Figas no Jornal de Notícias

Figas no Jornal de Notícias
Aquando da entrevista ao JN nos seus 120 anos.

Poder

Pensamento do Conde:
O poder não reside em quem pensa que manda mas sim em quem desobedece.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Abc poético (do Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque)

AB C
POÉTICO

(“poesia” não tratada

FIGAS DE SAINT PIERRE DE LÁ-BURAQUE

Índice do caderno abc poético
A benção 41
A cada passo 58
A contra gosto 20
A doença 31
À espera dum tiro 40
A esta hora 7
A grandeza da ignorância 29
À lua 59
A um coqueiro 53
A temática da informática 23
A vida dá vida à morte 36
Abandonaram o menino 47
Abril dói 56
Achamento p10
Acordar 34
Afagos 26
Afasto-me 52
A um coqueiro
África de(n)ngola 13
Afundanço 46
Agenda 35
Aguenta 15
Ai as bruxas p6
Ainda bem amigo que regressas amigo 22
Ainda bem que 62
Além da idade 19
Além da língua 17
Alma 27
Almocei bem 44
Alquimia 43
Alto pare tudo 12
Alturas escuras 18
Amar alguém é banal 21
Amor é como pão 50
Amor é um poema 32
Amor em férias p9
Amor feito no ar 39
Amor o maior bem 37
Angústia 65
Anos tantos 25
Ânsia 42
Ânsia (regresso ao amor) 51
Antes virgem de tinta 30
Ao porto da bola 64
Aos marinheiros submarados 14
Aos mortos que vivem 33
Aos poetas 60
Aparelhados 49
Aperto saudoso 24
Ardendo 57
Arte erótica p8
Artista 16
Assobiando pró’ar 55
Assunto supremo 54
Até um dia 63
Autoclismo 28
Auto pista 61
Baptizado 68
Beijos 66
Beijos e sonhos 71
Bem fundo está mas está 75
Boa noite 67
Borboletas 70
Botas 69
Cai neve 84
Caídos pelo chão 73
Calendário 92
Calma 78
Caminhar 85
Caminhos cruzados 100
Casamento 79
Cavador 96
Cavalos 86
Céu vazio 80
Charlotte 83
Chatice 98
Cheio de fome 81
Chove 90
Cinzento 91
Círculo da pedinchice 76
Clamar 87
Coisas malandras 82
Coisas que acontecem 72
Colar de pérolas 93-94
Como um sol deitado 74
Comunicação 101
Confesso 77
Coração bomba 88
Couraça 99
Credenciais 95
Criar raízes 89
Desconhecimento 97
Estudo ignoto 38
Palco poético p11
Poema retalhado 48
Talvez 45

introdução
difícil apresentar estas linhas, pretensiosamente poéticas, sem ater a regras e rimas pré estabelecidas, porque são apenas fluídos dos sentidos, que brotam dum ser humano, que, sentindo-se livre, assim os exprime, assim os vive.





Ai as bruxas

Ai as bruxas e bruxos
que por aí há
todos adivinham o futuro
ele é por cartas
ele é por búzios
outros até por “púzios”
ele é pelas entranhas e por outras manhas
até adivinham o futuro através dos astros
para quem na vida anda de rastos
já não bastam deuses para suas vontades
recorrem a videntes para descobrir verdades
mas que se há-de fazer
desde sempre houve bruxas e bruxos
e não faltam crentes para lhes encher os buxos
não falta quem
cheio de pressa
querendo ver o futuro no presente
vá nesta conversa
X



A esta hora

A esta hora milhões morrem de fome
a esta hora milhões morrem de sede
a esta hora a miséria milhões consome!
a esta hora está tudo...como não deve

a esta hora os ricos estão mais ricos
a esta hora todos pedem felicidade
a esta hora ouve-se milhões de gritos
a esta hora milhões pedem caridade

Mas
a esta hora
onde estão os bons governos

A esta hora
nnde estão as boas pessoas
a esta hora
onde está o que merecemos

A esta hora
vindos de muitas lisboas
vêm pedidos para parecermos felizes
boas pessoas...
mesmo que sendo pequenos

A esta hora
hora nunca no tempo acertada
sempre para a felicidade atrasada

A esta hora
-há sempre uma maldita hora-
fora de todo o tempo
sem tempo para uma bela aurora!
X



