
a enterrar.......
lentamente!
xx


Seguir em frente olhando para trás
O futuro é estrada,
ladeada por bermas do presente,
não sabemos onde acaba
nos passos dados em frente!

Seguimos, olhando o horizonte,
buscando sempre mais além,
com esperança na fronte
de no futuro sermos alguém!

Mas, todos somos Futuro,
onde cada um seu caminho faz
na luz... ou no escuro!

Porém,
é no presente que a sabedoria jaz,
para no futuro sermos gente
temos que saber olhar para trás!
xx




Em busca de auroras
Um poeta é pescador de estrelas,
caçador de luares,
emboscador de auroras,
funde-se em sóis poentes,
nada nos glaciares,
atravessa irisadas pontes,
é onda em todos os mares!
nele o sonho dorme acordado,
autor da letra de todo o fado,
lavrador que semeia poemas de esperança
e de de amor, a todas as horas,

Um poeta é pescador de estrelas,
caçador de luares,
faz emboscadas às auroras!
xx



Deus; trabalhador cansado!
Quem inventou o descanso?
Quem inventou férias?
Quem inventou o trabalho?
Ena! Tantas perguntas!

Para mim,
quem inventou férias
foi um trabalhador cansado: Deus,
que trabalhou só seis dias
e logo descansou ao sétimo, apenas,
não consta que tenha regressado ao trabalho!

O Mundo não existia,
Deus, cansado da pasmaceira,
para se entreter,
lembrou-se de criar o Mundo,
-grande asneira-
e com grande canseira
trabalhou seis dias
e logo descansou desde o sétimo,
até hoje!

Para mim,
já reformado,
Ele anda a gastar o subsídio celestial
das benesses terrenas,
mas o melhor seria voltar,
é que neste tempo de crise
é o Diabo que anda por aí a reinar!
xx



Poema sentado
Ele por ela espera,
ela sente-se esperada,
ele só deseja a ela,
ela sente-se desejada.

O tempo passando,
e ele prali.... a esperar,
com um suspiro de vez em quando,
e ela....
ela ainda sem chegar!

A vida é feita d’esperas por quem é esperado,
quem espera,
deveras,
desespera por quem é esperado,
mas, o melhor
enquando espera e desespera,
é esperar sentado!
xx



Lírios no empedrado!
Como me sinto bem em ti,
meu Porto,
no sobe e desce do teu empedrado espiritual,
nas tuas pedras sinto tua voz forte;
voz do Norte,
de Portugal!

Não ligues a quem de ti não gosta,
tua força é o trabalho,
tu do mundo és “cosa nostra”!

Não ligues a subsídios,
preserva tua liberdade,
tua identidade,
tu sabes que nos campos,
e mesmo entre pedras,
podem nascer lírios,
livres, livres como tu,
invicta cidade!
xx



Que tal uns açoites?
A política é a ciência da palavra,
arte de muito bem prometer,
pôr o mundo melhor do que estava,
pelo menos fazendo parecer!

Em toda eleição programada,
eleito é quem soube convencer,
sabe que não lhe acontece nada
se o que prometeu ficou por fazer!

Político, de sério não tem nada,
do poder apenas tem gula,
de ficar com vida governada,
depois de ter feito muita burla!

Talvez, para arrepiar caminho
e para lhes dar más noites,
deviam ser atados ao pelourinho
e o povo dar-lhes uns açoites!
xx



Homenagem a Amália
Camões cantou, em cantos,
os Descobrimentos e
a gesta heróica portuguesa!

Camões é alma,
Espírito, poesia de Portugal,
na qual nos revemos
desde nossos tetra-avós,
mas,
se Camões é poética alma de Portugal,
Amália dele é sua voz!

Calou-se Amália,
seu corpo foi-se,
porém, em nós ficou seu eco,
que na nossa alma ressoa,
na alma de toda a terra;
de toda a terra Portugália,
de todo o português Pessoa!

Amália desapareceu da terra,
sua alma não,
sua alma não se enterra,
viverá em Portugal,
nos Portugueses,
no seu coração!
xx


Até um dia
Quantos kms faz com um litro?
Quanto gasta aos cem?

