Figas no Jornal de Notícias

Figas no Jornal de Notícias
Aquando da entrevista ao JN nos seus 120 anos.

Poder

Pensamento do Conde:
O poder não reside em quem pensa que manda mas sim em quem desobedece.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Fundição do amor

Do site "O NOSSO CASAMENTO" descobri que alguém (casal de noivos) colocou este meu poema na abertura do seu livro de honra.
Ainda bem que serviu para intróito duma esperança de felicidade.
Desconheço os noivos, mas desejo-lhes felicidades.
o Autor: Silvino Figueiredo
(o Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque)
"
O que escrever no livro de honra..???????? helppp

cvanes

Mensagens
89
Registado
178 dias
Quinta, 07/02/2008 - 12:24 no Fórum geral
Bom dia noivinhas de 2008!!!
Vou encomendar o meu livro de honra e a sra perguntou-me o que queria que ela escrevesse na primeira folha do livro.. um pooema.. uma dedicatória...??? nao tenho nenhuma ideia pq tb nunca vi um livro de honra... sou a 1ª do grupo a casar.. lol
Alguma das noivinhas/casadinhas me pode dar uma ideia..
Pleaseee tenho q encomendar e nao sei o q mandar escrever.
Vi este poema que gostei mto mas nao sei que mais deva escrever .. AJUDEM-ME...

FUNDIÇÃO DO AMOR

Muitas gotas d'água fazem chuva,
Muitos grãos d'areia fazem desertos,
Abraços e muitos beijos fazem amores
Trazendo-os para mais perto!

O amor tudo amarra,
Quem o tem a ele fica amarrado,
É navio que não sai da barra,
Mas navega, mesmo parado!

Amor é orvalho da manhã,
São os raios do luar,
São os beijos que o amor nos dá
De manhã até ao deitar!

O amor guia nossos passos
Para satisfazer nossos desejos
De a alguém dar muitos beijos
E cair nos seus braços!

Mas o amor, o amor real,
O perdido e fatal,
O de doces gritos e ais,
É quando dois amores se unem
E se fundem em muitos mais!

Se me puderem dar uma opiniao .... agradeço...
Bjokinhas e boa sorte nos preparativos!"


Saara

Mensagens
161
Registado
169 dias
cvanes
Quinta, 07/02/2008 - 12:43

olha o unico casamento k fui k tinha livro de honra foi este verao e nao tinha nada escrito, estava em branco e os convidados e jk fizeram a sua estreia...lolol
Axo k n é obrigatorio ter algo escrito mas eu tb vou eskrever algo no meu...e esse poema e realmente uma boa ideia.





Saara

Mensagens
161
Registado
169 dias
cvanes
Quinta, 07/02/2008 - 13:12

caso a 18 de Julho de 2009, inda falta.
eu axo que deves eskolher imagina se as frases metes no placar, metes o poema no livro ou vice versa, pk axo k repetir as coisas n fika mt bem. No entanto essas frases ficariam muito bem no livro portanto ja tou baralhada.Lol se repetires no placas e no livro, poderá ate nem ficar mal se der uma ideia de o placar ser um excerto do livro, tipo como nas apresentaçoes dos livros normais tas a ver? é capaz de n ficar mal pensando melhor. Mas o poema tb e mt bonito,devias po-lo nalgum lado.



Huntergirl

Mensagens
132
Registado
227 dias
...
Quinta, 07/02/2008 - 14:31

Se for para colocar a frase do placar, no livro... então não seria melhor colocá-la na primeira pessoa do plural...?

Tanto a frase como o poema são muito bonitos!!!

Eu vou colocar parte de uma letra de uma música e um pouco mais à frente uma outra letra de música...
mas agora fiquei balançada com o teu poema...

Já agora, sabes quem é o autor?

jinhos doces
Diana

Do Alto da Minha Altura




FALTAVAS TU
Numa noite d’estrelas
Contei uma
Duas
Vinte
Cem mil!
Contei quase um milhão
Mas faltava uma entre elas
Faltava um clarão!

O Céu estava mal iluminado!
Não estava como dantes!

Tornei a contar
A reparar
Não
Ela não estava
Faltava uma
A estrela que me interessava
Todas eram só bruma!

Todas contei
Todas vi
Mas
Numa noite d’estrelas
Basta que falte uma;
A estrela do meu amor
Para que a noite seja só bruma
E o Céu ficar sem fulgor
Se não for
Iluminada por ti;
Estrela do meu amor!























TÉRMINUS
A cada dia
-no seu términus-
A noite faz-lhe o funeral

As estrelas vão ao seu velório
Num fúnebre ritual
Depois enterram-no no escuro

Na sua campa
Na noite fria
Põem-lhe uma aurora
Como tampa!



















À NUDEZ RECATADA
Escondes-te nas vestes
Que tentam esconder teu corpo
Mas teus olhos celestes
Brilham
Bem alto
No topo!

Caminhas
Serena
Calma
Mas altiva
E mostras que
O que te vai na alma
É luz do amor
Votiva!

Passas e finges que nada vês
Mas tuas faces
Coradas como a romã
Mostram que esperas tua vez
De dares a um Adão tua maçã

O mundo fica parado
A olhar uma beleza coberta
-a passar-
A tua

Mas tua boca
Olhar e andar
Mostram que
Embora toda coberta
Tu te mostras toda nua!















JUVENTUDE
Na juventude agarra-se o sol
Agarra-se o futuro
Vive-se o presente
O mundo está nesmo ali
-à frente-
Com todo o seu esplendor

Na juventude faz-se mais gente
Agarra-se mais amor!






























COMPENETRADOS
Quando comecei a penetração
Comecei devagar
Devagar
Devagar
Devaaaagar!

Depois
Comecei a acelerar
A acelerar
A acelerar

Não tardei a voar
A voar
A voar
A flutuar
A flutuar
A flutuar

Sentia-me no céu
Sem véu
Rasgado no meu voar!

Depois aterrámos
Olhámo-nos
Éramos dois corpos suados
Vimos o amor que fizéramos
Disso ficámos compenetrados
Descansámos para ver um mapa
Para outras viagens
Para penetrar
Novamente
-a caminho do céu-
Devagar
Até atingirmos o ...flutuar!


















ESPRAIANDO-ME
Espraio-me na lonjura do desejo
Que ultrapassa tudo o que vejo

No regresso
Quando a mim regressa o desejo
Desejo que seja incerto

Se assim não fosse
Se qualquer desejo fosse
Directo a qualquer lugar
Perderia o ensejo de pôr
-por aí-
Meus desejos a vaguearem!















PARECIDO COM MEU PAI
“Estás a ficar parecido com teu pai”
Disseram-me
Oxalá

Quem me dera ser como ele
Sorridente
Bonacheirão
Com a vida sempre contente

Gostava muito de ler
Embora um pouco distraído
Mas amigo de seu amigo

Quem me dera ser como ele
Ou que ele estivesse comigo
Agora
Com ele um pouco mais parecido
Acho que
Lembrando-me dele
Como todos os dias me lembro
Ser como ele consiga
nos dias que vou vivendo

Para já
Leio mais um livro
Depois
Talvez
Com os netos vá brincar

Meu pai era como uma criança
Também tenho essa esperança
Ser como ele perante o Mundo

Eu até já sei chorar!


















AUSÊNCIA
Amanhã não estarei cá
Não estarei neste lugar
Estarei a milhas daqui
Andarei kms sem fim
Mas
Lá como cá
Nunca saberei se dentro de mim























NOITE DE REIS
Era uma vez uma noite de reis
Que
-por acaso-
eram pobres e apenas eram seis!

Com aletria
Filhoses e bolo-rei
Barrigas saltaram d’alegria

Eram uns pobres
Seis
Reis por um dia!

Adoraram o Menino
Eles
-uns pobres seis-
Fartaram-se de vinho!

Gastaram tudo
A adorar o Senhor
No bolso só uns centavos
-sina dos Senhores escravos-
Mas
Como Ele ainda era menino
Talvez nem desse por ela
Beberam mais um copinho!

Apagaram a vela
Em seguida
-naquela noite de reis-
No escuro
Foram até à janela
Olhavam o céu
-os pobres seis-
E apontando às estrelas
Exclamavam
-“É aquela, é aquela!”

Foi numa noite de reis
Eram pobres e eram seis!













INCÓGNITA
Sou lesma
Sou cavalo
Sou tartaruga
Caranguejo
Sou animal
Sou ser celestial
Sou tudo e não sou nada
Sou triste ou tenho piada
Sou coisa atónita
Enfim
Coisa incógnita!




















O MUNDO TEM CAIXA DE CORREIO?
O Mundo tem caixa de correio?
Qual a sua direcção?
Qual a sua posta restante?
Queria escrever-lhe uma carta Que começaria assim:
Querido Mundo.
Espero que te encontres
bem de saúde e em paz

Não
Nunca soube da sua direcção
Sua caixa de correio
Sua posta restante!

Todavia
Fiz mais uma tentativa
Mandei outra carta ao Mundo
À deriva!

Um dia
A carta chegou-me a casa
Devolvida

Por fora do envelope dizia:
Mundo bem de saúde
-e em paz -
Tem morada desconhecida

Hei-de fazer outra tentativa
Eu gosto do Mundo
Quem souber da sua direcção
Que me diga
Obrigado






















ROSAS TRISTES
Jardineiro triste
Que levas
Para teu jardim
Dores das tuas mágoas
E nele vertes águas de tuas lágrimas
Prepara
Dentro di
Um canteiro
Onde possas plantar flores de cheiro

Jardineiro
Se estiveres triste
Não vás ao jardim
Trata de ti primeiro











TU ÉS TU
Tu és tu
Eu sou eu
Mas meu olhar se prende no teu
No teu corpo
Tão diferente do meu
Com tantas zonas a visitar!

Meu desejo é de
Permanentemente
Em ti morar

Somos tão diferentes
Mas nas diferenças nos amamos
E nos momentos quentes do amor
Por igual nos queimámos!


Quando de ti me afasto
Para me esfriar
Sinto
Novamente
Um desejo de em ti me queimar!


Para evitar sair e entrar
Para evitar todo o esfriado
e evitar ficar doente
É que queria em ti morar
Permanentemente

Mas tu és tu
Eu sou eu




















MUSAS DIFUSAS
Não sei donde vieste
Foi duma neblina difusa
Confusa
Mas
Em breve
Tuas linhas harmoniosas
Foram musas inspiradoras
de meus versos
De minhas prosas






















MEL JÁ FEITO
Zzzz
Horas e horas
-a eito-
Voa a abelha de flor em flor
Mas
Que sorte
Eu encontrar mel
-já feito-
No favo do meu amor!

Zzzz
Que bom
Ter mel e amor sempre pronto
-para comer e lamber-
A cada refeição!

Zzzz
O único trabalho que tenho
E que com ele bem me avenho
É
-no meu voar-
Meu favo de amor guardar!







































CEIFAS
Passou mais uma noite
Esquecidos mais uns dias
Em que amor sentimos

Será que em nós
No amor entrou foice
E que
Agora
Nas noites apenas dormimos?














RUGAS
A última vez que te vi
Reparei nas tuas rugas
Lembrei-me do tempo
Em que fui teu amor eleito
Para ti amor perfeito
Mas eu de ti fugi
Não te quiz
Casei
Tu também
Foste feliz?

Ai essas rugas!
Regos de lágrimas?
Rios de fugas?

Cheguei a casa
Olhei-me ao espelho
Vi minhas rugas
no meu corpo velho
Sou feliz?

Eu
Um dia
Fui teu amor perfeito
Mas
Refizemos novos amores
do nosso amor desfeito

As rugas?
Ah! As rugas!
Regos de lágrimas
Rios de fugas.


























USUFRUTO
Apenas me sirvo de meu corpo
Para estados d’espírito aportar

Quando a qualquer sítio chego
Ninguém sabe quem acaba de chegar!

Quando a casa regresso
Por vezes com meu corpo vazio
Espero que a ele regresse
meu espírito vadio
Que de meu corpo muito se ausenta e anda por aí
Dias e dias
A fio











TU ÉS CURIOSO
Tu
Que gostas de poemas
Que lês versos dispersos
Que abres a porta
de teus sentidos
e deixas entrar
-pela porta do teu olhar-
Algo valioso
Que te faz pensar!

Tu
-que és curioso-
Que continuas a ler
Vê lá se deixas de ser preguiçoso
E começas também a escrever

O que eu escrevo é fugidio
A mensagem não é forte

Os versos
A poesia
Geralmente
Têm de versar sobre Deus
Amor
Ódio ou má fortuna da gente

Tem calma
Eu sei dos versos que queres usar
Mas deles não precisas!

Tu que gostas de poemas
Que gostas de os ler
Já tens tudo
Só falta
-um dia-
Com a pena das tuas penas
ou de alegria
começares a escrever

Afinal
Tu já és um poema!











QUEDAS
Não é o tempo da queda que conta
Mas sim
o tempo que se demora a erguer!

A queda de maior monta
É quando já não nos levantamos
Já não podemos correr
ou connosco já ninguém conta!

























NO DIA DOS MEUS ANOS
No dia dos meus anos
Escondi
Num jardim
Um cesto vazio
Cheio de desejos!

Ali ficou ele
Cesto vazio
Disfarçado entre flores
Absorvendo perfumes

Algumas pétalas de flores
nele foram caindo

O cesto
Contente
Ia sorrindo

Veio a dona do jardim
Viu o cesto perfumado
Tirou-lhe as pétalas
Uma a uma
Encheu-o de rosas
Eu sentia-as como beijos
Só para mim

Agradeci
Continuei a cuidar das rosas
Das rosas da dona e do seu jardim

Ela?
Ela cuida de mim


















ÁGUAS CORRENTES
Sinto que a água que tenho
Dá para fazer um rio
Que me liberte
Que dê para nele navegar
Mas
Ao leme do meu navio
-simples casca de noz-
Ainda não descobri meu mar
Minha foz





























SEI DE ALGUÉM
Sei de alguém
Que pensa só em alguém
Que ama só alguém
Que só quer morar nesse alguém
Possuir esse alguém
Possuir
Possuir
Dizer que é seu
Seu seu olhar
Seu seu amor
Seu seu carinho

Seu todo seu ser e todo seu ter

Que mistério tão profundo!
Quando se ama alguém
Pensa-se que se possui o mundo

Porém
Cuidado
Porque
Quando se ama só alguém
Tem-se dificuldade em amar
....a Humanidade























PARA QUE SERVE?
Para que serve um poema?

Se este poema fosse melodia
Queria que te inebriasse de alegria
Que me abrisses tua entrada
Sem pagamento de portagem

Para que serve um poema?

Ao menos
Se nele pousasses teu olhar
Talvez ele fosse pauta
Duma melodia de amor
Que pudesses tocar

D’outro modo
Fica para aqui
Inútil
Fútil!















EU NÃO ME EXPLICO
É burro quem não me percebe
Eu não dou explicações


Eu gosto do que gosto
ou não gosto

Eu não dou explicações
Não explico sensações

Quando se cai nas malhas do amor
Dispensam-se razões
É burro quem isto não percebe
Talvez porque amor não teve

Eu não me explico
Eu não dou explicações

É burro quem isto não percebe



































PECADOS
O Pecado!?
Dizei-me onde mora o Pecado
O pecado do prazer
Esse pecado quero ter!

O mundo é bom
Não falta quem queira perdoar
Mas
Primeiro é preciso pecar

Onde mora o pecado?
Quero pecar

Não falta quem queira perdoar

Os sentimentos existem
Devem-se usar



















MAIS NADA
Mais nada que a ânsia de te olhar
Mais nada
que conduzir meus passos até ti

Mais nada que ouvir teu falar
O desejo de te abraçar
e sentir teu sentir

Mais nada querer que te ter
E medo
-muito medo-
de te perder
Mas desejar encontrar-te
Segurar-te
Eternamente
Sempre este desejo quando te vejo

Um beijo é quase nada
Mas é o que quero
Mais nada


































JARDINS
Jardim do Paraíso?
Não sei o que é
Talvez
Para saber seja preciso morrer

Seja o que for
O jardim
Que imagino
Pode não ter mais nada
Basta que tenha
a flor do meu amor



















FEIA
Um dia
Vou dizer-te que não te quero
Um dia vou chamar-te feia
Mesmo muito feia

Nesse dia
Que não sei quando vai acontecer
Será sinal que estarei quase cego
Porque
Sem ti
Sem a luz do teu olhar
Ao dizer-te que não te quero
é condenar-me a morrer

Mas
Enquanto não me farto de ti
Se um dia te chamar feia
A ti
Luz do meu olhar
É com intenção que me dês mais luz à candeia do amor
Que até ti me faz guiar

Vou experimentar:
Feia
És mesmo muito feia!


























SOMBREAMENTOS
O sol
Quando me bate
Faz-me sombra dum lado
e não consegue
levar-me a toda a parte
Todo iluminado

O Sol faz-me um ser sombreado!

Só o negro da escuridão
me cobre por todo o lado!






















DEIXEI DE CORTAR FLORES
Desde que te vi
Deixei de cortar flores
Passei
Simplesmente
A acompanhar-te
E
-de de vez em quando-
Quando precisas
Quando é o caso
Tua flor vou regando

Rego-te com carinho
Porque és minha flor
Eu quero ser teu vaso!




























LOMBAS AMOROSAS

Na vastidão da planície
Que pisamos
Irrita-nos a solidão
em que nela caminhamos

Porém
Ficamos contentes quando
Em lombas d’amor tropeçamos
Nelas caímos e por lá ficamos























TU NÃO SABES O VALOR QUE TENS
Tu não sabes o valor que tens
Mas eles sabem
E tu sabes quem

Eles sabem que tens bons braços!
Bom lombo!
(quanto mais forte melhor)
Boas mãos!
Boas pernas e pés!

Tudo isso eles sabem
Mas
Por mais evidente que seja
Por mais evidente que pareça
Não lhes interessa tua cabeça!

