Figas no Jornal de Notícias

Figas no Jornal de Notícias
Aquando da entrevista ao JN nos seus 120 anos.

Poder

Pensamento do Conde:
O poder não reside em quem pensa que manda mas sim em quem desobedece.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Papagaio forte

PAPAGAIO FORTE
O Nelinho era muito inteligente, porém, muito distraído.
Como era muito amigo dos animais que havia lá em casa; cães e gatos, em liberdade no quintal, esquecia-se de fazer os deveres que os professores mandavam! Um dia, a escola mandou uma carta para alertar os pais que Nelinho não mostrava os resultados de que era capaz.
Perante esta informação, os pais tomaram providências. Como todos os meninos gostam de prendas, acharam por bem, e como estímulo, prometer-lhe um papagaio, caso Nelinho se aplicasse nos estudos.
Foi remédio santo! Perante tal perspectiva, Nelinho aplicou-se a fundo e, à noite, enquanto não adormecia, imaginava a cor do seu papagio. Seria verde e amarelo? Amarelo ou cinzento? E o nome? Que nome é que teria? Que bom, um papagaio só para ele. Deixaria de ter inveja daquele papagaio, que no seu poleiro, à entrada duma grande casa, e visto da rua respondia a quem lhe perguntava:
-“Papagaio louro, quem passa?”
-“ É o Rei que vai à caça”
Ao ouvir a resposta, Nelinho ria de contente, enquanto o papagaio imitava seu rir!
Não tardou a que as notas começassem a melhorar, chegando ao ponto de ser considerado o melhor aluno do ano.... e da escola! Na festa do final do ciclo básico obrigatório, além do Diploma, recebeu dos professores, dos pais e amigos uma grande salva de palmas. Seus pais, sem que ele soubesse, já tinham mandado vir o papagaio do Brasil, escondido numa caixa de sapatos. Era ainda bebé, e com penugem!
De manhã, já depois de ter tomado o pequeno almoço, a prenda foi-lhe apresentada. Imaginem a alegria do Nelinho. Primeiro ficou meio basbaque, a olhar, a olhar! Depois, num impulso afectivo, quis acariciar o papagaio, mas este, receoso, não correspondeu, rejeitando o gesto. Os pais explicaram que era preciso muita paciência! Paciência foi o que não faltou ao Nelinho e aos seus amigos, que lá iam a casa ver a prenda faladora do amigo. Dia após dia, os progressos eram galopantes! Nelinho, dava de comer, dava de beber, estava sempre a falar para ele. A grande questão tinha sido escolher o nome, mas como os papapaios falam muito e nada escrevem, o conselho familiar decidiu dar o nome de Sócrates, que depois passou a ser um senhor de dois poleiros; um no cimo da escada da casa, donde era visto por quem na rua passava e que com ele se metiam e outro na sala de visitas. Aprendia tudo e não tardou a imitar o choro ou o riso das crianças, e até assobiava músicas, sendo aa marcha do filme “A Ponte sobre o rio Kwai” a mais apreciava! A chatice foi quando aprendeu a chamar a Dona Rosa (a vizinha da frente), que muitas vezes vinha ao engano, pensando ser o carteiro ou o padeiro. Também ladrava como os cães e miava como os gatos!
À noite, no seu poleiro de sala, partilhava, com a família, as sessões de televisão, imitando os locutores e aprendendo línguas!
Por vezes, era solto na sala e dava uma volta de reconhecimento. No final pousava no ombro do Nelinho, a quem catava as pestanas, com muita ternura! Aos estranhos parecia uma perigosa operação às cataratas!
Nelinho continuava bem nos estudos e Sócrates ia-o acompanhando nas habilidades discursivas. Tudo entendia e tudo imitava!
Um dia, os pais de Nelinho, como reconhecimento da sua aplicação , oferecerem-lhe uma viagem de avião até Lisboa, na companhia do seu papagaio!
No dia marcado, chegados ao Aeroporto, Nelinho, e seu papagaio ao ombro, viu ser-lhe negado o embarque, porque Sócrates teria de ir numa gaiola, no porão.
Toda a família protestou, porque Sócrates era pacífico, garantiram que não saíria do ombro do Nelinho, porque a ele preso. Além disso, Sócrates apercebendo da situação, logo disse :
“Eu não faço mal, não ferro, não pico e não mordo”. Ao ouvir este português escorreito, o chefe dos aviões ficou surpreedido e pediu para fazer uma experiência: queria que Sócrates, já grande forte papagaio, com forte bico, fosse solto e pousasse no seu ombro até receber ordem em contrário. De bom grado, Nelinho deu ordem a Sócrates para ir agradar ao senhor, e se este quisesse até receberia um beijo. A oferta foi aceite, porque o chefe dos aviões gostava muito de papagaios e sabia das suas potencialidades.
Sócrates passou no exame, depois de ter feito umas festinhas ao examinador! Como a famiília de Nelinho era numerosa,
-ocupavam seis cadeirasno avião- Sócrates, no meio deles, e preso a Nelinho, não seria problema de segurança, tanto mais que tinha todos os certificados de saúde em dia.
De qualquer modo foi um caso excepcional!
O avião levantou, mas passados pouco minutos, um dos motores começou a “tossir”, “a tossir”; a falhar! A cada tossidela, o avião estremecia e perdia altura. O alarme soou. Os passageiros entraram em pánico. A tripulação tentava acalmar os ânimos. Sócrates, calmo, muito calmo, perguntava o que se passava. Disseram-lhe que o avião tinha de aterrar de emergência. Após um motor ter falhado, outro também já se tinha calado!
-“Soltem-me. Soltem-me. Eu posso ajudar” dizia Sócrates.
O avião já só planava!
-“Soltem-me, eu ajudo, eu ajudo. Eu posso ajudar”, pedia Sócrates.
Como o avião já estava despresssurisado, fizeram-lhe a vontade, tendo-se escapulido por uma porta da cauda, entretando aberta, e ainda a tempo de, com seu bico forte, muito forte, segurar o bico do avião, ajudando-o a pousar, devagarinho no chão!
Uf! Acabou tudo em bem!
Mais tarde, os passageiros, como reconhecimento e gratidão, mandaram fazer uma estátua do papagaio forte, que com seu poderoso bico tinha segurado o “bico” do avião, ajudando-o a pousar no chão!
A estátua de Sócrates foi colocada no aeroporto, e cada passageiro ofereceu um quilo de amendoins a Sócrates, como recordação. Sócrates só os começou a comer depois de recuperado da constipação que tinha apanhado por ter saído fora do avião a grande altura! Fazia um frio do caraças! Mas, aqueles amendoins eram bons para coisas as ruins!
Sócrates não tardou que , de contente, no seu poleiro, chamasse a Dona Rosa, e lá vinha ela, senhora idosa e boa pessoa, ao Sócrates dar dois dedos de conversa, de prosa!
Ultimamente, o que ele mais imita é um motor de avião a falhar, logo seguido de:
-“Soltem-me, soltem-me, eu ajudo, eu ajudo”
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Autor deste original e inédito:
Silvino Taveira Machado Figueiredo
(figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar.PORTUGAL .

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