Eis a preocupação da relação
entre o gasto e a produção,
mas, eis uma nova questão:
quantos poemas se fazem
apenas com uma sopa ou com um simples pão?

Um carro não anda sem energia!

Barriga vazia faz poesia, da boa?
quanta não se faria só com um quilo de broa?

Por acaso, sim por acaso,
sabeis vós da poesia das barrigas vazias
dos poetas esqueléticos da Etiópia,
da Eritreia ou do Sudão?

Que poesia se lê nesses corpos
que se arrastam pelo chão?

As pontas dos seus ossos
são lanças que se cravam nos nossos corpos!

Terão falta de canetas?
terão falta de de tinta?
terão falta de papel
ou de informação sobre a rima dos sonetos?

Não,
se desses esqueléticos corpos,
geralmente pretos,
o espírito ainda tivesse força de expressão,
a primeira palavra, o primeiro verso que diriam
seria: -“dai-nos pão” (continua)

Povos que vivem de rastos
sem restos do nosso pão,
enquanto nós;
poetas de barrigas cheias,
fazemos poesia sobre quem
tem barriga vazia, na Eritreia, Etiópia ou Sudão,
até um dia,
até um dia,
até que povos, que nesse estado estão,
dêem tareia aos poetas de barriga cheia,

Voltando à questão inicial;
da preocupação da relação
entre o gasto e a produção,
pergunto:
quantos versos os poetas da Etiópia,
da Eritreia ou do Sudão,
não fariam com uma simples sopa,
com um simples pão?
xx



Carta para Maria.
Chegou o correio,
trouxe carta para Maria!

Maria olhou, de soslaio, desconfiou,
que raio, Maria nem ler sabia,
não podia ser, pediu-me pa a a ler,
era do patrão,
Maria estava despedida!

Maria agarrou-me a mão e
perguntou-me-“Porquê?”
era devido à reetruturação,
disse-lhe.

Maria fôra atingida,,
estava despedida!
trágico, aquele mês,
primeiro fôra o marido.
agora a sua vez,
o casal desempregado,
e agora pão para os filhos,
ainda na escola?

Maria adivinhava sarilhos,
desfalecia!

Um dia, vi Maria, de sacola,
a mendigar,
ou vi vozes a dizer:
-“vai mas é trabalhar.”

Vi Maria, a chorar,
perdida na vida,
procurava trabalho,
foram dias, meses a fio, a eito,
depois veio o Inverno, o frio,
para Maria,
com mais de cinquenta anos,
sentia que o trabalho estava já feito!

Maria continua, por aí,
a pedir trabalho ou pão,
o patrão continua em reestruturação,
dá novos empregos a futuros desenganos!

Senti-me culpado, lera aquela carta,
agora, quando ela à minha porta bate,
dou-lhe algo, que logo com os seus reparte,
depois continuo a ler o jornal,
reparo num título:
-“ Moderna tecnologia provoca desemprego,
faz-se num dia o que numa semana se fazia”

Mais tarde,
soube que Maria ficou gravemente doente,
enquanto o patrão
e a sociedade continua em reestruturação!
Mas, muitas Marias só querem trabalho
ou pão..
xx

Laços
Quando te aperto em meus braços
não é com intenção de te esmagar,
apenas quero fazer fortes laços
que não consigas deslaçar.
quanto mais te aperto,
devagar, devagarinho,
é quando estou mais certo
de estar no bom caminho!

Quando, enfim, docemente,
de mim te libertas,
fico à espera que perguntes:
-“Quando é que me apertas, novamente?”

Então,
aperto-te, novamente,
e dou-te laços, tão apertados,
que quando deslaçados
fazem laços feitos gente!
xx

Desejos deitados
Um quarto,
quatro paredes,
mobília,
noite escura,
janelas fechadas,
lá fora estrelas em vigília,
no quarto não se passa nada,
só o meu ressonar,
o ressonar dela,
o acordar para o xixi
e novamente ressonar!