De ti apenas fazem um número
Um aparelho
Para fazerem um novo mundo
neste mundo velho

Tu não sabes o valor que tens
Mas eles sabem
E tu sabes quem

Eles só vêem teus braços
Tuas mãos
Teu lombo
Pernas e pés
Mas bom seria que
Antes de mostrares teus braços
Mãos
Costas
Pernas e pés
Mostrasses primeiro o que és:
Mulher ou Homem
Que outros não comem












PISADURAS
Sensação de deslizar
no sulco da tua atracção
Nele ser semente escondida
Esperando passo teu
Que me pise
Que me enterre
Para renascer em esperança
Florida!

Ando sempre na tua esteira
quando preparas o sulco
da tua sementeira






















POEMA DE AMOR
Amor é estar perdido no deserto
É ter sede
Estar quase a morrer
Mas encontrar um oásis de amor
Por perto
Onde amor possa beber!


Amor é estar perdido na escuridão
Mas encontrar luz
Um grande clarão

Amor é estar perdido
Na tempestade
Mas encontrar a bonança
e a aurora duma esperança!

Amor é andar sózinho na aridez da solidão
Mas encontrar guia amoroso
Que dê o mapa do seu coração

Amor tem muitas definições
Eu tentei dar mais algumas
Pôr o sentimento do amor a nu
Mas desisto
Porque amor
Simplesmente és tu
Meu amor
























ATRAVESSAMENTOS
Atravessa-se um rio
Ó proeza fenomenal!
Passar do aquém para o além

Sensação da conquista da outra margem
Sempre uma miragem

Atravessam-se rios
Pontes e vales no caminho
Sempre para mais além

Mas
Ó que estranha sensação:
Sentirmo-nos sempre aquém!

















MEU NETO SERÁ POETA
Meu neto nasceu
Logo chorou!
Trazia já dentro de si
um mundo de tristeza?

Mas
Meu neto deu-me grande alegria
Grande e agradável surpresa
Só para mim
Ninguém mais sabia
Tomei a coisa como certa
Meu neto será poeta
Fará muita poesia

Ninguém viu
Mas meu neto para mim sorriu

Ah
Meu neto será poeta
Tenho a coisa como certa

Com um sorriso
Por dia
Fará muita poesia
Porque
A poesia é como o sol na vida
que se levanta pela manhã

Meu neto será poeta
Fará muita poesia
Com um sorriso por dia
Tenho a coisa já como certa
Com um sorriso em cada manhã












DESCOBRIMENTO
Um dia
Vão descobrir que fui eu
Que escrevi estes versos
Que me saíram das mãos
Que já acariciaram
Que já bateram
Que já mataram
Que muito abraçaram

Os versos
Que fizeram são meus
De várias feições
Como amores que passaram
Como arrefecidas paixões!

Enfim
De tudo me aconteceu

Porém
Se me perguntarem:
-“Foste tu que os fizeste?”
Responderei:
-“Quem?............ Eu?”




















LONGEVIDADE
Lembras-te amor
O amor que
Perdidamente
Gastámos nos corpos que usámos?

Vês
Amor
O estado em que estamos?

Lembras-te do fogo
Que nos consumia
e que nos queimava
na paixão do dia a dia?

Lembras-te amor
Como era durável o amor?
Mas
Se todo o amor já gastámos
Agora
Com que amor ficámos?

Como entender do amor sua longevidade?

O amor profundo nunca acaba
Porque
Se prolonga em profunda amizade
Que tudo dá sem querer nada






























ASSIM NÃO VALE
Meu Deus
Que fizestes do Homem um caçador
Logo alguém tem de ser caçado!

Depois
Apareceis Vós
“Com vosso infinito amor”
a dizer quem o culpado!

Assim não vale
Amen





















OUTRO ELE
No meu esfarrapar por dentro
No meu esfarrapar de mim
Vejo outro
Do avesso de tudo o que penso

Ao vêr-me
Depois de por dentro rasgado
Visto outra pele
Mas nunca sou eu
Se sempre do outro lado

Sou sempre outro
Outro
Que é ele

Continuo a rasgar-me
Até me encontrar
Talvez só depois de todo roto
Talvez só depois de morto





















FILHOS
Quem tem filhos
-ainda rosas em botões-
Sente-os como atilhos
Que atam corações

Os filhos
Afluentes de sentimentos
Dos rios de seus pais

Por vezes
Enchem-nos de tormentos
Com a cheia de seus ais
Com suas preocupações
Mas os filhos do amor
São as maiores inundações!














PARA QUÊ A CADA DEUS SEU ALTAR?
Se há altas montanhas sobre o mar
Então
Para quê a cada Deus seu altar?

Para quê tantas velas
se no céu há milhões d’estrelas!

Para quê erguer mãos aos céus
se altas árvores erguem seus braços!

Para quê orações e lamentos
se a Natureza tem furacões
vulcões e ventos?

Para quê a cada Deus seu altar
se dizem só um adorar?!


Os Deuses
No mundo têm muita importância

O que é de admirar
é que ainda não haja
um Deus à ignorância!

Para quê velas em cada altar
se no céu há milhões d’estrelas
a brilhar?





















SEM TEMPO
Que interessa definir o amor?

Já tem mil definições
Chega

Dizem que é isto
A quilo ou a metro
O mais importante é senti-lo
Sem tempo para o descrever!
Certo?
























CANETA DOURADA
Experimentei
Peguei numa caneta dourada
Olhei
Peguei numa folha em branco
Quis ver a diferença poética
Estética
Se a escrita teria mais sentido
Mais estética do que a do meu pobre lápis
Quase grátis
Quase sempre de bico partido!
Ah
Mas certamente
Com a caneta dourada
De tinta permanente
A escrita seria diferente
A poesia teria
Talvez
Mais sentido do que a do meu pobre lápis
Quase sempre de bico partido!

Comecei a escrever
Não tinha inspiração
Nada sentia com aquela caneta Dourada na mão

Olheia-a
Brilhava
Peguei novamente no meu lápis
De custo quase grátis
Logo a tudo deu mais sentido
Com diferente carregar no carvão
Ficando tudo mais unido:
Alma e coração!

Olhei a caneta dourada
Pousada
Talvez tivesse assinado grandes contratos
Talvez logo quebrados

Rasgados
De nada valendo a assinatura dourada!

Mais vale a dum pobre lápis
Ou até nem lápis
quando a palavra é honrada!
















































CONTRADIÇÃO
A vida
Impulso energético
Central motriz
Tem sede num ser
Num corpo
Até que a morte a vida contradiz



























NOMES
Já me têm chamado de intratável
De formidável
De crítico
Satírico
De irónico e de cómico
De sovina e de pessoa cretina
De bom rapaz e de homem de paz!
Até já me têm chamado de homem rico e viajado!
As coisas que chamam!
Simplesmente formidável!

Enfim
Que sou eu?
Eu vos digo
Sou variável e instável
Brilhante como sol
Dou luz
Mas faço sombra!
Sou claro como clara lua
Que nem sempre mostra a cara!
Sou como mar com marés vazas
ou em preia-mar!
Sou como o vento bonançoso ou tempestuoso!

Ah
Já me esquecia
Também me chamam de poeta
E ao que escrevo de poesia
Enfim
Mais uma mania!

Perdoai-lhes Senhor
Só Vós sabeis o que sou
Na minha instabilidade animal
Às vezas besta
Às vezes bestial!





















DOM
Nosso olhar é um Dom
Que vê mais alto que nossa altura
Vê sempre alguma coisa
-mais pura-
além de toda a podridão


















NEGRA ESCURIDÃO
O dia.....foi-se!
Chegou negra escuridão!
Meus olhos se fecharam no meu corpo
Deitado num colchão!

Revi o filme do dia
Vi gentes de diferentes fisionomias
Revi rostos de amigos idos
Ouvi falas de alegria
De tristeza
De chalaça

Quando chega a noite
Sua negra escuridão
tudo amordaça
Eu
Deitado no chão
Só?

Não
A meu lado um corpo amigo
Mas ele já dormia consigo
Eu fiz o mesmo
Dormi comigo

Na vida
Somos todos irmãos
Todos vivemos juntos
Mas cada um vive e dorme consigo
E nem sempre de si amigo

Quantas vezes
-deitado num colchão-
Com um corpo amigo ao lado
Não junta ao outro corpo
-à negra escuridão-
À sua solidão?!..

















A CORRER
Passamos a vida a correr!
O mundo foge-nos dos pés!
Andamos sempre a trabalhar!

Quem fez o Mundo
Fê-lo imperfeito
Pois andamos sempre a acabar
o que já devia estar feito!

Por exemplo:
Deu-nos carros
Mas não lugares para estacionar!

Mesmo num cemitério
É um caso sério!























VIVER É POESIA
Poesia pode existir num beijo
Num abraço
Num enlace
Num ramo de flores
Na confidência de amores
Na ânsia duma espera
Na loucura duma perdição
Na amizade dum amigo
Na saudade dum ente querido
Na revolta por um ideal
E nos cravos duma revolução!

Em tudo pode haver poesia
Cristo teve-a na agonia!
Porém
A verdadeira poesia é quando
-em cada manhã-
Ao acordar
Ver o sol raiar e poder-se gritar
Com alegria
-“Bom dia”!

Depois
Viver o resto do dia
é continuação do poema
Da poesia!



LÁ VAI ELA
Amanhã será dia de festa!
Ouvir-se-á tambores!
Haverá foguetes! Sairá a procissão
Onde muitos senhores irão!

Nela irão muitos andores
Muitos lavradores
Muitos industriais
Muitos impostores
Fingidos de boas gentes
Ao lado de anjinhos
Inocentes;
Joguetes dos pais!

Na procissão irão muitos abades;
Bispos de báculos;
Donos de “verdades”

Pastores
Que gostam de ver seus rebanhos a desfliar para mais tarde tosquiar!
Haverá sermões
e esmolas no saco!
Eu fico à janela e penso:
“lá vai ela!”

O facto
De que qualquer dia de festa
De qualquer procissão
É que serve para mostrar
Da sociedade
Sua podridão
Com muitos joelhos no chão!

Procissões servem apenas
para mostrar factos novos
de velhos povos!

Depois a miséria continua
e todos pedem aos “santos”
Aos andores e aos senhores
O céu e a lua!








QUANTOS HOMENS TEM O HOMEM?
O medo torna o Homem medroso
Ter coragem torna-o corajoso
Ter ousadia torna-o ousado

Odiar
Amar

Matar torna o Homem assassino
Amar torna o Homem amoroso

Dizem que Deus fez o Homem à sua semelhança!

Afinal
Quantos homens tem o Homem
Dentro de si
Que a vida do seu destino
lhe fazem mudança?

Homem tosco?
Homem artista?
Homem cego ou com vista?
Homem selvagem ou humano?

Afinal
Quantos homens tem o Homem
Dentro de si
Que provem que o Homem
não é de Deus um engano?
























BURACO
Sou um homem forte!
Mas
O meu ponto fraco
É ter um buraco
Por onde
Quando apertado
Todo me escapo!

























FLORES
Flores
Muitas flores
Que fossem no deserto um jardim

Flores
Muitas flores
Que de cores fossem um arco-íris

Flores
Muitas flores
Que dos ares fossem perfumes

Flores
Flores

Flores de muitas cores
Para muitos amores
Flores também para as dores



































OBRIGADO A UM CANIBAL
Obrigado
Por seres um canibal
Não gostares de mim!...





















UM LIVRO
Tenho um livro comigo
Onde guardo pensamentos
do que comigo acontece

São páginas e mais páginas
Mas pequeno me parece!

Não tem índice de ordenação!

Seu marcador é meu coração
Que o folheia e que
Por vezes
Pára
Desconfiado
Com medo que alguém leia!

Não
Não é segredo
Não

O marcador é meu coração
Que serve para marcar onde deve parar

Quem quiser ler
Doutra maneira
Também o pode fazer
Basta só ver o pestanejar do meu olhar e ler comigo
Ler .... mas devagar!

O coração não se pode cansar!





















CREDOR
Já fui criança
Credora de muitos afectos
Fiquei com alguns guardados
Que gastei com filhos dilectos.

Um dia
Num tempo esperado
Vou gastá-lo
Inteirinho
Com netos!




















LAVAGEM
Encostado à janela do tempo
Batem-me murros de vento

Pancadas que abrem meu peito
Fazem limpeza
Aspiram sujidade acumulada
Pó passivo que vive comigo

O vento bate na janela
De par em par

Mais fortes ainda
Me batem murros de vento
para me lavar

Fico molhado
Lavado por fora
Mas não por dentro

A água
Que de mim escorre
Lava-me de toda a sujidade

Algum pó
Que ainda fica
Fica apenas como fermento
Esperando que um dia
Venha chuva e vento
Que consigam lavar-me
Não só por fora
Mas também....por dentro



















PATERNIDADE
No dia em que fores pai
Renasce tu
Também criança
Teu filho não estará só



































SURDEZ
O silêncio da noite esmaga
Nem à noite a mim me ouço
Algo surgirá do silêncio
Ou não?

E se a noite for mais prolongada?
Que faço
Se a mim próprio não me ouço?

Ninguém me ouve
Não ouço ninguém

Quando a noite ao dia dá vez
Chega o trabalho
Muito barulho
Mas continua a surdez





























DANÇAS
Enormes desejos e paz
ecoam pela humandidade

O Homem rejubila com desejos de alegria
Ri e dança
Tanto se inberia
Que dança
Dança a dança da guerra!

A Paz só chega
quando o Homem da guerra se cansa!






























AGITADORES
Os poetas tentam dar luz às estrelas
Tentam dar brilho ao sol
Dar claridade ao luar
Os poetas são uns agitadores
Não amam a passividade
Não amam o descolorido
Não se dão ao desalento
Estão sempre em actividade
Sempre em permanente grito

Mesmo mortos
Sente-se sua radioactividade
Que se mistura no vento
Que sobe até ao Sol
Que se funde no luar
Que paira sobre a Terra
Para tudo agitar

Os poetas
Os trovadores
São uns agitadores


















CABOS
Há cabos
Que servem para amarrar navios
Correntes para tudo prender
Mas os que me prendem a ti
São tão finos
Que não dão para se ver

E
Mesmo que se partam
De ti não me apartam!


































UM DESERTO
Tenho um deserto
Para encher com meus passos

Tenho uma imensidão vazia
Para preencher com a solidão da poesia

Fálo com grãos d’areia
Aconchegados às dunas
Os desertos também têm suas areias e ondas secas d’espumas

É nesse deserto
De sóis infernais que me perco

Atrás dum horizonte
Outro horizonte vem
Que não leva a lado algum
Ao encontro da fonte
Para matar a sede que se tem





































LUZIMENTO
Se numa noite
No céu uma estrela mais virem luzir
Sabei que é dum meu amor
Que acabou por me fugir


















PALCO
Quando surjo no palco da vida
O espectador fica expectante
Não sabe se sou actor palhaço
Actor principal ou simples figurante

Quando rio não faço rir
Quando choro não me levam a sério
Não sei se sou tenor
ou menino de coro

A vida é um palco
O resto é maquilhagem
com pó de talco

































FUGA
A noite aprisionou a claridade do dia
Fechou-a na clausura da escuridão
Depois
Durante o trânsito das estrelas
Espirrou
Pelo nariz
saiu-lhe uma aurora matinal!



























EGOS
Chegaste e não me beijaste
Nem me disseste olá
Nem olhaste para mim

Tantas vezes isso fizeste
Tantas vezes a cena se repetia!

Eu não queria
Mas quando quizeste
Quando resolveste olhar para mim
e dizeres olá
Eu já não te ouvia

Os nossos egos
acabaram por ficar surdos
....cegos



























SOU GENTE
Não me ames
Não me queiras
Não me desejes
Não posso ser de ninguém
nem de mim

Eu não sou coisa
Não sou brinde
Não sou brinquedo
Nem bola de berlinde

Sou de todos
Mas ninguém me tem
A ninguém me dou

Receio deixar de ser o que sou
e ser de quem me possa usar
e abusar
Por isso
Não me dou
Sou gente






















ESCREVER NO LUAR
Há tanto tempo
Que não escrevo na virgindade do luar nem tenho tido tempo
Para escrever no vento!

Fantástico
Como eu
No tempo
Não tenho tempo!

Mas
O luar continua a ter tempo
Para me iluminar
Dar-me suas brancas folhas de claridade
De virgindade

Tenho que ter tempo de escrever
Basta de ingratidão
Depois levá-las-à o vento!

Quando chegarem à Lua
Será lua nova
Virar-me-à a cara e lerá
...na escuridão!




















ABSURDO
O absurdo do infinito constante
Que
Não cabe no limite do nosso olhar
Que
Não pode focar o ponto convergente da aurora
Que desde sempre existiu
Com a noite coexistiu
Só olhares limitados
pensam o contrário

Só olham para os pés
Olham para o lado errado
Errar human est



















SENTIR
Entre teu partir e chegar
Há sempre um tempo de ficar
Todo um tempo de sentir
Um permanente bem estar

Depois do teu partir
Fica vazio o tempo
Cheio de tempo para sentir
Por ti todo o tempo


Se
Para lá do tempo
Mais tempo houvesse
Levaria lembrança de ti
Para que todo meu tempo enchesse

Num tempo de chegar
Até ao tempo de partir
Há um tempo de gravar
o tempo de sentir


Teu amor
Por mim ficou em mim gravado
Num tempo que foi de amar
Pode todo o tempo ter um cabo
Mas sem tempo de o apagar




















QUEM AMA
O amor
Quando distraído
Noutro amor cai
E nele acaba por se afogar

Estranho
É que não faça nada
para se salvar!


























PRECE
Segue as linhas de quem te escreve
Cavalga-lhe o sexto sentido de quem diz que amor nunca teve
Mas que se sente enriquecido

De esperar amor quase exaurido
Lê estas linhas como uma prece
De querer viver só contigo
Mas tal ainda não acontece

As linhas estão a chegar ao fim
Nelas
O que eu quero dizer
É que sejas só para mim

Se tal vier a acontecer
Serás a flor do meu jardim
Que não deixarei fenecer



























AVES
Um açor
Um gavião
Uma águia
Um falcão
Um condor
Voam
Planam
Sustentados pela leveza da sua natureza!