ARTE ERÓTICA

NUMA EXPOSIÇÃO DE ARTE
CUJO TEMA É ARTE ERÓTICA
A MULHER DELA FAZENDO PARTE
ESPERA DO HOMEM A RETÓRICA

O HOMEM
COM SUA PENA
ONDE CORRE BRANCA TINTA
SEJA GRANDE OU PEQUENA
GOSTA QUE A MULHER A SINTA
NO SÍTIO ONDE ELE PINTA

ASSIM
EM QUALQUER EXPOSIÇÃO
CUJO TEMA É A ERÓTICA
EM QUALQUER POSIÇÃO
DE QUALQUER MODO
ONDE MULHER E HOMEM FAZENDO PARTE
DO AMOR FAZEM UM TODO
DE TODA ARTE ERÓTICA
CADA UM COM SUA RETÓRICA!
...................xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx..........
Autor: Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque
(Silvino Taveira Machado Figueiredo)
Gondomar 8/12/2007
Poema feito e oferecido ao Mestre Aurélio Mesquita,
durante uma visita a uma exposição de pintura erótica,
no Auditório Municipal, em Gondomar.





A um amor em férias

Meu amor está sempre em férias
quando à minha beira não está
cada minuto de ausência é negra noite
cada segundo de presença radiosa manhã
sei que estás longe em férias

Tu foste
a mim me retiveram
sou preciso
disseram
mas tu sabes
amor
que sem ti
por perto
perco o juízo
fico sisudo
tu para mim és tudo

Sim
tens telémóvel
por ele falamos
mas não é a mesma coisa que ter-te a meu lado

Até meu pensamento é melhor
mais barato e sempre a ti ligado

Vem meu amor
vem de férias
é o que te pedem estas letras.

Quando regressares
quando nos encontrarmo-nos
dir-te-ei ao
ouvido
palavras doces
secretas.

Vem amor

Vem de férias
põe ponto final no teu descanso
no teu torpor

Vem trabalhar comigo no amor
X





Achamento

Achar um grande português
não é difícil missão
difícil
talvez
é achar um português
que ache que sua pátria é uma grande nação

Na escola ensinam que sim
mas a realidade
cruel
que sentimos
é que não é fácil
fazer tão grande papel!

Pode uma nação não ser pequena
e grandes serem seus homens
mas tal não vale a pena
se grandes por pequenos os tomem

Embora
a alma de pequenês gema
sabe que lutar por ser grande
vale sempre a pena

Quem tem alma de português
nunca sente pequenês.

Pode o território ser pequeno
mas seu sentimento é um império
que faz do português um mistério

Difícil
talvez
é convencê-lo de que vive numa grande nação
mas isso é outra questão.
X


Palco poético

Alto
cale-se o barulho no palco
em Gondomar fique só o silêncio
o expectante encanto
para dar lugar à ode
à elegia da poesia

Preparai-vos para o espanto
para escutardes os poetas
com suas diversas vozes
dando voz à poesia

Cada voz é um quebra noz
que ribomba na abóbada
e em nós faz eco

Onde houver poesia
há poetas por perto
decerto



Alto páre tudo

Alto
páre tudo
é só para dizer
que mais uma neta me acaba de nascer
já conto quatro
esta última foi a prenda
que pai-natal me pôs no sapato
o que sinto não sei descrever
desculpem se falei alto
foi mesmo só para isto dizer.
os poemas que virão
bonitos serão
com rima no coração

Talvez tenha o título de
"Primeira Ternura"
e será mais ou menos assim:
Nasceste num frio domingo
manhã com manto de neve
um frio de rachar
tua mãe no hospital
tua avó em casa
em espera serena
o sol subindo ao meio dia
até que esmaecendo na tarde

Às seis tocou o telefone
nasceste!