Na noite coada,
chega a madrugada
e hora de levantar,
corpos acordados,
espantados, estremunhados,
olham-se, trocam beijos,
já evantados olham a cama,
nela, ainda deitados,
dormem desejos,
sem sinais de acordar,
a ressonar!
xx


Coração a correr
Quando passo à tua porta,
sinto meu coração correr,
-num passo apressado-
à tua porta quer ficar parado
num acelerado bater!

Então,
quando tu apareces,
meu coração sente um baque,
quase que desfalece
com este amor de morte!

Amor,
cuidado com teu trato,
tenho um coração muito forte,
mas que por ti tem um fraco!
xx



Roupas
Todos os dias,
visto vestes que me despem,
através delas existo
sem ser o que parecem!

Roupas, para me cobrir!
roupas, para ver o Senhor!
tenho roupas, para me vestir,
para na vida ser actor!

Roupa, escura para um funeral,
colorida para alegria,
roupa; apenas um visual
numa vida de fantasia

Sobre toda, e muita roupa,
ainda há o sobretudo,
com roupa um homem se apouca,
e com ela faz um entrudo!

A roupa só veste o corpo,
a alma anda sempre nua,
só depois do corpo morto
a alma veste luar da lua!

Todos os dias,
visto roupas que me despem,
através delas existo
seu ser o que parecem!

Minha alma, sempre despida,
não tem nada que a cubra,
talvez, só na partida,
vestida de luar mais alto suba!
xx


Amor universal
Amor acontece na vida,
nasce,
vive nos corações
com palavras e acções;
é fala de toda a alma sentida,
o amor, é só amor,

Amor é só amor
amor a mais nada obriga,
não é efémera ilusão,
amor, se amor,
é amor para toda a vida!

Amor, por vezes é sofrer,
e ele tudo se deve dar,
amor, na vida, é razão do viver.

No amor usa-se o verbo amar,
que não se deve esquecer
em todos os tempos conjugar!
xx



Tu és tu
Tu és tu,
eu sou eu,
mas meu olhar se prende no teu,
teu corpo,
de mim tão diferente,
tem muitas zona a visitar,
meu desejo é de
permanentemente,
em ti morar.

Somos tão diferentes,
mas nas diferenças nos amamos,
e nos momentos quentes do amor
por igual nos queimamos.

Quando de ti me afasto
é só para um pouco me esfriar,
para sentir novo desejo de,
em ti, novamente, me queimar.

Por isso,
para evitar o entrar e sair,
para evitar resfriados e ficar doente,
é que eu queria em ti morar,
permanentemente.

Mas tu és tu,
eu sou eu,
mas passamos a vida a dar,
a cada um, um pouco do seu,
constantemente.
xx



Esperando o acontecer
Vive-se para o acontecer,
em nós o espanto,
de não saber se nosso viver
será motivo de encanto

Em cada sol nascem sonhos,
lavamo-nos com espuma de luares,
temos pesadelos medonhos
nas pressas e nos vagares!

A vida,
ai a vida,
que vida,
a felicidade sempre mais além
ou na busca da já perdida!

Busca-se o que não se tem!

Busca-se ter vida bem vivida,

Busca-se o amor de alguém.
xx


A força do olhar
Meus braços,
para mim te arrastam,
querem agarrar-te,
mas teus olhos de mim se afastam.

À força,
nada no amor pode resultar,
só a força dum olhar
pode prender um olhar
para amar.

Com olhares doces
retornam ilusões,
reganham brilho olhos baços,
se pela força ninguém as trouxe,
caem doces, em novas paixões,
em novos e doces laços!

Amor,
Vou só usar a força,
a doçura do meu olhar,
para a mim te arrastar.
xx





Amor à nossa volta
Ah,
que ninguém queira agarrar o amor,
o amor não tem amarras!

O amor é vagabundo,
diurno, nocturno,
alegre, soturno,
por vezes nem se nota!


Que ninguém queira agarrar o Amor,
ele vai e vem
e nem sempre está
em quem pensa que o tem!


Ah,
ninguém queira agarrar o Amor,
ele anda por aí,
livre,
só livre vive sob muitas formas,
por vezes nem se nota!

Não queiram agarrar o Amor,
desejem, apenas,
sem o agarrar,
que o Amor ande, sempre,
à vossa volta.
xx