Miram-nos
Fotografam-nos

Nós
Presas na terra sem asas para voar
Esperando
Simples alvos
Esperando ser salvos

As aves
Essas salvas já estão
Porque
já mais perto do céu













AS CHAVES
Olho para ti
Mas não vejo teu corpo
Fico parado a olhar teu olhar
Porta d’entrada da tua sala d’estar
Eu fico
À espera que me dês as chaves
Para nela entrar
As chaves baloiçam
Bailam
Tilintam nos teus lábios

Olho para ti
Mas não te vejo Porque
Cego de desejo
À espera de
A qualquer momento
Entrar por ti dentro

Não importa se às cabeçadas
Contra as paredes do teu ser
Às apalpadelas
até encontrar onde ficar

Fofa como és
Em ti descansarei da cabeça aos pés

Sim
Pressinto
Que uma vez em ti
Por dentro
Terei amoroso tratamento
Só estou á espera que me dês as chaves
Que baloiçam nos teus lábios
E a qualquer momento
entrar por ti dentro

Amor
....dá-me as chaves

















FOTO
Olho a tua foto
Estás linda

Ah
Esse teu lindo e doce olhar
Para sempre impresso na cartolina

Agora
Estás ficando mais velha
Já não gostas de te ver
Mas ambos gostamos da tua foto
De rapariga
Ainda menina

Tu podes envelhecer
Mas menina nunca deixarás de ser





















SER TUA LENHA TEU CARVÃO
Amor
Não olhes tanto para as estrelas
Porque elas te podem copiar
Tu brilhas mais que elas
De ti não tiram seu olhar

Nos dias em que não te vejo
Acredita que fico sem rumo
Amor
És infinita chama
Que em mim arde
Pura
Sem fumo

Quero ser só tua lenha
Teu especial carvão
Para que nosso amor luz tenha

Amor
Consome-me
Faz comigo grande clarão
Para que
Quem do amor desdenha
Veja amor em combustão
























DESGRAÇA
A sorte só nos bate à porta
quando nos sentimos desgraçados






































POEMA D’ÁGUA
É tão grande a distância que nos separa
Tão larga a água deste rio
Que terra de frutos alaga
Mas deixa meu coração vazio!

Amor
Eu hei-de fazer um grande barco
Para larga água atravessar
e no teu porto atracar

Não me importa que o rio corra Para o mar
E que entre na grande maré
Não

Nada disso me vai importar
O nome do meu barco será “Santa Fé”
Para que possas embarcar
E navegar
Nna nossa vida
Com ventos de proa ou à ré




























NÃO MATEMÁTICO
Um poeta não é um matemático
Apenas olhas as estrelas
Não as conta


















PUBLICIDADE
Pego nuna caneta
Cheia de tinta
Que sobre sentimentos sarrabisca

Agora mesmo um sentimento pinta
dos muitos que tem em lista

Escolhe um
Que de mim sai
De rompante da caneta sai
e faz pum
Estrondo sonante
Pois só faz sentido
se o Mundo souber a verdade:
Que por ti ando perdido

Por isso
Faço este poema de publicidade






































BANDEJA
Não sou contra a Igreja

O que me irrita
É quando numa igreja entro
e logo tropeço numa bandeja
quando num Deus me concentro!



























DENTRO DE PORTAS
Dentro de portas
Eu olhava para fora

Eram oito horas da manhã
Horas d’ela passar
Estava quase

Ei-la
Meu amor
Traz o sol no seu olhar
Que dardeja com fulgor

Olhou-me
Incendiou-me
Depois seguiu seu caminho
Eu continuei dentro de portas
Sózinho

O sol ainda brilhava na rua
Eu ardia de amor
Esperando o chegar das horas mortas
Até que meu amor viesse apagar
Meu fogo
Dentro de portas































INACABADO
Tu
Ser inacabado
Não busques em mim a perfeição
Tu não a tens
Eu também não
Desconfia de quem diz que a tem
Ninguém a tem
Ninguém é perfeito
Mas
Dizê-lo dá muito jeito
A quem já nasceu imperfeito












ISENTA DE RENDA
Se a poesia em mim morasse
Isentava-a de toda a renda
Só queria que me emprestasse
um pouco como prenda

Tu toda a poesia mereces

Quem me dera a saber fazer
Para te lembrar que te esqueces
de quem tua poesia quer ser

Poesia são palavras
Palavras-as leva-as o vento
com suas fortes rajadas
Mas
Poesia é sentimento
Que nem fortes rajadas
arrancam meu intento

Embora poesia não faça
Tento tudo fazer
Para que
Em todo o momento possa
Com poesia te prender


Se a poesia em mim morasse
Isentava-a de toda a renda
Só queria que me emprestasse
um pouco como como prenda






















PARES
No amor
Há uma coisa para meditar
Nem todos casais fazem amor
Apenas fazem par


































VELHICE
Velhice é filme
Gravação da infância
Da puberdade
Da idade adulta
Com banda sonora da saudade
Cada lembrança de nós
em nós exulta!

Rebobinado o filme
-expectadores das nossas imagens-
Ficamos quase sem fala
Perdidos em perdidas miragens
Sózinhos na sala!
Guerreiros rendidos
Sem poder de luta!




























O BRILHO DAS ESTRELAS
No Natal
Devemos das estrelas seu brilho copiar
Para que no nosso olhar haja mais luz
Para que
Com mais claridade
Se veja o brilho do Menino Jesus
E desejar que nunca
um outro menino veja outro
crucificado na cruz
-já homem-
A chorar























PARECENÇAS
Não

Sei que pareço
Mas não sou ateu
Muitos dizem:
-“Meu Deus”

De modos que
cada um tem o seu!

Eu
Se pareço ateu
Se pareço um sem Deus
É porque não sei do meu
Mas não falta quem me bata à porta a tentar vender-me um!

Afinal
Um Deus que jeito faz?
Dizem que ajuda a ser bom rapaz!

Eu
Se pareço ateu
Um sem Deus
É porque não sei do meu!

Comprar um?
Não
Não compro nenhum

Dizem que Deus só há um
Mas cada um tem o seu
Eu não sei do meu!
Ou serei eu?





















NORMALMENTE
Quem não é senhor de si
quer ser senhor da gente!


























NÃO QUERO TGV
Quando em ti viajo/vagabundeio/
tacteio entre teu seio/ por lá fico extasiado/tudo por mim apalpado/
fotografado por minha retina/que em ti só vê beleza/ em cada esquina ou nas rotundas/ que te circundam/páro em todas as tuas estações/e descanso das belezas
que em ti abundam!

Tu és minha paisagem/favorita/onde passeio sem carruagem/apenas a pé
/devagar/
não quero TGV/ para entrar no túnel da tua identidade/pois quando entro dentro de ti/sem olhar/tu todo me iluminas/
com tua claridade/para o melhor sítio encontrarAinda me lembro da porta/por onde em ti entrei/
e por lá fiquei/por vezes finjo que venho cá fora/finjo que de ti venho embora/mas é coisa de pouca monta/pois que /só o tempo de cada minuto/de cada hora/que dentro de ti estou/é que conta/não quero TGV/para por ti passar/quero um combóio a vapor/
que ande devagar/em todas as tuas estações apitar/parar e resfolegar de amor/
não quero T.G.V.










AMÁLIA
(Voz da Portugália)


Camões cantou
Em cantos
Os descobrimentos;
Gesta heróica portuguesa

Camões;
A Alma
O Espírito
A poesia de Portugal
Na qual nos revemos
Desde nossos tetra –avós
Mas
Se Camões é a Alma de Portugal
Amália é dele sua voz!

A voz de Amália calou-se
Seu corpo foi-se
Mas em nós ficou seu eco
Na alma de toda a Portugália
Que na saudade tem um tecto!






























JUÍZES
Quem tem o poder de julgar
E dita sentenças
Passa a vida a penar nas penas
Que para outros pensa


























RESPONDE-ME
Escrevo-te
Num impulso
Como se corta uma flor
Para dar a um amor

Escrevo-te
Não me preocupo com palavras
Precocupo-me
Sim
É com o envelope

Acredita
É verdade

Escrevo-te
Para saber
Quando o abrires
Do nível da tua ansiedade

Fico na expectativa
De que me respondas
Com verdade
De modo amoroso
A todo o galope


























HORAS
Para marcar o tempo
Um relógio é preciso
Ou a contagem de sol a sol
Mas o tempo
Em que se perde o siso
É o tempo debaixo dum lençol!
Que horas são?
Foi bom!
























GRAVIDADE
Os dois debaixo duma macieira
Árvore do pecado
Eis que uma maçã caiu
e passou-lhes ao lado

Ele tentava explicar-lhe
a teoria da gravidade
A razão das coisas caírem para baixo
Não para cima

Ela
Que já ia na sétima gravidez
Não percebia a razão
Porque não sendo ele uma maçã
Em cima lhe caía
Muitas vezes!

Foi o que aconteceu
Naquela manhã
Junto à àrvore do pecado

Ele caiu-lhe em cima
Outra vez
Enquanto outra maçã caía ao lado

Ela ia já na sétima gravidez
Ele não era muito bom a explicar
Apenas sabia amar
























RAZÃO DE SER
As coisas acontecem no tempo do acontecer
Tão programadas parecem
Que nunca parecem anormais
Mas sim com razão de ser


































SINFONIA
Quando dois corpos se encontram
E se encontram loucos de paixão
São dois corpos que nunca contam
que algum deles diga não

E como se bajulam e roçagam!
E como se esfregam e lambuzam!
Nunca se cansam do que fazem
nem das ferramentas que usam!

Quando dois corpos se desunem
Da paixão que os unia
Logo amorosamente se iludem
Esperando que amores de um dia
Eternamente nos corpos durem
Em perfeita sinfonia


















PEDAÇO DE PAPEL COMO ANEL
Amor
Queria-te fazer-te um poema
Que além de doces palavras
fosse expressão da minha paixão

Queria que o poema
-simples pedaço de papel-
A ti me unisse como um anel

Mas
Sempre preso ao teu olhar
Não consigo fazer o poema
dos meus desejos
Porque perco tempo
Cobrindo-te de beijos

Mas
Um dia
Prometo
Hei-de fazer-te um poema
De alegria
Talvez em soneto
Desde o dia em que te vi

Enquanto não te dou um anel
Dou-te este pedaço de papel
Poema de amor
Só para ti



















LAÇOS
Quando te aperto em meus braços
Não é com intenção de te esmagar
Apenas quero fazer fortes laços
Que não possas deslaçar

Quanto mais te aperto
Devagar
Devagarinho
É quando estou mais certo
De estar no bom caminho

Quando
Enfim
De mim te libertas
Fico sempre à espera
Que me perguntes:
-“Quando é que
novamente me apertas?”

Então
Aperto-te
Novamente

Dou-te laços
-tão apertados-
Que quando deslaçados
Fazem outros laços
Feitos gente!























UMA LÁGRIMA
Quando uma lágrima cai no chão
A terra fica surpresa
É salgada
Não presta para pão
Apenas para a tristeza!





































CORRIDAS
Quando me quiseste agarrar
Eu
À tua frente fugia
Não conseguia imaginar
Que fugindo
Para ti corria

Finalmente parei
Nos agarrámos
Casámos

Agora
Na vida
Corremos os dois
Para qualquer sítio que vamos
Depois
Agarrados
Por lá ficamos
























CONTAS
Pelas minhas contas
Pelas noites todas somadas
Pelas manhãs nubladas
Pelos dias cinzentos
O resultado final é que
De facto o céu é azul
Mas só por momentos!


É chato
Está mal





































SIRVAM-SE
Tenho um armazém de sentimentos
Sirvam-se
Faço grandes descontos
Grandes saldos
Preços especiais para revenda
São sentimentos
Com garantia
Apenas exigem alguma manutenção
Por exemplo:
Tenho sentimentos de amor
Que apenas requerem um beijo por dia
E que são alegria
de qualquer coração
Sirvam-se




















MORTE DO SILÊNCIO
Um grito é um acto de guerra
Mata a paz do silêncio


















































POR MINUTOS
O dia tem 24 horas
Mas os tempos dos amores são curtos
Eternos são os desejos de amar
Nem que seja só por minutos!





























AMARRADOS
Cada vez que estamos juntos
Os corpos estão separados
Não conseguimos perceber
Porque é que estamos
tão amarrados
Mesmo com corpos separados!

























INCERTEZA
Buscam-me formoso na palavra
Mas coitada da minha enxada
Incerta cava em terra lavrada
Incertas pancadas na busca da cava perfeita
Na busca da perfeição
da tal formosura
Que outros terão
Para perfeita colheita
Eu não

Sou vale
Sou montanha
Floresta
Abismo
Deserto
De tudo um pouco
Que me fazem total

Sou incerto
Com a incerteza por perto




































POUCO TEMPO
Tenho pouco tempo
Tenho pouco espaço
Pouco mostro de mim
Mas
Basta-me que vejas
o que por ti faço





























SEDUÇÃO
A sedução da combinação azul
Sob uma saia amarela
Podia ser cinzenta
Cor da tempestade
Mas
O que quis ver
Toda a tarde
Era o que havia dentro dela
Debaixo da combinação
Azul com saia amarela


















































DESEJOS
As flores no jardim
As ondas no mar
No teu peito a arfar
Oxalá que por mim




















APERTA-ME
Aperta-me
Diz-me que me amas
Sei que são só palavras
Mas também chaves
Para aquilo que quero
Para aquilo que sabes








































SOL COMPANHEIRO
Quando o Sol me acompanha
Na estrada do meu caminho
Não há nada que me detenha
Sei que não estou sozinho
O Sol me aquece
Eu dele sou lenha

Quando ele se vai deitar
Em mim continua a brilhar
Não há nada que me detenha

























PASSOS DE DANÇA
Enormes desejos de paz
ecoam pela Humanidade

Mas são só hipocrisia
O Homem rejubila
com tais desejos
Até ri e dança danças na terra
Mas
As danças com que se inebria
É com danças da guerra

A Paz só chega
Quando
-já cansado-
Nas danças da guerra
Dá passos atrás


































DE REPENTE
Só quando o olhar noutro bate
De repente
É que
De repente
Se vê que o Amor bateu na gente



















À SOFIA
Sofia,
dizes que não consegues fazer poesia!

Então,
por pura abstracção,
participa nesta lição,
adormece sob o lençol,
embrulha-te na densa escuridão,
fecha os olhos,
verás,
sim verás um imenso clrarão;
é a aurora!

Não tenhas medo,
pede boleia a um raio de sol,
sobe nele até ao meio-dia,
funde-te no plasma incandescente,
serás dele parte
Que ilumina o mundo e a gente!

Ao desceres pela escarpa da tarde,
ao chegares ao cais do sol poente,
desembarca e conta-nos as lembranças da viagem;
paisagens das planícies,
dos desertos,
das montanhas,
rios,
mares e mares de gente,
gentes iluminadas por raios, refulgentes!
Sofia

Certamente
Vais-te lembrar dum ente especial
em quem bateu teu raio celestial




Então,
Sofia,
quem te ouvir,
ouvirá certamente poesia!

Para treinar,
No clarear de cada aurora,
pede boleia a um raio de sol!

À noite,
tenta ser luar,
tão brilhante,
que se veja,
que a poesia da Sofia ilumine,
como um sol!
É o que se deseja.







































TEMPO DE CRIAÇÃO
Noites e dias
Passados que são
Fazem o tempo das crias de toda a criação

O tempo roda
Nós nele rodamos
Faz-nos fora de moda no tempo Que nele passamos
O tempo não nasce nem morre
Só espera que tudo por ele passe
Passar por ele ele não pode

O tempo faz dias e anos
Faz o nascer e o morrer
No tempo nós sempre estamos
Até ao tempo de o esquecer!

O tempo é tempo
Sem que em todo tempo se saiba
De alguém ter tido intento
de nele meter mais tempo
do que nele caiba
Mas
Como se sabe
Há quem diga que há coisas fora do tempo
Mas não
Está tudo dentro










CUIDADO
À noite o corpo arrefece
À noite é sempre mais fria
Á noite o amor é mais quente
Mais louco
Loucura que a noite alumia

Na noite
Feéricas estrelas
Faróis ardentes
Fecham os olhos
Vendo outras estrelas ardentes
Nascentes

Se o amor tudo incendeia
Se por ele o Home luta
Se por ele o Home mata
Haja cuidado em cada candeia
Que
De amor não ficando exausta
Pinga amor....
Que se farta













RELIGIÃO
Esta coisa da religião/
não é como muita gente pensa/
os Deuses aos homens nada dão /os homens é que lhes enchem a despensa!

Há um “Deus” visível /que existe/
que se dá pelo nome Estado/
que apesar do que dá e assiste/
é muito odiado!

Temos esta contradição/aos Deuses/que não nos dão pão/
muito damos e amamos!

Ao Estado/que de bom dá algo/
muito odiamos/e fugimos aos impostos/depois/
da religião precisamos/
para nos pormos a salvo!

Ai esta contradição
ao “Deus” Estado odiar/
e amar quem/
neste mundo nos pôs a penar

Esta coisa da religião/
não é como se pensa/
deuses aos homens não dão pão/
os homens é que lhes enchem a despensa!

Embora vivam nos espaços celestes/na terra tem o celeiro/
seus representantes/de longas vestes/vão-nos sacando dinheiro








NEURÓNIOS
Dentro de mim
Há algo que é divino
Há algo que não domino
Tenho deuses e demónios
Que dominam meus neurónios

Quando me dizem o que sou
Em tal não me reconheço
Eu sou eu só por dentro
Por fora não
Por fora sou como rajadas do vento

Bem tento
Mas não me domino
É que em mim há algo divino

Deuses e demónios
dominam meus neurónios
São patrões das minhas sensações
Mas sempre tudo só por fora
Porque ....Por dentro
Sou sempre eu

Se me fazem parecer
Em algum momento
Aquilo que não pareço
Em tal não me reconheço

Eu sou sempre eu
Mas só por dentro!















REDONDO
A Terra é redonda!
Os olhos redondos são!
O tempo no relógio é redondo!
A propósito
Que horas são?

Quando é que
-cairei redondo-
Para ficar ao comprido
....no chão?






