Correram-me lágrimas pelas faces
-“como está ela” perguntei
dorme
disseram-me

Fico-me por aqui
o resto virá depois
vou contar-lhe histórias
vamo-nos rir
os dois.
X


África de (an)gola

Antes
branco conquistar preto
depois preto matar branco
agora preto mata preto a eito
a mundo mata que se farta
na busca dum mundo novo
ficar áfrica sem africanos
bem limpo o kosovo
a Índia
o Paquistão
o Afeganistão

Afinal
que importa a morte dum milhão
na palestina
ou que seja menino ou menina
X


(aos marinheiros do submarino russo Kursk)

Aos marinheiros submarados

Não tenho um deus para oferecer
apenas um religiosos desejo
que os pais
que os filhos
que os amores guardem
como lembrança
o último olhar
o último forte abraço
o último beijo

Quanto ao resto
no mundo não há nada de novo

O velho
com experiência
aconselha o menino
e diz:
-"cuidado
não brinques com o fogo,
olha que te queimas"
Mas os meninos brincam
e se queimam!

Os adultos também brincam com o fogo
fazem submarinos para matar
um deles se afundou
agora
põem-se a chorar!

Pena
muita pena

Só um beijo
só um abraço
só um olhar resta para recordar
mas continuam a fazer submarinos
um dia mais um vai naufragar

Que pena
não tenho deuses para dar
só resta chorar
desejando paz para os vivos
e para quem afundado jaz
que descansem am paz
X


Aguenta

Quantas saudades deves ter do teu Portugal
das praias do teu mar
das festas populares
das bandas a tocar
dos ranchos a dançar
do são joão no porto
do santo antónio em lisboa
do vinho e da broa
da sardinha assada
do presunto
do bacalhau ou das migas
do minho
do alentejo
da ponta de sagres
onde termina teu mundo
aguenta
és português
és poeta
sê camões pelo menos uma vez
quando puderes aparece
Portugal não se esquece cada português
porque no fundo
cada português
é uma parte do mundo



Artista

Que é ser artista
é ser empresário de sentimentos
escultor de formas
criador de sons
ser alado
criador de ilusões
escritor de escritas
de desditas
de histórias de amor
de esperança
ou saltibanco circense
que é ser artista afinal
eu sei
é tudo o que um homem noutro vê
que vendo nele parte material
também vê
em sua arte
a parte sobrenatural
só quem a tem é que é artista
com a boca
com a mãos
com os pés

Mas
atenção
os dons são de deus
não digo qual
porque há por aí muito “artista”
que com seu deus
pobres diabos conquista
x

Além da língua

Os poetas usam palavras como armas
carregam-nas e disparam
as palavras matam
ferem
“fodem” ditadores
derrubam ditaduras
mas também cantam amores

Os poetas fomentam revoluções
palavras são munições
delas não têm míngua

Ah
mas os poetas não “fodem” só ditadores e ditaduras
os poetas também têm suas ditas
e cantam seus amores
de palavras não têm míngua
cantam com todas as armas
além da língua
X


Alturas escuras

Cada segundo
que na vida passa
junta-se à vida passada
e a vida é um dom de graça
que de graça nos é dada
cada segundo
que está por vir
do futuro será presente
um sorrir
ou chorar de muita gente

Quem vive nas alturas
para do mundo ter melhor visão
um dia terá tonturas
e das alturas virá ao chão

Tudo ficará às escuras
esperando clarão
para ver o alto
donde deu o salto
mas agora
deitado ao chão
X


Além da idade

Num corpo de criança
que idade tem a esperança?

O espírito tem idade?

Num corpo maduro
que idade tem o futuro?

Num ser vidente
que idade tem o espírito presente?

Que mania de perguntar!

Ficais sem respostas?
não
não vos levo a mal
nos vossos espíritos maduros
vossos espíritos dançam
brincam
riem!

Há espíritos velhos e novos dentro de vós
e de mim!

Quando algum se manifesta
e ganha direito à expressão
expressa-se em nome de quem
a mando de quem?

Que idade tem o espírito que responde?

