BANALIDADES NÃO
DÁ!
Nã!
Um poeta tem de
cantar o belo;
o transcendental
,
a beleza do imaterial!
Nã!
Escrever sobre banalidades não dá;
sobre desemprego,
falta de subsídios,
a falta da
habitação,
a falta de
natalidade,
a falta de saúde,
a abundância da
corrupção!
Corrupção; a palavra do ano!
Mas,
falar da
corrupção não é poético,
é banal ou talvez
tétrico!
Nã!
Corrupção também não dá!
Belo, belíssimo,
é no meio do pó
da minha rua,
ver o novo Porsche do vizinho a estrear,
com ele a
arrancar!
Ui! Que poema,
que nem dá tempo
para ler!
Os pobres da
minha rua,
sem trabalho,
sem subsídio,
sem habitação,
sem saúde,
de boca aberta, a
ver e a pó comer!
O Porsche,
num ápice
desaparecido!
Pum, catrapum!
Grande estrondo
ao longe se ouviu,
o dono do Porsche
morreu!
Fui ao funeral,
o condutor, no
caixão bem parecido!
E o Porsche?
Posch!
Poema que ninguém
leu!