IMAGINAI
Fechai os os olhos
Imaginai uma planície
Imaginai uma montanha
O mar
Imaginai um mágico
Imaginai-me antes de ter nascido
Imaginai-me depois de morto
Não olheis a realidade
Isso não vale
Deus foi
É imaginativo
Aliás
Dizem que com Ele sou parecido
E Ele parecido comigo
Ninguém O vê
Imanginai-O


DESERTO
O deserto não presta para nele se morar
Só tem areia
Nem árvores onde mijar
Os homens são como cães
Gostam de apontar numa direcção
Contra um muro
Contra um poste

Mas
Mijar e pregar no deserto
Ou para o boneco
Também há quem goste





PARAR O TEMPO
Parasse eu o tempo
Tivesse eu esse poder
Com ele não saberia que fazer!
Parar na infância?
Antes de ter nascido?
Na idade adulta?
Antes ou depois de pagar o IRS?
Que vos parece?
Nem sempre fazemos o que nos apetece!

Se eu parasse o tempo
Mas qual tempo?
O passado?
O presente?
O futuro?

Não
Um dia ele vai parar
Mas só para mim
É mehor que seja à sorte
Como à sorte é a morte!




ESCREVER NO TEMPO
Escrevo numa página do tempo
Escrevo na de hoje

Amanhã
Dirão que escrevi ontem
Mas eu
Escrevo sempre no presente
Mesmo do tempo ausente

Do tempo
Que amanhã virá
Sem saber se vou escrever
Por isso
Escrevo agora e já
Enquanto tempo há





LEMBRANÇAS
Meus pais
Que já morreram
No mundo me plantaram

Pediram
que deles me lembrasse
E das lágrimas
Que de todos já correram

Dos filhos que nasceram
Pelos pais que morreram
E de lhes pôr uma vela
Que nunca se apagasse

Eu
No meu viver
Procuro ser uma vela
Por eles sempre a arder





VEM AÍ O NATAL
Vem aí O Natal
Vem das terras do frio
Puxam-no suas renas
Hesita a direcção a tomar
Sul?
Norte?
Este?
Oeste?

Para todo o lado que vá
Há milhares de crianças a chorar
Inundados só de penas
Sem nada que lhes reste

Choram num mundo
Que não lhes presta
Esperando
Uma vez por ano
A esperança que lhes resta

Talvez
Um sorriso
Sim
A prenda dum sorriso
Já é uma festa!

Depois
Pai Natal regressa às terras frias

As crianças
Após sua partida
Ficam......frias
A pergunta é:
Por que não fica o Pai Natal
Com elas
Todos os dias?




SURPRESA
Surpreeendei-vos com a paciência
Escutai o silêncio da vossa existência
O barulho da vossa revolta

Pensais que existis
Neste mundo que vos esmaga
Que vos apaga
Que vos torna vis

Surpreendei-vos a pensar
Mesmo sem motivo aparente
Chegareis à mesma questão
À eterna interrogação:
Sereis mesmo gente?



COMO UM COMPUTADOR
Sou como um computador
Tenho disco rígido
Milhões de bytes de memória
Onde
Desde a infância tudo gravado

O disco foi ficando carregado
Não dá mais para gravar!

Ainda bem
Sou como um computador
Que tudo pode apagar

É um sistema prático
Com a idade é automático
Nem preciso na tecla carregar

Sou como um computador
Tudo se pode apagar

Ui
Coisas
Que em mim já apaguei
Que já nem sei!





DISCUSSÃO
Discutiam

A discussão aqueceu

-“Deus existe”
Dizia um
-“Não existe”
Dizia outro

Deus ouvia e ria
Depois---desapareceu!
Até hoje ninguém O viu!
Ninguém mais soube Dele
Embora não falte quem
Ao ver uma sombra
Um clarão
Ouvir um trovão
Logo diga:
“É Ele, é Ele”
Deus ri-se

Embora
Nunca ninguém o visse
Não falta quem
Por ele fale
Para o Mundo enganar!

Mas
Se Deus ainda existir
Se ainda viver
Então
Quando acabar de rir
Muitos vão chorar!



DOMINÓ
As palavras são como pedras de dominó
Casam umas com outras
Uma palavra só não faz sentido
Só a outras ligada
faz o sentido pretendido

As palavras sós
são como pedras de dominó separadas
Como pessoas sós
À espera de
com outras serem casadas

Toda a gente fica contente
quando alguém quer a nossa pedra

Para fazer dominó ou gente.


BUSCADOR DE SINS
Quando te vi logo te busquei
Foi em particular
Depois Oficialmente
Foi no altar

À noite repetiste o sim
e...até te despiste!
Gostei e outros sins busquei..

Quando saía do ninho
E a ele regressava
Logo teus sins buscava
Buscava amor e carinho

Outras vezes
Por tudo e por nada
Levava com nãos

Quão difícil é
-para quem pede sim-
Levar com um não

Eu pedindo sim
Mas tu
Em ar de brincadeira
Dizendo não

Vou vivendo
Sempre em busca dos teus sins
Tu com a cabeça vais dizendo não
Mas sim com o coração

Temos andado no jogo do não e do sim a vida inteira
Mas....amor
Diz lá sim
Deixa-te de brincadeiras!




HOMEM SÓ
Multidões de homens sós
Grupos de homens sós
Comunidades de homens sós
Sociedades de homens sós
Companhias de homens sós
Irmandades de homens sós
Associações de homens sós
Países de homens sós

O Homem
Porque só
Noutros busca identidade

O Homem
Porque só
Noutros busca unidade

O homem só
D’outros exige solidariedade
Mas
Mesmo estando com outros
continua a sentir-se só

O Homem
Só com outros vive acompanhado
Que vivem dentro de si
E o acompanham para todo o lado
Até ficar deitado

Desfeito em em pó

Um homem nasce só
Vive só
Morre só









ATÉ QUE ME LEVA CARONTE
Amor
Fizemos amor!
Nossos corpos ficaram suados!
Dei-te beijos nos teus lábios salgados!

Amor
Minha sede de amor
em teus lábios bebe!

Ah
Mas porque será?

Quem isto percebe?:

Quanto mais amor em ti bebo
mais fico cheio de sede!

Mas
Até que me leve Caronte
Amor
Hei-de sempre beber amor
nos lábios da tua fonte.





QUE FIZERAM DE MIM?
Nasci
Que fizeram de mim?

Logo que comcei a andar
logo me quiseram guiar!

Logo que comecei a falar
não dizia o que queria
Logo alguém me dizia:
-“Menino. Isso não se diz.
Isso não se faz.

Quando comecei a olhar o Sol
Com olhos meus
Logo se apressavam a dizer:
-“O Sol é obra de Deus”

Pela sociedade fui catequizado
Nela enquadrado
“Sempre para meu bem”, diziam.

Queriam que eu fosse feliz
Mas tendo sempre em conta o:
-“Isso não se faz. Isso não se diz”

Tive que ir a muita missa
Porém
Depressa vi mais além
Vi que neste mundo de cobiça
Há muito catequizado
Em forma de quadrado
Que só ama o vintém!

Tive que ser domesticado
Parecer um ser social
Até que cheguei a ser

Mas no meu interior
Na minha alma
Sou ainda muito selvagem
Vendo
No mundo actual
Muito homem tornar-se mais estupor
Mais animal
Com tanta aprendizagem!

Nasci
Depois que fizeram de mim?

Já com certa idade
Com olhar já baço
Respondo:
Não sei quem me fez assim
Mas agora
Finjo que sou eu que me faço!


EM MUITOS ME DIVIDIRAM
Depois de por dois ter sido feito
Nasci eu
Feito um

Só depois de muito tempo nascido
é que me encontrei comigo

Depois
Os dois
Às vezes até mais
Andamos por aí
Num mundo perdido
Procurando nossos pais
Que nos fizeram
Mas que partiram

Muito nos queriam
Por isso em muitos me dividiram!

Agora
Em mim
Andamos juntos
Até que cada um seja nenhum



UMA ESTRELA
Pego na tua mão
Que logo me faz a ligação ao fluído!
Tudo começa a fazer sentido
A matéria fica à deriva
A deixar-se ir!

Que fazer com minha mão na tua?
Que fazer com a tua na minha?

A pele das mãos está nua!

Os corpos têm roupa
Cada vez menos
Cada vez mais pouca!

A minha mão na tua!
A pele das nossas mãos está nua!

Desejo de algum pudor
Mas teu corpo
Quase nu
Cubro-o com beijos de amor!

Mais tarde
Vestes teu corpo com roupa
Mas
Eu sei que
Em qualquer ocasião
Minhas mãos de pele nua
tornará tua roupa pouca!
Ficarás nua
Bela
Espelho da Lua
Reflexo duma estrela!



OBRA EM TRÊS MINUTOS
Estes dias fui a Espanha
Palavra de honra que fui!

Almocei em Valença
Continuei para Vigo
De regresso vim por Tui
Naquele dia histórico
Em que a Vigo fui.
Mas escutai o que vos digo:
A Tui chegado
Entrei num café
Para descansar um bocado
Tomei meia de leite
Perguntei pela toillete
Para me “aliviar”!

Já na sanita sentado
De repente fiquei às escuras
A luz tinha-se apagado!

Então
Reparei
Era um sistema automático
Prático
O cliente só tinha três minutos Para se “aliviar”!
Em caso de prolongamento
Tinha que se levantar do assento
Ao interruptor chegar e dar à luz
Novamente!
É indecente!

-“Merda para estes espanhóis”
Pensei!

Ainda hoje
Penso naquele dia
Em que a Espanha fui
E quando no regresso passei por Tui
Linda cidade
Onde no Café Central entrei
Mas à vontade não “obrei”!

Só o fiz em Portugal
Cheio de contentamento
Onde se faz merda
Livremente
Sem limite de tempo!



HOJE SAÍ DE CASA
Hoje saí de casa
Fui passear
Levei-me comigo
Mas de mim não saí
Até que te vi
Até que contigo me encontrei.

Então
Saí de mim
Em ti entrei

Agora
Em ti moro
De ti não quero saír
Não me importo de pagar renda
De todo o andar
Que a ti me prenda.




VIGÍLIA
Estou de vigília
Adivinho seu florir
Sua alvura...
Pura!

É por alturas de Janeiro seu florir primeiro!

Quando uma aparece
Logo me parece
que o frio de Janeiro aquece!

Depois vem outra e outra
e formam para uma noiva
uma touca!

Ali fica ela
Mostrando sua virgindade
No meu jardim

Depois
Vai-se despindo
Pétala a pétala
Imagino que só para mim!

Como gosto de ti
Minha magnólia branca!

Tu sabes que tua beleza
e teu toucado de alvura me espantam!

Enquanto estiveres no meu jardim
far-te-ei poemas assim
E mesmo tuas pétalas brancas
Caídas no chão
Aquecem sempre
o frio do Janeiro do meu coração!




METEOROLOGIA
Meteorologia;
Ciência que prevê o tempo que irá fazer!

Amanhã fará sol
Depois o céu ficará nublado
Depois virão dias de ir a praias
Tempo sem calças
Sem saias
Virão tempestades
Furacões
Trovões
De tudo falam as previsões!

Ah
A meteorologia prevê o tempo que vai fazer
Eu sou um inapto
De mim sinais não capto!

Não sei quando farei bom tempo
Nem quando estarei em sofrimento
Não sei quando a dor
Não sei quando o amor
Não sei quando rir e chorar
Nem sei quando de mim sairei
em dias de bom tempo!

Que bom a meteorologia
Que prevê o tempo!





Que pena que não preveja
o que se passa por mim dentro!
Só queria saber dos dias de sol
Porque dias de chuva
Ou de tempo nublado
Já estou habituado!

Já agora
-que tenho netos-
Gostaria de saber
como vão correr os afectos.



POMBOS POÉTICOS
À SOLTA

Poeta que se diz livre
É livre em suas acções
Só em liberdade vive
Não quer
Nem impõe condições

Se mendiga ser publicado
Lá vai sua liberdade
Logo fica condicionado
E também sua verdade

Poeta livre cria versos
Como pombos em pombal
Depois solta-os
Dispersos
No céu azul de Portugal

Se o poema for profundo
Forte
Para do pombal alar
Talvez dê a volta ao mundo
Sem nunca ao pombal voltar

O poeta não se importa
Nem fica por eles
No pombal
A assobiar




HOJE É DOMINGO
Hoje é Domingo!
Será que no céu vê-se a diferença?
Será que os astros fecham para descanso?
Deus fez o Mundo em sete dias!!
O sétimo foi para descansar
Dizem!
Mas o mundo não descansa
Nem pára seu rodar!
Hoje é Domingo
Dizem!
Mas
Nada disso diz o céu estrelado
Nem o gelo do polo Norte
Nem a areia do deserto.
Os elementos não sabem de dias marcados
Medir tempo de vida e de morte!

Todavia
O Homem diz que sabe
Inventou o tempo
O Calendário
Onde marca o passado
O presente e o futuro
Calendarizados em dias
Horas e minutos!

Algures
Em algum lado,
Quem fez o Universo
Ou dele diz-se Senhor
Olha o relógio e exclama:
-com ar cansado-
-“Brincadeira de putos”

O tempo só existe no tempo
que o Homem pensa!




ATÉ UM DIA
Quantos kms se fazem com um litro?
Quanto gasta um carro aos cem?
Eis a precocupação da relação
entre o gasto e a produção!
Mas
Eis uma nova questão:
Quantos poemas se fazem com uma sopa ou um simples pão?

Por acaso
Sim por acaso
Conheceis vós a poesia dos corpos esqueléticos da Etiópia
Da Eritreia ou do Sudão?

Qe poesia se lê nesses corpos
Que se arrastam pelo chão?

Cada um dos seus ossos é lança
Que se espeta em nossos corpos!

Terão os poetas falta de canetas?
Terão falta de tinta?
Falta de papel
ou de informação sobre a rima dos sonetos?
Não
Se desses esqueléticos corpos o espírito tivesse
Ainda força de expressão
A única palavra que diria seria: Pão.



Povos que vivem de rastos
Sem restos do nosso pão!
Enquanto nós
Poetas de barriga cheia
Fazemos poesia sobre barrigas vazias da Eritreia
Da Etiópia ou do Sudão!
Até um dia
Até um dia
Até que povos
Que nesse estado estão
Dêem tareia aos de barriga cheia!

Mas
Voltando à questão inicial
da preocupação da relação
entre o gasto e a produção
Pergunto:
-“ Quantos versos não se fariam com uma simples sopa
ou um simples pão?







ALMA
No nosso corpo
Que nos tocou
Vive nossa alma
Nossa aliada

A minha
A todo o lado que vou
Vai também na jornada.

O corpo com ela fica vaidoso
Ela melhora seu aspecto
Em seu olhar luminoso
é a alma que brilha decerto!

A alma é sócia maioritária
na sociedade da nossa vida
Dá-nos asas para voar!

O corpo é capela mortuária
Donde um dia dará a partida
Para mais alto voar!

Depois
Os corpos
Cá em baixo
Só dela ficam a falar!






AJUDEM
Milhões de homens e mulheres fazem Amor
Mas
Ainda muito está por fazer

Por favor
Ajudem









PENA
Tenho uma pena
No bolso da camisa
Bem escondida no peito
Que passa despercebida
Mas sempre a jeito!
Atrás o coração
Que bate
Lentamente


Do meu peito
Com jeito
Tiro a pena
E escrevo
A eito penas que são minhas
E outras que me dão
Que de toda a gente são!

Quando guardo minha pena
Outra vez fica escondida
A bater fica meu coração
À espera
Que fiquem escritas suas penas
E outras que lhe dão!

Dá jeito à minha pena
Estar no bolso da camisa
Junto ao peito
E passar despercebida!

Não gosta de se mostrar
Apenas dá a autorização
Para que leiam suas penas
E outras que lhe dão
Que são as penas da vida!




DO ALTO DA MINHA ALTURA
Do meu metro e setenta e três Acima do chão,
-alguns centímetros acima do mar-
Fico admirado
Com a minha dimensão
Que quase ao céu consegue chegar!

Ergo as mãos e mais alto fico
Mais alto sobem minhas orações
Até ao infinito
Ao encontro de novas visões!

Do alto da minha altura
Mãos erguidas
Deste corpo preocupado
Em libertar-se da terra
Mas dizem que só depois de enterrado
Fechado em sepultura
Para voar ao céu ou ao inferno
Que o espera!

Só me falta acreditar
Nas mentiras da terra:
Que para um corpo voar
Tem de
Primeiro
Ir a enterrar na sepultura
Onde caiba a sua altura!




SEM SABER
Sou rio ou planicíe?
Sou vale ou montanha?

Em mim se sobe
Se desce ou se corre
ou se fica parado?

Sou um ser inacabado
Sempre em construção!

O que fui já não sou
Onde estive não estou
Mas
Afinal que sou?

Sou ponto de interrogação
A que não dão respostas!
Não me importo.
Tenho sorte
Porque
Há muito tempo
Sei que a solução da vida é ....
..........a morte!

Em mim a vida se lembra
Ou a morte se esquece?

Hei-de morrer a perguntar!
Hei-de morrer sem saber!



ETERNIDADE
Eu páro uma coisa
Um gesto
Páro um momento,
Páro um passo
Eu próprio fico parado
Mas só o corpo pára
Não o pensamento
Que anda para trás e para a frente
-como o vento-
Vai para todo o lado
Não o ontrolo
Nem o consigo parar

Mesmo a dormir
Continua a sonhar!

Eu páro uma coisa
Um gesto
Um movimento
Mas não consigo parar
o pensamento
Nem o tempo!

O tempo
Esse sim
Acaba com o pensamento
Tudo apaga
Porque o tempo sempre corre
Nunca pára nem morre
Seu nome:
ETERNIDADE!




VELHA ESPERANÇA
Deus está velho
Caquéctico!
Aliás
Desde sempre o mostraram velho
Com grandes barbas
Nunca o mostraram criança!

Deus sempre falou por tempestades
Por trovões
Com voz forte e rouca!
O que eu queria era um Deus jovem
Cheio de esperança
Porque num Deus
Já velho
A esperança é pouca!

Ao menos
Se Deus cortasse as barbas
Ficaria com melhor aspecto
E já que teve um filho
Seria bom
Também
Que tivesse um neto



DUALIDADE
Dentro de mim há algo de divino
Algo que não domino:
Deuses e demónios!
Não controlo seus neurónios!
Sou ser que não conheço!