Talvez seja o espírito velho da humanidade
que no homem tudo esconde
além da idade

O grande espírito dá a melhor resposta
e faz que qualquer um responda
e mostra só do que gosta
X


A contra gosto

Quisera que o sonho fosse realidade
que o desejo fosse concreto
racional livre
liberdade não desejada
que não houvesse sede de nada
quisera que o sol sem sombra
que não houvesse línguas
não não houvesse cores
nem marés
que não houvesse senhores
excelências
e outras indecências
que não houvesse ventos para me trazer lamentos
nem alfabetos para criar analfabetos
quisera que não houvesse deuses
nem juízes
nem políticos
nem reis nem papas

Tanta coisa que eu não queria
mas
cercado por tudo
que me é imposto
sou obrigado a viver
dia a dia
na maior parte a contra gosto

Amar alguém é banal

alguém sabe o que é amar?
há algum manual?
algum livro de instruções?
amar é apenas
o natural sentir dos corações
amar é irracional
não tem quantidade
amar alguém é natural
difícil é amar a humanidade
X


A
inda bem que regressas....amigo

Sinto alegria
ainda bem que regressas...amigo
és abóbada do meu templo
onde ecoa meu sentimento
é bom ter amigos
sem amigos por perto
maior é a vastidão do deserto
perde-se o norte da vida

Um amigo
pode até nem ser ajuda material
pode até nos contestar
provocar acesa discussão em
busca da verdade
mas é bom ter amigos
ou até mesmo inimigos
desde que ajudem na busca
no homem
de mais humanidade
X


A temática da informática

Um computador
um teclado
o bater das teclas
escrever palavra amor
gravada em milhões de sites
ocupando
biliões de bytes no mundo da informática
esperando que se passe à prática
X



Aperto saudoso

Saudade é aperto suspenso
bate à porta da esperança
surge a cada momento
e outro longe alcança
saudade é combóio de desejos
vai numa só direcção
as carruagens levam beijos
e enleios de coração
saudade
negativo duma lembrança
duma bela fotografia
está sempre em arquivo para
olhar todo o dia
saudade é lembrar-se de algo
sonhar com o que não se tem
é como o pobre querer ser fidalgo
e fidalgo já não ser ninguém

Não tenho saudades de nada
nem da vida que me gastou
só vou ter saudade dobrada
de já ter sido como não sou
X

Anos tantos

Nisto da contagem dos anos há
quem os queira mais
e quem os queira menos
mas
na contagem dos nossos anos não há enganos
dizem-nos quantos temos
mas não quantos teremos
é tudo um mais ou menos
X


Afagos

Lembro-me dos tempos de menino
brincava com latas de café
era ainda menino de colinho
e mal me aguentava de pé
doces recordações de criança
no coração eu resguardo
pois são sempre minha esperança
quando
em desespero
as afago
belos tempos
os da infância
cercada de muitos mimos
rodeada de muita tolerância

Que bom
em adultos sentirmos
nesta vida de luta e de ganância
o prazer de termos sido crianças
x



Alma

Neste corpo que me tocou
vive ela
dele aliada

Para todo o lado que o corpo vai
vai por ela acompanhada

Meu corpo
dela vaidoso
ela melhora seu aspecto
e no meu olhar luminoso
é ela que brilha
decerto

É sócia maioritária nesta
sociedade da vida
tem asas para voar

Quando meu corpo
-capela mortuária-
der a partida
é dela que ficam a falar
enquanto dela teve vida
X


Autoclismo

Um faz isto
outro aquilo
outro a metro
àlguém à tonelada
outros.... nada
há quem de tudo faça exposição
eu não
não me agrada
pois toda a obra
que de mim sai
trabalhosa
penosa
quando vê a luz
é só minha
só eu a pus

Sou modesto
não gosto de minha obra em exposição
outros gostam
eu não

Só eu admiro toda a obra
que de mim sai

Sózinho a faço
com gemidos e suspiros
depois puxo o autoclismo e
toda a minha obra se vai
sanita abaixo
aliviado respiro

Mais tarde
de outros vejo obras em exposição
puro snobismo
à espera do autoclismo
X

A grandeza da ignorância

Quem sabe
sabe a grandeza da sua ignorância

Quem nada quer saber
só a deuses dá importância
passa a vida a rezar para saber a verdade
mas certo
certo
é que o mundo é da verdade analfabeto
X



Antes virgem de tinta

Não sei por onde vou
não tenho mapa de direcção
só a intuição guia a mão
movimento da esfera em compassos de espera
hesiatções na rima
parva preocupação
poesia é como o vestir
saber ligar as cores
bem vestir um sentimento
ressaltara a harmonia na
poesia dos temas do coração
antes virgem de tinta o
papel onde caem letras em tropel
e ficam escritas pedaços do sentir em
pensamentos voláteis
gestos fáceis na folha já manchada