Tenho a sensação
de ser sempre o que não pareço!

O que dizem que sou
em tal não me reconheço!

Eu só sou eu por dentro
Por fora não
Bem tento
Porém não me domino!

Em mim há algo de divino
De demoníaco
Com a mão com que me assino
Nunca sei no que me fico!



LAÇOS DE AMIZADE
(a uma caneta oferecida)

Primeiro fiz um traço
Admirei sua finura
Depois
Dei-lhe continuidade
Em traços direitos
Ou em curvatura
Mas seus traços não me diziam nada!

Então
Decidi
Dos traços fazer letras
com a caneta oferecida
Que passaram a ser laços
Que laçam a amizade na vida
A outros oferecida!





POESIA É MAIS ALÉM
Poesia é mais do que se lê
Ultrapassa tudo o que se tem
Vê sempre mais além!

Não sendo nada em si mesma
A poesia em tudo poesia vê
E é na vida
O melhor que a vida tem:
Sempre Páscoa após Quaresma!



AMOSTRAS DE LOUCOS
Homem bom
Homem equilibrado
Homem amoroso
Homem de senso comum
Homem pacífico
Homem fraterno
Justo

Homens
Que dentro de si
Tenham estes todos
Há poucos

A maioria
Apenas amostra de fanáticos
De guerreiros
De loucos
Que ao mundo muito mal fazem
Embora
De vez em quando
Falem de paz

Falam
Falam




DESCULPA TIMOR
(processo da independência)

Desculpa Timor
Um dia fomos ter contigo
Mas nem sempre teus amigos
Desculpa Timor

Foram séculos de convivência
Conheceste nossa civilização
D’outros tivemos independência
Mas tu Timor ainda não
Mas vais ter
Porque tu
Sem independência
Sem Liberdade não sabes viver!

Desculpa Timor
Agora sabemos a verdade:
Após séculos de convivência
Copiaste nosso amor à liberdade
E queres
-como nós-
Tua independência!

Longe um do outro
Mas perto do coração
Tu sabes Timor
Que Portugal
Não outro
É país teu irmão!

Desculpa Timor este amor






UM CALHAR
Não me peçam para rimar
Para tudo ficar em rima
A poesia livre
Não pode ter métrica
Simétrica
Na sua veia poética
Por que aprisioná-la em quadras Rimadas
Forçadas?
O rio corra sempre a direito?
O mar não é ondulado?
Estradas sem curvas?

Não
A poesia pode ser em zig-zag
Pode ser em qualquer altura
Pode nem ter luar
Nem só amor ou paixão cantar

Não
A poesia pode ser tudo ou nada

De repente
O poeta pode até exclamar:
-“Merda para quem poesia perfeita escreve
Mas que nada se percebe”

Perfeita na forma
Que rima
Rima forçada
Mas de sentido....nada
Que para nada serve!
A poesia quer-se livre
Pode até rimar
Mas isso
Num poeta é um calhar!

A poesia quer-se livre
Como o poeta
Que nela vive!




POETAS VINDE AO PORTO
Poetas
Vinde ao Porto
Entrai pelo Porto dentro
Ancorai vosso espírito e alma
Neste porto seguro
De boa amarração

Vêde
Que nas suas pedras
Na sua nobre cantaria
Reside a força duma nação!

Poetas
Tragam musas vestidas
de inspiração
Tragam olhos para o espanto
Tudo é preciso
Para cantar seu encanto!

Em cada esquina
Em cada ruela do velho Porto
Sente-se um todo espiritual

Ireis perceber
Vós
Poetas
Que daqui cresceu Portugal





UM IR E VIR
Sei que te quero
Anseio por te ver
De repente apareces tu
Ó mar!
Como estás grande!
Cada vez maior!

Vejo-te de verde turqueza
Ou de azul marinho
Tens sempre beleza
De bravo ou de mansinho!

Já te imaginei menino
Sempre te conheci com voz grossa
Rouca!
Bem tento
Mas nunca te entendo
Nas horas que te fico a olhar
Me perdendo!


Vir e voltar também faço
Para ver se te entendo
Nas horas que para ti fico a olhar
Me perdendo!

Tu sempre a falar
A bramar
A murejar
Eu sempre calado
A escutar tua líquida sinfonia
Até pegar na roupa
E voltar a ti
Um dia
Para te escutar
Para te ver....Ó mar
Para ver se te entendo
Nas horas que em ti
...........me vou perdendo!






PASSOS PERDIDOS
Andar
Mesmo à volta dum claustro
Mesmo num pequeno terreiro
Logo que seja ao ar livre
Um homem sente-se inteiro!

Andar é viver
Parar é morrer!

Parar
Só para dormir ou descansar
Mas logo se volta ao caminho
Ou se anda num quintal
Ou num jardim
Ou se vai numa excursão!.

Os passos que o Homem dá
Vão em todas as direcções
Por vezes até corre
Não gosta de ficar parado
Prefere morrer de pé!

Porém
Muito homem
No seu caminhar
Só anda a rastejar
Sempre com joelhos feridos
Porque os passos que na vida dá
Em todas as direcções
São sempre passos perdidos!







AMOR É COISA ESTRANHA
O amor é coisa estranha
Nunca se sabe onde o encontrar!
O amor é o que se arranja
Não o que se quer arranjar!











DÓI QUANDO SE DESCE
Quando se sobe ao monte do amor
Há alegria na subida
Porém
Quando se inicia a descida
Sente-se o amargo da dor

Amor é força que nos arrasta
Que nos leva ao sabor da corrente
Ninguém dele se afasta
Quando chama pela gente

Há quem tarde a ser chamado
E viva só na solidão
Do amor ignorado
Até que venha um coração
Chamar
Em alto brado
Para a corrente da paixão

Quem sobe ao monte do amor
Tem alegria na subida
Mas muita dor na descida

O melhor remédio
-que há-
É mesmo ficar por lá!


ESCURIDÃO
Saio dum mina de ouro
De prata
De diamantes
Cá fora entro na escuridão
Só o sol do amor brilha
O resto não







SEM PICOS
As rosas são flores
Que cheiram bem
São como os amores
Perdoam-se os picos que têm!




POEMA SENTADO
Ele por ela espera
Ela sente-se esperada
Ele só deseja a ela
Ela sente-se desejada

O tempo vai passando
E ele para ali.....a esperar
Com suspiros...de vez em quando
E ela...
Ela sem chegar!

A vida é feita de esperas
por quem é esperado

Quem espera
Espera deveras
Que por quem espera seja chegado
Mas
O melhor
Enquanto espera
E não desespera
É esperar sentado








TRANSACÇÃO
O amor não se compra
Nem se vende.
Se alguém de um amor abusa
Toda a gente logo entende
Que só dum corpo abusa





REFORMA AMOROSA
O amor tem tempo de vida activa
enquanto a vidas dá forma
O amor tem um período de vida
O resto é vida de:....reforma!...





MISTURA
Em mim corre um rio
Por ele sobem marés do mar
Na barra meu rio fica retido
Esperando nele entrar

Em mim corre um rio d’amor
Liberto de qualquer amarra
Mas de dor fica parado
se meu amor não abre a barra

Horas e horas tem-na fechada
Retendo-me em altas fráguas
Eu fico esperando a entrada

Porém
O fim de todas as mágoas
É quando na sua barra
Por mim inundada
Ficam juntas nossas águas!


























OBSTÁCULOS
As coisas que vemos
Toldam a límpida visão
dos horizontes
Que buscamos
Mas
Os obstáculos
Muitas vezes
Somos nós que os plantamos!






GRÃO SIMPLES
Quão difícil é ser simples!
Grão levado pelos ventos
Por tempestades

Grão no ar
Que aspira a tempo de bonança
Para
Em paz no ar pairar
Até que outro vento sopre
Forte
E o grão ande por aí
Às voltas
Por ares revolvido
Restando-lhe esperança
De céu azul
E de um dia aterrar
E germinar em jardim florido!






ERÓTICAMENTE
Um poema erótico
tem algo de positivo
Algo de hipnótico
Mexe com algo sensitivo
Abaixo do umbigo!



COISAS IMPERFEITAS
As coisas
Quando feitas
Nunca são perfeitas

Olhai o mundo
Obra “perfeita” dum deus
Que o fez imperfeito
O Homem também

Até este momento
tem estado em acabamento!





SILÊNCIO
Peguei no silêncio
Preenchi-o com palavras Pomposas
Estrondosas
Esotéricas e hermeticas
Depois li
Só no finalé que
No ilêncio
Poesia senti

Assim
Calado
É quando o silêncio
Transformado em poesia
É mais admirado

Por isso se diz
Que o melhor é o calado!




REVOLUÇÕES
Hoje resignei-me
Calei-me
Acalmai-me
Sujeitei-me
Fui cadinho frio para mutações

Depois
Novamente
Revoltei-me

Se assim não fosse
Se tudo sempre bem estivesse
Não haveria revoluções

O Homem é cadinho
Para todas as mutações



INTEMPORAL
O tempo não existe
Nós nele é que existimos
E achamos sempre triste
Quando dele partimos!








ENGANOS
Mares e Oceanos!
O Homem é um mar de enganos!
Engana a tristeza
Engana a alegria
Engana a fome
Engana a sede
Engana a sede
Engana o amor
Engana a poesia
Fica noite em pleno dia
Engana o amigo

Engana-se a ele próprio
e a quem dorme consigo!

Engana sua outra metade
A mulher
A tal que lhe deu uma maçã
O primeiro engano
Depois repetido
Todos os dias do ano!

Assim há-de ser
Mas um homem é só meio engano
O outro a mulher
Alguém assim quiz
Dizem que Deus assim quer
Mas
Talvez Deus se tenha enganado
Porque o Homem
É um engano
Tão grande
Ainda tão animal
Que dá para pensar
Um bom bocado
Se Deus se enganou
Ou se pelo Homem foi enganado
Ou
Pior ainda
Se Deus não é um engano total


SOBRAM-ME SÁBADOS
Antes
Vivia com ela
Depois
Fui d’outra namorado
Porém
Para ela era sagrado o Sábado
Dia de vistar minha mãe

Na despedida
Olhava-me pela janela!

Já viúva
Fazia-lhe visitas fugazes
Conversávamos da vida

Quantas vezes
“Já pelos cabelos”
Escutava conselhos para rapazes
-“Já vais?”
Perguntava quando eu me levantava
“Foi visita de médico”
Continuava
“Vai ´`a tua vida
Mas devagar
Dá beijinhos às meninas
Recomendava da janela debruçada
E acenava!
Chegado a casa
Entregava as recordações
Enquanto na minha mãe pensava
Sózinha naquela casa
Com suas solidões!

De lá não queria sair
Lá queria sentir meu pai
No coração!





Após anos de dor
Lá partiu ela
Para junto de seu amor!



Desde então
Para mim
Algo ficou desacertado

Com a morte de minha mãe
Em cada semana sobra-me um Sábado

Falta-me sempre alguém:
A mãe
Que já não se tem!




ESPELHO
Devolves meu corpo
Devolves meus gestos
És máquina de fotocópias virtuais!

Fotocopias homens
Coisas
Animais
Não és criativo
Nada acrescentas a cada ser
Nada respondes
Não és eco do espírito

Porém
Reconheço
Quando para ti olho
Que
Sem nada dizeres
Muito fica dito
Do passado
Em cada corpo escrito!

Dizes muito da diferença
Entre passado presente
Em ti contemplado!

Há quem goste
Frente ti
De fazer amor
Na vida ter-te presente
Mulhões olham-te de frente!

Tu mostra-nos olheiras
Sardas
Rugas
Dizes sempre a verdade!




És apenas vidro
Com costas de prata
Devolves sempre a nossa imgem
Que o tempo em nós gasta!

Quando para ti se olha
Da vida vê-se miragem!

Em ti muitos se pintam
Ficam pintados
Enganados
Mascarados!

Sem ti não há certeza de nada!
És um simples espelho
Um aparelho
Para ti ninguém olha quando baço
Ou quando um homem já velho
Que é o que sou
E como tu já que faço
Porque eu
Da vida
De mim
Já sou um espelho!

Tu um simples espelho
Simples aparelho

Eu
Um Homem
Espelho da vida
Que me consome



ROMARIAS
Locais
Onde os “romeus”
Encontram as “marias”

ESTADO
Organismo instável



RELIGIÃO
Sabão que tira nódoas das almas



PRISÃO
Templo
Onde se adora a liberdade!




POLÍTICA
Arte de enganar o próximo



CORAÇÃO BOMBA
Há uma bomba dentro de nós
A que chamam coração
Pronta para amorosa explosão
Que faz ouvir sua voz
Que gostaríamos de comandar
Que corrre em várias direcções
Sem saber -muitas vezes-
Qual tomar!

Que corre e acelera!
Quase estoura em paixões
De acordo com emoções do corpo Onde mora
Vida fora!

Luta contra seu patrão
Que tem e que usa a cabeça
-muitas vezes-
E ao coração diz não
Mas o coração não quer quem lhe desobedeça!

Quando isso acontece
Fica revoltado
Amarfanhado
Sua grande dor
Pode até originar um baque
Num ataque
E se
Num esforço poético
Tiver forças para ir ao médico
Dizer da sua maleita
Ouvirá sempre a mesma receita:
Tomar dose dobrada de amor
Ter alguma compreensão
Pela cabeça
Que não quer
Que o coração de males padeça!




Como remate
Bom seria
Seria poesia
Mas utopia
Que entre eles houvesse empate
Nem sempre a cabeça
Fazer o coração sofrer
Nem este fazer
Sempre
O que lhe apetecer

Bom seria
Que o coração não fosse só bomba
Pronta para explosão
Mas sim dentro de nós só pomba
Apenas doce

Oxalá que fosse





TARDE DO CEDO
A tarde é cedo
Não tarda que tarde
O vento quedo
A fogueira que arde

A noite é cedo
Estrelas no alto
A aurora
Com medo
Da noite dá salto

Cedo é a manhã
O Sol se levanta
Faz-se o que atrasado está
No final o dia tem janta

Mas
No final da tarde
Ainda tudo se amanha
No fial da fogueira
Que arde
Só cinza se apanha!





SONHOS
Um poeta falou de seus sonhos
Deles fez versos
De imagens belas
Que
Como sabeis
São belas pinturas em telas
Expostas em nossas mentes
Sem sabermos de seus autores
Nem de quem os pinceis!

O sonhos são realidades virtuais

O poeta falou de seus sonhos
Quando acabou reinou a realidade
Fiquei admirado
Ou talvez não
Porque
O poeta continuou a sonhar
Desta vez acordado

Como sabeis
O poeta é um mestre do sonho
Da ilusão
Às vezes mesmo a dormir
Quase sempre a fingir

Já dizia um nosso poeta maior
Que um poeta é um fingidor

O poeta
Que falou de sonhos
É um sonhador!
Não admira que sonhe
Mesmo acordado
E fale de amor









OS PÁSSAROS
Os pássaros levantam-se com a neblina
Fundem-se em claridade
e voam até ao zénite do sol
e pela escarpa da tarde!

No seu voar
desenham aéreos traços
Que nosssas almas invejam
e aonde não chegam nossos braços

Lentamente
Com o cair da tarde
Surge o espanto do poente
e espaçam seu cantar

Depois
Eil-los
Às árvores chegarem
Pousarem sob seu manto
Onde se adejam e se beijam

Depois
Cada um
Em seu canto
Sob folhas como lençol
Dormem ao rol
Até que chegue nova aurora
Nova neblina
Para ao céu subirem
Azul acima









NÃO
Não
Não
Não
Não
Não

Que lindo poema sai das mãos
Quando escrevem meia dúzia de nãos!

Não
Não
Não
Não
Não
Não

O mundo não estaria como está
se não houvesse tantos a dizer sim
....como há!

Não
Não
Não
Não
Não
Não

Meia dúzias de nãos
são bons para os sins melhorar!

O mundo estaria melhor
se não houvesse tantos a dizer sim......como há!

Não é verdade?
Sim.




SE FOSSE COERENTE
Se o Homem fosse coerente
Pregava e praticava

Se o Homem fosse coerente
Dizia sempre a verdade

Se o Homem fosse coerente
Noutro via seu irmão
Mas não

Se fosse coerente
Repartia o excedente!

Se se se

Mas o Homem é o que é
Ainda rasteja
Embora andando de pé!

Tem o sentido da força
Do poder
Do querer
Da glória e da posse!

Só é amigo dos seus
Inimigo dos demais
E sem muitos ais
Tira-lhes a “tosse”
Ou deixa-os morrer
Depois
Diz-se à “imagem de Deus”

Ai se o Homem fosse coerente
Seria HOMEM
Realmente
E finalmente gente
com outra HISTÓRIA!





NADA
Hoje
Não me apetece falar de nada
Mesmo de nada
De nadinha!

Nem do ar quero falar!

Desligo o cérebro
Que felicidade
O Nada!

Nada é uma folha em branco
Nada é um rio de leito seco
Um lápis sem traços
Um deserto sem areia
Um mar morto
Uma mulher sem amor
Nada é um estupor!

Nada é um homem mudo
Um Etc também é um nada
Tudo é fazer da vida Entrudo!

É bom falar de......nada
Não saber de.........nada
Não fazer............. nada
Não ouvir..............nada

Importante é dar importância
À nossa ignorância
Permanente na vida
Porque
Assim
Treinamos para o NADA
Que seremos
Eternamente!







NÃO CONCORDANTE
É Dom dum poeta
estar sempre num lugar
Mas estar em parte incerta!

O poeta vive num mundo
Cheio de gente
Mas
Sabe que seus poemas
Sua verdade
Não agrada a meio mundo

Mas um poeta não é um ser concordante

Porém
Tem a liberdade
de dizer mais verdade
A quem
-não a querendo-
Quer ser ignorante
Ignorante no mundo
E na mentira se perdendo

Um poeta
Com a ignorância
Não é um ser concordante





O AR QUE NOS SEPARA
Entre o que digo e o que dizes
Entre o que penso e o que pensas
Entre o que fazes e o que faço
Há a diferença do espaço
Que nos separa
e o ar que respiramos

Mas
O que nos completa
E nos amarra
É quando
-no mesmo ar-
Nos completamos

Que bom é
Para amar
Quando juntamos o mesmo ar!





MAR
Um poeta é um rio
Que da fonte até à foz
Segue firme sem desvio
Na firmeza da sua voz

Na torrente de sentimentos
Leva aluviões de poemas
De tormentos e lamentos
Que d’outros
De suas são penas

Um poeta
No seu versejar
Ama a paz
Amor e a Natureza
Odeia e reprova o guerrear

Um poeta nasce
Para cantar a beleza
E tudo que seja de louvar
Se for preciso
Deixa ser um pequeno rio
Para ser um grande mar








QUE INTERESSAM AS PALAVRAS?
Que interessam as palavras?
Que interessa o que outros dizem?
Que interessa o que digo?
O que se fez e que disse
Pertence tudo ao passado!

O que interessa
A valer
Levar a cabo
É o futuro
O que falta fazer
Sem muitas palavras e pregações!

O que falta fazer
É calar os canhões

Que interessa ao Homem
Saber falar e escrever?

Pois que
Sabendo ler e escrever
Não sendo mais analfabeto
Há milhões de anos que a guerra não cala
Continuando
-com boa falas-
A cometer loucos actos!

Que interessam as palavras?
Mais importante são....os factos



MEU OLHAR BATEU
Meu olhar bateu no teu
O teu bateu no meu
Houve amorosa colisão
Amoroso acidente!

Custou o nosso falar
Mas depois falámos
Conversámos sobre a gente
Só para disfarçar
À espera do acontecer!

Eu sentia-te perdida
Tuas faces com rubor
Então ganhei coragem
Chamei-te querida
Hesitás-te
Depois chamáste-me amor!

Naquela tarde
Serena
Ainda fomos ao cinema
Vimos o filme
Com paixão!

Quando saímos
Começámos a fazer cenas de amor
Do nosso amoroso filme
Que
Durante a nossa vida
Continua em exibição!




AMIZADE
Amizade não é matéria
Mas dela deriva
Corre em cada artéria
de toda a alma sentida!

Elos que a amizade une
não formam só uma corrente
Pois quando a amizade nos liga
e funde
Nela funde a gente!

Desde um simples abraço
Um beijo
Um aperto de mão
São elos do mesmo laço

Os amigos
Que de amigos são
E que à amizade dão espaço
Sempre mais amigos serão!


FLOR DO AMOR
Se eu fosse jardineiro
Trataria
Em lugar primeiro
No meu jardim
As flores do meu amor
Mas queria uma só para mim

À minha volta teria flores
Certamente que muito bonitas
Mas só às flores do meu amor
Que fossem bonitas
E quando chegasse o Estio
Com quase tudo a secar
Eu para meu amor seria rio
Para suas flores regar

Para meu amor
Seu amor desabrochar
Horas
Dias e meses a fio
Basta
Com rega de gota a gota
Saber regar!

Sendo eu
De amor um rio
Água nunca vai faltar!







TERRA REDONDA
Nesta terra redonda
Não sei que direcção tomar
Só sei
Quando te vejo
Corro em linha recta para amar
E andar contigo às voltas!
Rodopio
Tontamente
E até dou cambalhotas!

Nesta terra redonda
Se não te vejo
Se não te beijo
Fico perdido
Sem saber
Qual direcção tomar
Para estar contigo!
Mas
Quando te vejo
Nesta terra redonda
Logo corro em linha recta
Para estar contigo e tu comigo
Umbigo com umbigo
na busca dum beijo

Depois andamos às voltas
e até damos cambalhotas



CAÍR DE TARDE
Hoje
Sei como foi o dia de hoje
Mas
De ontem já não me lembro
Esqueci a frescura da sua manhã
O zénite de seu meio dia
O cair da sua tarde
E do dia seu cabo!

Agora
Já no meio da noite deitado
Quase não entendo
O porquê de esperar
Que outra manhã
Vá aparecendo!

Espero sempre outro amnahã
Que não sei como será!

Dias como os que já vivi
Todos já esqueci!

Espero sempre outro amanhã
Para acrescentar ao meu passsado!

Olhando para mim
Para meu corporal estado
Nele
O que é latente
É que sou todo um passado
Que ainda anda no presente

Todos os passos que dou
São para somar aos passados!









QUE DIA TÃO BONITO!
Hoje está um dia tão bonito!
Um dia de calor
Céu azul
Limpo
Intróito para o amor
Que por ti sinto!

Passarinhos a chilrear!
Terra com seu húmus a ressumar!

Hoje
Em túmulos não quero pensar

Hoje não é dia para se morrer
Melhor seja quando chover!

Morrer?
Só se for por meu amor morrer
E nele sempre viver!

Uf!
Que calor meu amor!

Estou a ver
Que
Contigo tenho que arrefecer!











VIAJAR
Era jovem
Sonhava
Gostava de viajar
Mas só em sonhos!

Sem dinheiro para viagens
Começou a a “viajar”
A drogar-se!
Começou a embarcar nas “trips”
Deram-lhe cabo das tripas!

Começou a emagracer
A definhar!

Agora
É mais uma vítima da droga
Quase a morrer
Quase de partida
da droga da sua vida!

É meu vizinho
Talvez só por mais uns dias
Porque a morte já o está a levar
Devagar
Devagarinho!

Quantas viagens deixará pelo caminho?

É mais um jovem que se vai
Que de sua vida deu cabo
Eu fico mais sózinho

Leio notícias sobre os barões
Da droga
Que nunca criaram a moda
De pêsames
A cada escravo
Mandar carta








DESVIOS
Às vezes desvio-me do amor
Mas logo me sinto em rota perdida!
Só quando regresso
à rota segura
Do teu amor
É que me sinto seguro na vida!





PARA QUÊ PENSAR?
O Homem não devia pensar
Nem imaginar
Nem devia calcular nem inventar

Todo o pensamento intelectual leva à tortura existencial!
Todo o cálculo leva a erro fatal!
Todo o invento não é natural!

Uns
Que muito pensam
Dizem que o mundo devia ser...assim!
Outros
Que pensam que melhor pensam
Pensam que devia ser...assado!
Uns pensam que devia ser um mundo do bem!
Outros que não
Que não fosse pecado o pecado!

Uns querem um mundo ateu
Outros religioso!

Uns dizem que Deus só há um
Mas para outros
Cada um deve ter o seu!

Cá para mim
Que também tenho opinião
Digo que sim e que não
Não sei o que o mundo ontem foi
Mal sei o que hoje é
E nada sobre o que será
O que sei é que o mundo
De hoje
é um mundo cão!

Com tanta imaginação
Com tantos cálculos e invenções
Com tantos deuses e religiões
Ainda estou por saber
O que o Homem
Com isso tudo fez
Ou faz

Há milhões de anos
Que na terra vive
E nunca em paz!








LAVRA LAVRA Ó LAVRADOR
Lavra lavra
Ó Lavrador

Sulca a terra
Docemente

Sejas poeta
Escritor ou pintor
Comercianate
Industrial ou trabalhador
Lança nela tua semente

Trata dos frutos
Com amor

Em cada sol
Em cada luar
Em cada noite
Em cada dia
Nasça
Sempre
Da tua espiga
Fértil em mulher ou rapariga
Outra espiga
Como a do milho-rei;
Espiga de poesia

Lavra
Lavra
Ó Lavrador





ESPIRITUAL
Alguém sabe quanto pesa o espírito?
É solúvel no vento?
Desaparece no ar?
Espalha-se no olhar?

Quanto pesa
Num corpo
Um sentimento?
Um grama?
Dez quilos ou mais de cem?

Cada corpo tem bilhete
de identidade
Mas a seu espírito
quem lhe mede a altura?

Quem do espírito pesa seu peso
num corpo magro ou obeso?

Afinal
Quem sabe quanto pesa o espírito
a alma e o amor
Que cada corpo tem?

Matéria tenho mais de 80 quilos
De espírito
De alma
De amor
De ódio não sei!
Nunca os pesei
Porém
Deles vou gastando
Não sei até quando






PENSAMENTOS DO FIGAS

A CAMA
Na cama um homem ama
Diverte-se
Até fica inerte!
BIBLIOTECA
Uma biblioteca
Sítio para se ler letras
Não para as pagar!
SER RICO
Árdua tarefa de guardar dinheiro
Que os pobres não apreciam!
AMAR
Amar requer muito esforço físico
Além do mental
E muito “metal”!
AMOR
O amor é materialista
Porque quando dá um beijo
Logo quer mais de sobejo!
ZIG-ZAG
É por o mundo ser redondo
Que o Homem não anda direito!
RIQUEZA ESPIRITUAL
Quem rouba contribui
Positivamante
Para o enriquecimento
espiritual do roubado!
BÊBEDO
Um bêbedo é um ser ecológico:
Respeita a água!
CAPITALISTA
Turista que só visita capitais!




NÃO DIGO NADA
Não
Não te digo nada
Não sentes minha voz sufocada?

Não
Não digo nada

Apenas tenho esperança
Que consigas ler
O que tenho escrito no meu olhar

Para quê sempre escrever?

Não consigo
Sempre que estou contigo!
Sabes a razão?
É a razão do meu coração
Que tem tanto para te dizer
Tanto para te falar
Tanto para te amar
Que nada consigo dizer
Que nada consigo falar!

A minha esperança é
Que consigas ler a escrita
Que está nás páginas do meu olhar!





ELEIÇÕES
Candidatos para aqui
Candidatos para acolá
Eis a campanha e as eleições
O povo escuta quem mais dá:
Promessas
Promessas
Ilusões

Candidatos com boas
E más intenções
Mostram do melhor
E do pior que há

Na terra da corrupção
Os campeões
Prometem ser sérios
....já


Candidatos
A governarem “santas terrinhas”
E como as governam!
Bem se vê
O povo até lhes bate palminhas!

Mas o povo
Afinal
Vota em quê?
Vota nas “santas ladaínhas”
E depois
Se correr mal
Vai a Fátima..
---a pé!





O TEMPO NÃO É O QUE ERA
Entrei numa esplanada
Nela o Outuno já tinha entrado
Tinha boa vista para o jardim
-um relvado-
Eu olhava a relva cortada
Ela olhava para mim!

Uma folha caía
No ar baloiçava
E antes de cair ao chão
A folha dançou para mim!

Naquela tarde
Tarde de Outono
Eu dele também já dono
Estivemos em mútua companhia!

Eu aguardava nova primavera
Com a sensação
De que quando ela chegasse
Também para mim dançasse
E que não me dissesse:
-“ A primavera para ti
já era!”

Continuei ali
À espera de nova primavera
Sabendo que
No Outono
Quem como eu
-também dele já dono-
Sabe que seu tempo
Já não é o que era!



SENTADA
Sentada
De olhos fechados

Pernas cruzadas
Televisão lifgada
Lareira acesa
Janelas fechadas
Espera o quê?
Finge que vê TV!

Antes que fazia?
Hoje é tudo diferente!
Mas tudo na mesma;
A mesma nostalgia!





GUERRA
O burro era pacífico!
O homem era pacífico!
Iam os dois pela estrada

Toc toc
Ia o burro andando
Ia o homem caminhando
Andavam aviões no ar
Caíam bombas!

O burro deu em zurrar!
O homem deu em gritar
Depois foram a enterrar!

Eram pacíficos!
Os aviões contiuaram a voar!





FALTA DE TEMPO
No tempo que nos dão
Nunca há tempo de sobra!

Temos sempre
Muita coisa em construção
E quando acaba nosso tempo
Por fazer fica “obra”!

Nunca há tempo de sobra
-no tempo que nos dão-
Para terminarmos nossa “obra”
No nosso mundo
Sempre
Sempre em construção!






MUDAS
Já mudei de roupas
Já mudei de sapatos
Mudei de corte de cabelo
De pasta de dentes

Mudei de estado
Mudei de carro
Mudei de direcção
Sempre
Sempre a mudar
O que ainda não mudei
foi de mim!

Prometo
Qualquer dia
Que também mudo
e até desapareço!

Bem tento
Mas se mudo as coisas
Por fora
Difícil é mudar-me
Por dentro





TUMULTUOSO
Sou poeta
Que em tudo se transmuta!
Ora homem
Ora massa bruta
Ora bom menino
Ora bom cretino
Ou
-como dizem:-
-“Um bom filho da puta”

Ora elogio ou desafio
Sou amoroso ou odioso
Sou como um rio em sereno leito
Mas que
-muitas vezes-
Do leito se desvia e transborda
E chega tumultuoso á foz

Nem sempre em corrente de poesia
Mas é nessa altura que ouvem minha voz:
Só quando saio do meu leito!

Últimamente
Muitas vezes
...a eito

Tenho deixado de ser um rio
Onde só navega a doçura

Só quando saio do doce leito
É que medem a maré
da minha altura!





SENSAÇÃO
Quero uma sensação
Não sei qual a parte do corpo
Para a sentir!
Não sei se usarei olhos para ver
Mãos para apalpar
Ouvidos para ouvir
Língua para provar
Nariz para cheirar!
Onde fica uma sensação
E quanto tempo pode durar?
Olho o deserto
Nada vejo além de areia
Areia Só areia e mais areia
Dunas e dunas
Mas De repente
Vi um camelo
Que ao pôr-do-sol
Se bamboleava
E alguém nele montava
À boleia!
Fiquei a vê-los
A pensar como distinguir
homens de camelos

Pronto
Já tinha a minha sensação do dia
Já tinha poesia!
Tinha visto um camelo
Dei comigp a pensar:
-“Que faz um camelo
e um homem ao põr-do-sol
no deserto?
Porque será que só há camelos no deserto?
Tenho a sensação de que os há
Por todo o lado
- mas disfarçados- Por perto
Pronto Já tive uma sensação

QUE SABES TU?
Quantos anos tens?
15-30-50-70-90?
Tu
Quando nasceste eras ignorante.
Agora não és?
Que sabes tu?
Não sabes nada?
Não sabes de todos os rios?
Não sabes de todas as serras?
Não sabes de todos os continentes?
Não sabes de todos os mares?
Ignores glaciares?
Não sabes de muitas ilhas e suas gentes?
Não sabes de quantos deuses
De religiões
De quantas nações
De quantos reis e presidentes
E reis que fizeram leis?
Não?
Fecha os olhos.
Imagina que tudo que te disseram
Apesar da tua idade tu nada sabes
Nada viste
E depois de abrires os olhos
Apenas constatas que existes
E tudo ignoras!
Depois
Partirás à procura do horizonte
Que jamais ultrapassarás
Que além dele nada saberás!
Vão contar-te muitas histórias
Verás muita ciência
Muitos dirão que este mundo
-de ignorantes-
Sabe tanto como dantes!

Tu vais querer saber
sempre mais


Talvez até sejas um Professor
Ou Doutor
Com conhecimento Profundo
Tu Talvez
Um dia Também dirás
Com voz grossa:
-“um dia será o fim do mundo”
Mas Agora
Depois de teres os olhos fechados
Sem neles nada gravado
Diz lá Apesar da tua idade
O que sabes De verdade.
Nada?
Então
Não te importes
Porque vais morrer
Como nasceste: Ignorante
Mas vivendo Sempre
Em busca do tal horizonte Ultrapassável
Para saberes quantas ilhas
Quantos continentes
Quantos mares Quantas gentes
Quantos mares e glaciares
o mundo tem!
Que sabes tu?
Apesar de Às vezes
Julgares-te importante!
Tu sabes
Muito bem
Que és
Realmente
Um ignorante
Um “Zé-Ninguém”
Quando
Em qualquer tempestade
Souberes medir a força do vento

Antes
Se sabes o que és
E a força que tens por dentro.




VIDA....TEMPO PERDIDO!
O Homem nasce para viver
Mas
Se for crente
Acredita que
Só depois de morto
Viverá eternamente!

Pergunto eu:
Se a vida eterna
começa só depois de morto
Então
Viver não é um paradoxo?!..

Se o tempo de vida
é tempo perdido
Há que morrer depressa
Antes que Deus nos esqueça!
Digo eu





RESPOSTA
Quando teu olhar
No meu acaba por bater
É fax
É e-mail
É mensagem
Que logo quero entender

Passo algum tempo a ler
Até que meu coração perceba
e que te saiba responder

A tudo que lê dá resposta
Respondendo ao que desejas
Ao que a gente gosta!




TRANSVERSALMENTE
Fujo
Transversalmente
Em rectilínea estrada
Fugindo não sei de quê
Talvez de nada!

Fujo!
Fujo!

Quando me metem medo
Zás
Fujo para a frente!
Quando páro
Pergunto-me
Por que não fugi para trás!

Talvez
Por isso é que fujo
...Transversalmente!




ABSTRACTO
O abstracto
Que se retira dum acto,
Tende a ser realidade
De facto
Que
De facto dissecado
Volta ao pensamento do abstracto do acto

O que acontece é um facto
O resto é abstracto!




PORTO ENCANTADO
No Porto
Cada canto é um canto
Que o poeta
Com seu canto
Torna-o num encanto

Porto encantado
Sobre o Douro debruçado
Fecunda o Atlântico
E leva
Ao oceano navegado
Seu vinho
Seu cântico

Todos
Que bebem seu vinho
Lêem seu verso primeiro:
PORTO
Alma e raíz de Portugal
Espalhado pelo mundo inteiro


ACORDAR
Era uma da madrugada
E logo já quatro
Mas dormir
.........nada!
Quando me deitei
No céu não havia claridade!
Só escuridão
Como breu!
Na cama
Só eu
Inquieto.

Eram quatro da madrugada
Me virava e revirava
Mas dormir,
...........nada!

Mais uma hora passou
Eram já cinco
Eu ainda não dormia
Tinha a insónia como companhia!

Às seis
Quase com a noite fora
-finalmente-
Na chegada da aurora adormeci!

Ia já alta a manhã quando acordei
Dei um salto para a vida e vivi
Pensei:
Não adianta dormir toda a noite
Se continuar
Na vida
A dormir acordado




SER E TER
O ser
O ter
O ser Ser
O ser Ter

Não é possível ser sem ter
Nem ter sem ser


Que fazer?
Basta HOMEM ser

O Ter estraga quem vai ao Templo
Para se perder!
Preocupado com o Ter
Esquecido de Ser



LABAREDAS
Hoje
Subi ao meu sótão de velharias
Donde coisas novas não brotam Para o futuro de novos dias!

Lavei-o com criolina
Ficou bem desinfectado
Desapareceu o mofo que tinha;
O cheiro do passado!

Comparo minha cabeça
-cheia de velharias-
A um sótão bem recheado
E embora não pareça
A maior parte dos dias
Está sempre desarrumado!

Já pensei em queimar tudo
E ficar com o espaço vazio
Contudo não me iludo
Pois que se queimar meu passado
É queimar
-na minha vida-
As raízes onde me agarro!

Desfaço-me
Sempre
De alguma coisa
Mas nunca sempre de tudo
Algumas estão no meu notão
Aonde por vezes subo!






O TEMPO CORRE
O tempo corre sempre
À minha frente!
Eu chego sempre atrasado!

O Tempo trabalha
Sempre para o amanhã!
Eu trabalho para o passado!

Fevereiro está chegando ao fim
Mas repete-se em cada ano!







NAMORADOS AO LUAR
Era final de tarde!
O Sol
já na recepção do Hotel da Noite
Em busca da chave de seu quarto
na ala poente.

Mas
De repente
Viu que lhe faltavam raios
Deles foi à procura
Encontrou-os
Esquecidos num jardim
A iluminar namorados

Então
O Sol pediu à Lua
Com seu luar
Que ficasse ali a alumiar

Os namorados continuaram
Noite dentro
No banco sentados
Apaixonados
A namorar
Sossegados
Só com o barulho de se beijarem

A Lua a alumiar
O Sol dormia descansado!


DEPOIS DA CHEGADA
A uma hora da chegada
A cada passo que dou
Pergunto-me se estará deitada
Deitado é que eu não estou!

A meia hora da chegada
A cada passo que dou
Pergunto-me se estará cansada
Cansado é que eu não estou!

A um minuto da chegada
A cada passo que dou
Pergunto-me
Pensativo

Mas
Após a porta de entrada
Tudo o que depois se passou
É que ela se deitou comigo

Mais não digo
Se algum de nós se cansou!





PERDIDAMENTE
Nos passos que dei na vida
Não sei se vida vivi
Mas foram em direcção perdida
Se não dirigidos a ti

Tu dás-me volta à cabeça
Eu fico sempre perdido
Sem oriente
Em busca da direcção certa
Para me dirigir a ti
Perdidamente




PENSAMENTOS FIGARIANOS SOBRE O CASAMENTO


CASAMENTO
Casamento é união de contrários Quando não contrariados!

No casamento
Cada um leva seu dote
Mas como nunca são iguais
Há sempre um con---sorte!

Para o casamento
Corre quem quer
Do casamento foge que pode!


No casamento
Cada um leva metade
Mas
Os dois
Um do outro quer a totalidade!



CARNAVAL
Dia de Entrudo
Orgasmo de identidades
Máscaras
Que escondem verdades
Em corpos metamorfoseados
Que nosutros causam enganos
Com suas virtualidades!

Cada um faz de si
Num dia
Um ser a si estranho
Mas quantos vivem se enganando
Mascarando-se nos dias do ano?





HORA ZERO DO AMOR
Oito horas/zero horas do amor/
levantei-me/ficáste na cama/
gastei quinze minutos ao pequeno-almoço/outro tempo perdido/
por não estar contigo/
depois passei hora e meia no transporte/outro tempo perdido e já perdido de ti/
seguiram-se horas de trabalho/
tempo passado sem paixão/
outro desperdício/amar-te é meu vício/minha ocupação!

Quando regressei a casa/
quando te vi/
nem tive tempo de comer/
pois logo/com os olhos te comi/
mas tu estavas a ver uma telenovela/outro tempo perdido/tive de esperar!

O amor tem destes contratempos/
mesmo/quando dizemos que nos queremos/
finalmente fomos para a cama/
era já tarde/adormecemos!

De manhã/quando acordei/
às oito horas/tu/ali/
a meu lado/é que me lembrei de fazer amor contigo/
que já estava atrasado/
que até já me tinha esquecido!









24 horas tem o dia/mas para o amor só alguns minutos/
o resto é só trabalho/
trabalho/ até que chega a hora zero/do amor/da fantasia e poesia/
hora por que espero/a qualquer hora do dia/ a hora zero/do amor/
hora de brincadeira/
hora de “putos"





PEDAÇOS
É neste rasgar de mim/
que em pedaços me vou rasgando/
espalhados pelo chão/do tempo/
que por mim vai passando!
pedaços duma redacção/
que Alguém/ em mim/ escreveu/
embora espalhados pelo chão/
alguém os vai pisando/
ainda ninguém os viu/
pedaços de mim/
pedaços da minha identidade/
meus rasgados passos/
caminho da incerteza/da verdade/
com indefinidos traços!

De tanto me rasgar/
de me espalhar/ em pedaços/ pelo tempo/ inteiro/ não conseguirá ficar o livro da minha vida/
...a tempo!

Talvez fiquem só capas pelo chão/arrastadas pelos ventos!

Dentro delas já não pedaços de mim/ nem de meus rasgados sentimentos/
pelo chão espalhados/rasgados



MUNDO FECHADO
Sou mundo fechado ao exterior
Que o acompanha
nas suas rotações terrestres

No meu invólucro
Milhões de sentimentos
gastariam dicionários do mundo!

As palavras
Que digo
Não são sentimentos
Que vivem comigo no meu mundo a ele fechados!

Por vezes
Alguns sentimentos de mim se escapam
e logo no exterior se abafam
Resultado:
Sou um mundo fechado!

Talvez
Muitos como eu
Deram origem à expressão:
“O calado é o melhor”





POESIA NO SOMAR
Olhei uma conta para pagar
Tentei ver poesia nos números
Tentei ao somar fazer poesia
Mas por fim tive de pagar
Pôr a conta em dia

Dizem que assim é que deve ser

Quando cheguei a casa
Ao ver meu amor
Lembrei-me que tinha algo a receber!

Agarreia-a
Pusemos a escrita em dia
Ficou tudo cobrado
Tudo acertado

Afinal
Nos números também há poesia
Muitas vezes
Em movimento ritmado!




ESTUPIDEZ
-“Ei
Vocês aí
Que estão fazendo?”

-“Nós não estamos fazendo nada
Como você também está fazendo”

-“Eu, eu sim.
Estou dando lugar à estupidez
Que ao mundo faz falta
Pois é graças à estupidez que a inteligência ressalta!

Não falta
Por aí
Quem não dê lugar à esupidez
E de ser inteligente não se cansa!

Coitado!
É como um ser adulto
Que de tão adulto
-tão bruto!-
Já não consegue mais ser criança!

Vá lá
Sejam estúpidos
Pelo menos um vez
De quando em quando




ARTE
Uma mulher é obra de arte
Tem pernas para andar
Haja artista que as aparte
E entre elas saiba criar





DIFERENÇAS
Um homem
Uma mulher
Dois seres desiguais
No meio a maior diferença
A evidente
A mais notada!


AMORES
Amores
Que para trás ficaram
Amores temporais
Alguns duraram dias
Meses
Alguns anos e outros mais

O amor
-em si mesmo-
É como um bolo eterno
Cada um vai tirando sua fatia
Pode tirar uma fatia por dia
O amor é eterno!


HÁ MUITO TEMPO
Há muito tempo
Que não faço amor como fazia
A dispensa quase vazia!

Embora não faça como fazia
Preciso de continuar a fazer

Um dia
Quando já não o puder
Tenho de arranjar onde comprar

Talvez arranje um amor
-em promoção-
Para encher a despensa
Quase vazia
Do meu coração
Porque
Já não faço amor como fazia





NA BANDA
Numa banda
Jovens tocam pífaros e flautas
Adultos
E velhos de bigode
tocam trombone

Na vida
Está tudo conforme

DIZEI-ME
Dizei-me o porquê
-ao acordar-
O Homem deixar de dormir?

Dizei-me o porquê
-quando cansado-
O Homem quer descansar?

Dizei-me o porquê
-quando cansado de chorar-
O Homem acaba por sorrir?

Dizei-me o porquê
-sendo a vida uma chatice-
O homem quer chegar à velhice?
Dizei-me







POUCO TEMPO
Tenho pouco tempo
Pouco espaço
Pouco mostro de mim
Mas
Basta-me que vejas
O que por ti faço





BOM DIA
O poema que faço
Quando me levanto
É dizer bom dia
Às vezes um espanto!




NÃO ADMITO
Não admito que me ganhes
Só admito em ti perder-me







FELICIDADE
Varre o cinzento do céu
Ignora a espinha do peixe
Ignora o osso da carne
Ignora o que não te dão
Ignora o que não te pagam
Ignora o que te tiram
Ignora se não te dão pão
Se não te dão trabalho
Ignora se fazem de ti palhaço
Ignora
Faz como eu faço

Ignora se não ligam ao que dizes
Não imaginas a sorte que tens

Não faltam sábios
Que dizem
Que os ignorantes são felizes!
Ignora






AVALANCHE
No mundo fizeram fronteiras
Mas sobre elas o mesmo sol!

Alguém fez línguas diferentes
Mas dizem tudo igual

De admirar
É quererem só um deus
Mas
Com diferentes modos de rezar!





RAPAZES
Rapazes
Olhai uma coisa
Bem certa
Há muito estudada:
Uma mulher
Pode parecer fechada
Por fora
Mas por dentro estar aberta!




MAQUINISTA
O combóio segue na linha
Vai o maquinista
Na máquina parado
Ambos seguem para a estação

No final da viagem
Uns saem
Outros embarcam
Outros parados estão

O maquinista
Na máquina sentado
É muito viajado
Embora na máquina
Sempre parado!..




AMOR INDEFINIDO
Que interessa definir o amor?

Há quem o defina
Com mil definições

Não
Não me digam isto ou aquilo
O mais importante é senti-lo

Podeis crer que quem o sente
não tem tempo de o descrever
Só o faz num tempo de sofrer!



UM PÁSSARO
Um pássaro passa
O céu é mais acima
Acho sempre graça
O céu sempre nos anima



PARA QUE SERVE UM POEMA?
Se este poema fosse melodia
Se te inebriasse de alegria
Se fosse notas duma sinfonia!

Se nele pousasses teu olhar
Talvez fosse pauta de melodia
Que pudesses tocar

Doutro modo
Este poema fica por aqui
Inútil
Fútil

Para que serve um poema?
Para que gasto pena?






DEMOCRACIA
Democracia é o sonho
Que cada homem tem de convencer outros
-por palavras-
De fazerem o que lhe convém!






ATEU?
Não sei o que pareço/
serei ateu?/
ouço outros dizerem:
-“Ó meu Deus”/
Mas onde está o meu?

Por jeitos/todos têm um!
são uns abastados!/
eu só tenho trocados!

Eu/se pareço ateu/
se não tenho um deus/
é porque não sei do meu/
ninguém um me deu!

Não falta quem me bata à porta/
a tentar vender um/
mas eu só tenho trocados!
afinal/um deus/que jeito faz?/
dizem que ajuda um homem/
a ser bom rapaz!

Eu/se pareço ateu/
é porque não sei do meu/
ninguém nenhum me deu!

Para comprar me ofereço /
outros são uns abastados/
eu só tenho trocados/
por isso ateu pareço!

















BRANCO COLONIZA
Branco coloniza preto
Coloniza índio vermelho
Coloniza índio brasileiro
Coloniza o amarelo

Branco é assim:
Muito religioso
Inventou o venha a nós
O vinde a mim!

O branco é assim:
Não quer mal a outras cores
Apenas quer sua virgindade
Não quer nódoas em vestido de noiva

Branco não faz mal a ninguém
Só quer
De outras cores os bens que têm
Sem nódoas

Aliás
As velas das caravelas
-dos galeões-
E seus canhões
Eram só para levar boas novas
.........com pólvoras!




AMAI-VOS
“Amai-vos uns aos outros”;
Expressão que prova que o amor Em grupo
Já vem de longe!






AI
Pega-se numa dor
Junta-se-lhe um ai
Da boca aberta saem ais
Cavalgando ventos
Uivando lamentos
Entram noutros ouvidos
Mas em pavilhões olvidos
Dores não partilhadas
Dores ficam nos ares
Não se pegam
Não se propagam
Porque à dor
À miséria
À fome
À guerra e à droga
Muitos dizem
-Empinando narizes-
Não
Não ouvimos nada
Connosco não é nada!

A cada dor
Que de cada boca sai
Outros ouvem
Mas pensam
Oh!
Foi apenas só mais um ai!





CHATICE
A chatice de se nascer nu
Depois ter de escolher gravatas
Fatos
Camisas e sapatos

Que chatice nascer despido
Descamisado
Mas
O que é mesmo aborrecido
É fazer amor com preservativo
Que chatice
Disse






COISAS
Se as coisas
Que a outros acontecem
A mim acontecessem
Seriam como coisas
Que a outros pertencem
A mim pertencessem





CORAÇÃO ACELERADO
Sei dum coração acelerado
Que quer morar noutro peito
Bate
Bate desesperado
Nunca satisfeito!

Ama aquela bela mulher
Com ela quer andar a seu lado
Esteja ela onde estiver
Bate
Bate por ela......acelerado!

A todo o momento
Tudo se repete
O coração fica desatinado
Se seu amor
Amor não lhe promete!

A este amor acorrentado
Por quem de amor se derrete
Bate
Bate o coração...acelerado!



MAS QUANDO?
Quem vive no quinto andar
Paga mais que no primeiro!

Quem vive no rez-do-chão
Nos passos de seus andares
tropeça
-com sua visão-
Em torres de muitos andares!

É o progresso dos que vivem
no mundo primeiro!
Só não se entende o medo
Que têm
de quem vive no mundo terceiro!

O mundo está ao contrário!

Para viverem bem
Querem viver nas alturas
Em alto estadão
Todavia
Quando olham para baixo
Têm tonturas
E medo
dos que vivem no rez-do-chão
Que rima com Afeganistão!

O Mundo só melhora
Quando mais nivelada for
a altura das casas
Onde a gente
-do rez-do-chão mora

E nem sempre
O rés-do-chão aguenta
Os que mais alto estão
De vez em quando
Torres caem ao chão





REFLEXÃO
Este poema é de profunda reflexão
....
.....
......
.........
............
................
.....................
..........................
................................
......................................
................................................
.......................................................
Pronto
Está pronto

As linhas em branco
Não estão em branco
Não

Estão cheias
Com a tua imaginação

Pronto
Este poema foi profunda reflexão!




A NOITE NÃO TEM RÓTULO
Abro a janela
Algumas horas na noite
O ar tem diferente composição
Inspiro
Ainda outra vez
Ah
A noite está diferente
Sinto
A noite escura
Muitas estrelas no céu
Cheiros diferentes na terra
A Natureza a despertar
Embora dormindo
Há qualquer coisa no ar
Estou sentindo

Olho
Perscruto
Não
A noite não tem rótulo
Não informa o consumidor
Noite estranha
Mas doce

Fechei a janela
Olhei o Calendário
Ah
A Primavera tinha chegado!
Mensagem que a noite me trouxe!

Primavera
Amor para o consumidor

Deitei-me
Naquela noite
De amor consumi um bocado
Estava bom
Mesmo ali
A meu lado




IRRACIONAL
A minha parte racional
Leva-me à irracionalidade
De acreditar num Deus
.......racional!



IMPRESSIONADO
Estou impressionado!
Dizem-me num Ano Novo!
Não acredito
O presente é igual ao passado
Embora com outro povo

O tempo não existe
O Homem inventou o Calendário
Simples aparelho
Que não nos dá novo tempo
Novo fadário
Num mundo
Que com tantos anos novos
É um mundo muito velho!

O Homem vive de ilusão
Renovando ser criança
em cada circunvolução
Vestindo o Ano Novo de menino
Baptizando-o de Esperança
e de paz
Sem guerra

Mas
Cada Ano Novo
Nasce muito sabido
e nada de novo traz ao povo
Este também muito antigo
e que de novo nada faz!

Estou impressionado
Dizem-me num Ano Novo!

Não acredito
Pois o presente é igual ao passado
Embora com outro povo!







AL...PINAR
Amor/a natureza és tu/
como é bela tua natureza!
Tens montes/com formosos picos/
tens vales/onde correm rios de amoroso mel!
Tens paisagens de extasiar/
na Primavera vestida/
ou no Outono despida!
Em ti gosto de passear/
fazer turismo/
alojar-me na tua estalagem/
a preço reduzido/
para fazer alpinismo/
sabes que gosto de estar contigo!
Subo/com cuidado/
para não caír de costas/
nem de queixos!

Ah/como gosto de em ti trepar/devagar/devagar!/
subir por ti a acima/
conquistar a crista do teu monte/
e beber pura água/
da tua pura fonte!

Gosto de/ em teu monte/cravar meu mastro/minha bandeira/e deixar correr o suor do amor/que tenho/por trepar por ti acima!

Tudo me recompensa/do alto do teu monte/da tua crista/avista-se bela vista/depois desço pela ladeira/da beleza da tua natureza!

Sabes/amor/nesta dura vida/
o que me anima/quando cansado/é trepar/por ti acima/para relaxar/e deixar meu mastro/em ti espetado




PENSAMENTOS SORTIDOS

ASSESSOR
Abridor de acessos!

EMPRESÁRIO
Arranjo trabalho para outros
Para poder descansar!

VIUVEZ
Período de reflexão
Antes de...outra vez

DESEMPREGO
Regresso do Homem às suas origens!




MAL DE NASCENÇA
Quando nasce uma menina
Ou menino
Não é a multiplicação dos pães
Mas sim da carne

Pão há sempre quem coma
Mas
Ao menino ou à menina
Nem sempre há quem ame
Apesar de serem
Multiplicação da carne!



NÁUFRAGOS
Vem aí o tempo de eleições
O Povo sabe já o programa
Os políticos apresentam soluções
Mas o Povo
-como sempre
É quem se trama!

Os Governos
Não conhecem sempre boa rota
Incapazes
De chegarem a bom porto
No mar encapelado da Europa!

Neste país de marinheiros
Perdemos a arte de bem navegar
Nos mares que já dominámos
Agora
Só nos deixam naufragar!

Precisamos de quem conheça Estrelas e rosas dos ventos
Para enfunar nossas velas
E sairmos do mar de tormentos!






ADIVINHAÇÃO

Por aí
Quem diga que adivinha o futuro
Não acreditem
É tudo um engano
Pois que
Quem diz que adivinha o Destino Não o adivinha
Nem sabe
Quando vai ao quarto de banho
Nem comanda o intestino!

Assim
Quando alguém vos disser
Que adivinha o futuro
Perguntai-lhe
Se sabe a que horas vai “obrar”

Por regra
Não saberá
Então mandai-o à merda








BAÚ
Ano que finda é baú
Onde se guardam lembranças
Que lá ficam
Como que em arca-frigorífica
Conservadas para o futuro

Lembranças do passado
Que muitos tirarão do baú
Para responder à pergunta:
Lembras-te?

Depois
Lá vem o eterno princípio:
“era um vez”

Assim se tiram lembranças dum baú!

Depois
Novamente
Fecha-se a tampa
Para......
Futuramente





FILA
Ser último é como o primeiro
Diferente só na fila
Que serpenteia pelo chão!

Quando o inimigo ataca
Ataca por onde lhe dá mais jeito
Por vezes o último é o primeiro
E este nem sempre escapa!

O primeiro é como o último
Ambos com a mesma sorte
Apenas diferem na fila
Que os leva à mesma sorte:
........a morte




LEMBRAR A DEUS É PRECISO?
Mandam-nos rezar!
Quantas vezes não nos mandam rezar?!

Mas rezar é pedir
Negociar um milagre
Pedir saúde
Dinheiro ou outra coisa qualquer!

Mas
Então perguntemos:
Deus não sabe o que queremos?

Será que lembrar é preciso?











NUNCA MAIS
Na mesma cama
Não sei quantas vezes me deitei
Quantas vezes fiz amor
Quantas vezes acordei
Não sei
Não sei

Sei que noutra cama
Onde me vão deitar
Não mais me levantarei






DESCASADO
Naturalmente
É natural!

Há o Bem e o Mal
Há o homem e a mulher
Tudo tem um casal
À excepção dum homosexual
Pois que
Quando um com outro se junta
Apenas formam qualquer ”Al”
Nunca um casal
Entre um homem e uma mulher






PORTUGAL
Somos um país rectangular
Provámos que a Terra é redonda
Em Aljubarrota um para cinco

Se daqui nos obrigaram a zarpar
Foi para o o Mundo ficar a saber
Da conta dos continentes
Que são cinco

Somos um país rectangular
Provámos que a Terra é redonda
Seguindo em frente
Continuamos seguindo




ÁGUA
A água
Que corre na minha rua
Sei que vem dum ponto alto
Cai
Devido a qualquer lua
E nunca sobe pelo asfalto

Ao ver a água
Na rua a descer
Pergunto-me onde irá ela parar

Ela
Adivinhando meu querer saber
Responde
-“ Vou a caminho do Mar”


Destino marcado toda a água tem
Vem do alto e corre para o Mar
Anda num permanente vai e vem

Água fosse eu para a ti chegar
Tu
Como mar d’água doce
Como ninguém
Em ti desaguaria sem mais voltar!




EGOÍSTA
Durante muitos anos cortei flores
Como prendas para amores
Ou para mim

Sempre para actos de amor
Dizia

Agora
Não corto mais flores para mim
Prefiro ir
Com meu amor
Visitá-las no jardim
É outra poesia!

Renovo minhas desculpas
Às flores
Não as corto para amores
Nem para mim

Não sou mais egoísta
Gosto delas
Sim
Mas no jardim

Meu amor
Já é uma flor junto a mim









INCÊNDIO
O fogo vem
Altas chamas como lanças
desferem golpes
Quentes amostras do Inferno

A chuva não vem
Tudo fogo
Aqui e além

Só quando o fogo se cansa
guarda as pontas de suas línguas Afiadas lanças

A Natureza fica
Com a esperança de ver
Crescer verde
Novamente
Enquanto o fogo adormece
Aguardando
Pacientemente
Que o restolho cresça
Para matar sua sede




ATERRAR NA ETERNIDADE
Quando se vai a Juventude
Logo chega a velhice
Porém
Viver é uma virtude
Mesmo sendo chatice

Em novo o corpo vai a todas
Na meia idade vai só a metade
Os ossos são como rodas
Que vão perdendo velocidade!

O corpo não deita raízes
Só o espírito pode voar
Toda a matéria tem varizes!

O espírito
Quanto mais alto voar
Torna o corpo feliz
Se na Eternidade aterrar!





DIA DE FESTA
Amanhã será dia de festa
Rufarão tambores
Haverá foguetes
Sairá a Procissão
Nela irão muitos andores;
Muitos senhores
Muitos lavradores
Muitos industriais
Muitos presidentes
Muitos impostores
E também abades
Donos de verdades para crentes
Haverá sermão e esmola no saco

O facto
É que amanhã será dia de festa

É assim
Para mostrar em cada ano
Factos novos de velhos povos




CRUCIFICAÇÃO
-“Amai-vos uns aos outros”
Disse Alguém
Que
Por isso
Tem quem o critique

O problema é que
Quando alguém quer amar alguém
E por ninguém é amado
Nem tem quem o crucifique!






ESTUDO
O estudo leva ao conhecimento da ignorância





FORA FORA
Quando um homem
Numa mulher faz um filho
Sem perguntar se ela quer
É ladrão
Que apenas esventra um ventre
Sem saber se faz gente!

Depois
Arma-se em defensor da moral
Não querendo que a mulher
se liberte de sua semente animal

Não quer saber de nada
Tudo ignora

Fora
Fora
Com tal gente de Portugal






SEM CHAVE
Arranjai um baú
Arranjai uma arca
Arranjai grande caixa
Mas deixai a porta aberta

Eles podem querer sair
E mais tarde regressar

Podiam perder a chave!..

Meus poemas
Embora fechados
Gostam da liberdade
.....sem chave







A RESPEITO DO TEMPO
“Ó tempo volta para trás”;
Desejo que não faz sentido
Porque o velho voltaria a novo
O jovem à infância
O bebé aos “tomates” do pai
O pai à idade média
Os avós à do bronze
Do ferro e da pedra

Que horror!

Mas
Vendo bem
Talvez não se notasse muito a diferença
Visto que
O Homem continua um calhau
Ainda por lapidar!





OIRO DA CEPA
No Porto está o ouro da cepa
Em Gondomar obra prima
De ouro ou de prata feita

Quase que
De maneira secreta
O ourives
À luz incerta da candeia
Faz arte concreta
Que encanta muita sereia

Gondomar tem do Douro parte
Com ele
Com seu ouro
Faz belas obras d’Arte

Gondomar
Terra boa à beira mar
Da ourivesaria a Capital
Terra sempre a brilhar
no peito de Portugal







CAMPANHA ELEITORAL
Dão esferográficas/
aventais/calendários/
bonés/electro-domésticos/
e outros produtos cosméticos!

Afinal/numa campanha eleitoral/
não dão só ideologia/
dão/também/partes do material!

Ao Povo/o que lhe interessa?/
naturalmente/
como qualquer animal/
bem treinado/
só interessa receber muito/
sem que muito peça!

Mas/
de prenda em prenda recebida/
de caridade em caridade/ o Povo/
sem que tal perceba/
vai perdendo a Liberdade/
fica com ela perdida!

Fujam de quem muito dá/
porque quem muito tem/
numa terra onde pouco há/
é porque muito tirou a alguém/
e tudo esconde com blá blá!

Governam sempre para o Povo/
mas ficam sempre com a galinha/
e nem sempre dão um ovo!

Enfim/
é do Povo fadário/
manter políticos de aviário/
nesta grande capoeira/
neste jardim/onde as rosas picam/
as laranjas azedam/
e o jardineiro é otário!





NÃO A COISA INCERTA
Apetece-me fazer um poema
Coisa de alta elevação
Mas não sei qual o tema
Mas tem de ser do coração

Eu bem queria variar
Tema com outra intenção
Mas acabo sempre por dar
Ao tema do coração

É coisa natural
Sem favor
Nele a poesia sempre acerta
Com rima e muito calor!

Quando me vem a veia de poeta
Só sei cantar o amor
Não a coisa incerta!












SAUDADES
Saudades são lembranças
Que guardamos no coração!
Por lá ficam guardadas!
Reservas d’esperanças
Quantas vezes esquecidas!?

Saudades são lembranças
Que
Quando delas nos lembramos
Estão um pouco encolhidas!
Não servem à realidade!

As lembranças viram saudades
de quando nos eram servidas!

Saudade é tudo que já não temos
Mas que ao presente convinha
São como uvas já comidas
duma vindimada vinha!

A saudade é marca dum tempo
De algo que aconteceu
Mas que
Em dado momento
Ficou saudade
Desapareceu!

Saudade pode ser tão forte
Tão inculcada na mente
Que num corpo vivo vira morte






POR ENCOMENDA
Há quem me peça para fazer versos
Mas logo põe condições:
Nada de asneiras
Nada de palavrões!..

Engraçado!...
Quando chove
Quando troveja
Quando muito relampeja
E há grossa tempestade
Há logo quem isto sinta e veja
E logo diz:
-“Isto é assim, porque Deus quiz que assim seja
Seja feita Sua vontade”

Quando acontece alguma desgraça
Para se confortarem
Logo dizem:
-“Foi por vontade de Deus”
Porém
Quando querem que versos faça
querem como se fossem seus!

Não
Não faço versos por encomenda
Nem os começo nem os acabo
Porque
Quando
Livremente
Versos ou poesia faço
Mesmo com palavrões ou asneiras
Os versos são meus!...

Não sei se encomendados por Deus ou pelo Diabo
Certo é que a inspiração vem de algum lado!



O FIM DA MACACADA!
Já houve tantos fins do mundo!
Tantas Eras!

Agora
Dizem que é que vai ser!
-“É mesmo verdade!
Vocês vão ver!”

Afinal
Se alguma vez acabou
Ficou sempre mal acabado
Acabado só metade
A vida com continuidade

Por mim
Se o mundo acabar
Que acabe bem
Que seja o fim da macacada
Porque anda cá muito macaco
Que se diz no fim do mundo crente
Mas só para enganar a gente
....mais nada
Porque
No final de cada Era
A prova
É que a vida se renova
Embora não para o mesmo crente
Não para a mesma gente!

Piada
Mesmo piada
É o Homem querer viver
---eternamente!






EM BRANCO
Página
Intencionalmente
Deixada em branco.

Não a macules.

Lembra-te apenas da floresta
Da árvore de onde veio
Pensa

Que sem floresta
Qual a vida que resta?

Pensa no que com ela se faz
Que não presta.

Desculpa se estes versos também
Eu sou apenas uma árvore
A floresta é mais além!





SER DE MIM DESCOBRIDOR
Queria sentir além do que sinto
O que sinto é apenas a superfície do meu mar!

Preciso dum fato
Para em mim mergulhar

Descobrir
Por entre vistosos corais
A razão de minhas dores
e de meus ais!

Não
Não consigo sentir mais do que sinto
Sinto só
o que em mim à suprefície!

Do meu fundo nada sei
Se disser que sim....minto.

Meu olhar não reflecte meu pensar
Zango-me comigo
Não me descubro
sob a pele do meu umbigo!

Tenho milhões de pensamentos
Mas sinto só um em cada momento!
Por que não todos aos mesmo tempo?

Estou sempre à espera
Em cada manhã
Em cada aurora
De descobrir o que em mim há
enquanto deito penamentos fora!

Apetecia-me rasgar meu interior
Descobrir
Esventrar a fonte deste tormento
E saber
Realmente
O que sou por dentro
Dizer algo de diferente
do que por fora sinto

Eu não sei o que sou
Se disser que sim...........minto



CORAÇÃO A CORRER
Quando passo à tua porta
Sinto o coração a bater
-Num bater mais apressado-
E à tua porta ficar parado
Mas sempre em meu peito a correr


Então
Quando tu
Meu amor apareces
Meu coração sente um baque
E quase que desfalece
Com este amor de morte

Amor
Tem cuidado com o trato
Ele não é muito forte
E por ti tem um fraco!




DESPREVENÇÃO
Nunca te protejas
contra a humidade de desejos
de amorosos beijos





CARTA PARA MARIA
Chegou o correio/trouxe uma carta para Maria/
Maria olhou-a de soslaio/ que raio!/ Maria nem ler sabia/
não podia ser/
Maria pediu-me para eu a ler a carta/era do patrão/Maria estava despedida!

Maria agarrou-me a mão/
perguntou-me: -“Porquê?”/
era devido à reestruturação!
Maria fôra atingida/
estava despedida/

Trágico aquele mês/esta era a segunda vez que tal acontecia/
ao marido tinha sido noutro dia/
o casal estava desempregado/e agora?/pão para os filhos/
ainda na escola?/

Maria adivinhava sarilhos/
desfalecia/

Um dia vi Maria /de sacola/
a mendigar/
ouvi vozes respoderem:
-”Vai trabalhar”/
vi Maria a chorar/
perdida/procurava trabalho/
foram dias/meses a fio/a eito/
depois veio o Inverno/
o frio/

Maria/com mais de cinquenta anos/sentia que/para ela/
o trabalho estava feito/
mas Maria continua/por aí/
a pedir trabalho ou pão/


O patrão continua em reestruturação/
dá emprego a futuros desenganos!

Senti-me culpado/
lera aquela carta/

Agora/Maria/
quando á minha porta bate/
dou-lhe algo/
que ela logo com seus reparte/
depois continuo a ler o jornal!

Com atenção/reparo num título:
“Moderna tecnologia provoca desemprego/
faz-se num dia o que numa semana se fazia”

Mais tarde/
soube que Maria estava doente/
na cama/
enquanto o patrão/
a sociedade/
continuam em...reestruturação!/

Maria só quer trabalho/
pão.








NÃO SEI O QUE ME IMPELE
Não sei o que me impele
Não comando a mão que escreve
Deixo-a
É ela que me empurra para a descrição da fantasia!

Acontece-me
Frequentemente
Que
De repente páro
Fico especado
Absorvido
Admirado pelas palavras
Que trago comigo
E com elas faço poesia!

Que tentação!
Serve qualquer papel à mão

Depois
Alinhavo palavras
Tiro-lhes a prova
Quando acabo
Logo penso:
Pronto
Já está
Já fiz poesia nova
Mas
Depois
A vontade se renova
Talvez recomece amanhã
Ou
Talvez........já!



ATÉ QUE ME LEVE CARONTE
Amor
Fizemos amor
Nossos corpos ficaram suados
Dei-te mais um beijo nos lábios salgados!

Amor
A minha sede de amor
nos teus lábios bebe!

Ah
Mas porque será?

Quem é que isto percebe?:

Quanto mais amor em ti bebo
Mais fico cheio de sede!

Mas
Até que me leve Caronte
Amor
Hei-de sempre beber
Nos lábios da tua fonte!



NO AZUL FUNDIU-SE
Ele olhava o céu azul
Só azul
Com azul bem preenchido
Dele tirava amostras
Como fermento
Para amassar outro azul
E nele fundir-se!

Um dia
No azul fundiu-se!
Ficou uma nuvem branca
No céu a pairar
Era um pedaço de azul lavado!
Depois-----choveu!

Um pedaço de azul caiu do céu!






CORTEI-A
Quando nasci
Nasci com tudo o que tinha
O que não tinha
mais tarde vim a ter
Embora
O que já tivesse não dava para se ver
Mas
Mais tarde
Começou-me a crescer
A crescer A crescer!
Já dava para se notar!

Até minha namorada notava
Quando Por vezes
Lhe passava a mão
Ui
Que excitação!

Metia-lhe impressão
Quando eu
A ela encostado a beijava!

Então
Tomei uma decisão
Fui ao barbeiro e......
Zás..........
Cortei..... a barba!



NEVRITE
Um hora é longo tempo
Um dia é uma eternidade
Um mês altera o bom senso
Um ano provoca insanidade!

Pensava que só a outros acontecia
Mas também aconteceu a mim
Só por não te ver um dia
nunca julguei ficar assim!

Logo perdi
De todo
O apetite
Não mais soube o que fazer
Tudo eu era nevrite!

Bem que acabou por acontecer
Foi quando te vi
Deixei de ficar triste
Logo me deu vontade de comer!

Ó meu bem
Adivinha quem




AMOR UNIVERSAL
O amor acontece na vida
Nasce e vive nos corações
De palavras
Actos e intenções
É fala de toda a alma sentida!

O amor é só amor
Não obriga
Não são só efémeras ilusões
Não só fugazes paixões
Amor
Só amor é para toda a vida!

Amor
Por vezes é sofrer
Porém
Ao amor tudo se deve dar

Amor é do Homem a razão de ser!

O amor tem seu verbo amar
Que nunca se deve esquecer
No presente
No futuro
No infinito conjugar!



NEGRA ESCURIDÃO
O dia foi-se
Chegou a negra escuridão
Meus olhos se fecharam
Meu corpo deitado no colchão!

Revi o filme do dia
Vi gentes de diferentes fisionomias
Revi rostos de amigos
Ouvi falas de alegria
De tristezza e de chalaça

Quando chega a noite
A noite tudo amordaça
com sua negra escuridão
E eu deitado no meu colchão!

Só?....não

A meu lado um corpo amigo
Mas ele já dormia consigo
Eu fiz o mesmo
Dormi comigo

Na vida somos todos irmãos
Todos amigos
Todos vivemos juntos
Mas
Cada um vive e dorme consigo
e nem sempre de si amigo

Quantas vezes
Um corpo
Deitado em seu colchão
Com um corpo ao lado
Não junta à escuridão
a sua solidão?


A PAZ
A paz é um desejo que sempre se desfaz

NUMA SÓ QUADRA
Numa só quadra
Digo tudo que tenho a dizer
Tudo que aconteceu foi no tempo antigo
O resto no futuro vai acontecer