Olho o que escrevi
nada
nada do que sou
embora poesia por vezes rimada
como pessoa bem vestida
mas vazia de vida
que de amor se quer activa

Mais valia o papel ter ficado virgem de tinta
assim é como mulher violada
sem que amor sinta
X


A doença

A doença anda por aí
pedreira do caminho do céu
cobra portagem em cada lanço da íngreme subida
não importando o sofrimento
dizendo que cada ai a dor redime

A doença é assim
cruel
nua
disfarçada sob qualquer véu

Na doença
que um vai sofrendo
vão-lhe dizendo que assim é
que se ganha o céu
e por cada cada um que o alcança
na terra ficam outros com esperança
mas não é fácil a viagem sofrida
na pedreira da subida
pagando portagem
para ter eterna vida
X



Amor é um poema

Maneira estúpida de se fazer poesia
olhar a lua e fazer-lhe um poema

Poetas
com essa estúpida mania
metem-me dó
metem-me pena

Neste mundo
moderno e avançado
com máquinas que fazem tudo perfeito
já fazem poemas acabados
os poetas já não precisam de jeito
mas há que procurar o amor
não o das máquinas produzido
encontrá-lo sem temor
é preciso procurá-lo a eito

O poeta que o achar será favorecido
pois encontrar um amor
é encontrar um poema...já feito
X


Aos mortos que vivem

Mortos são
mas vivos em mim estão

Minha mãe vive no meu olhar
meu pai nos meus gestos
meu avô no meu talento
que escondido tenho por dentro

Eu vivo como vivo
como outros já viveram
faço o que fizeram
em mim vivos não morreram
sou sua continuação
mortos são
mas em mim vivos estão

Se cada um já não vejo
vejo-os em cada estrela
em cada lampejo

A cada um meu poético beijo
X


Acordar

Naquela hora
quatro da madrugada
mas dormir....nada

Quando me deitei
à uma da madrugada
no céu não havia claridade
escuridão como breu
na cama só eu
inquieto

Quatro da madrugada
mas nada
mais uma hora passou
eram já cinco
ainda não dormia
insónia como companhia
seis da madrugada
mas nada
quase com a noite fora
quase a chegada da aurora

Finalmente adormeci
alta a manhã quando acordei
saltei da cama para a vida
vivi
mas acabei por me rir
pois vi outros na vida
acordados a dormir

Desculpem se vos acordei
X


Agenda

Acordo
abro a janela
o sol cumprimenta-me com alegria
devia recebê-lo como prenda
mas não
olho para a minha agenda
tem o que tenho a fazer neste dia
tenho de fazer isto
mais aquilo
ainda o que de ontem ficou por acabar
lá vou eu
tenho de trabalhar
o sol sempre a subir
não lhe ligo
penso que sou livre mas
tenho obrigações a cumprir

livre
livre
como gostaria de ser
mas não
da agenda tenho escravidão
só à noite
quando me deito
estando tudo feito
é que sou livre no meu sono
nos meus sonhos
no meu sonhar
sou livre
mas só na escuridão
quando o sol nasce
nasce mais um dia de escravidão

Ah
como gostaria de ser livre
X


A vida dá vida à morte

Por mais que seja querida
não há vida depois da morte
só que
para a vida ter um norte
pensa-se que a vida
depois de morta tem essa sorte

A vida é tão desejada
que o homem
até dá vida à morte depois desta sepultada
mas não há vida depois da morte
a vida só dá vida à morte
para que a vida tenha
em vida
um norte
e a maior esperança
é que a vida
depois de morta
viva na nossa lembrança
X


Amor o maior bem

Amor é eterno bem que não se tem
e que se busca logo de nascença
é um eterno jogo do vai e vem
sem que para sempre nos pertença

Amor... amor penso que és só minha
apenas te achei, não te comprei
agora tenho um bem que não tinha
mas receio qu’um dia o perderei

Amor há quem o queira livre
isso não se pode compreender
amor: só quando preso noutro vive

E, como sempre
teu amor quero ter
para ser o maior que já tive

Com laços de amor te quero prender
X


Estudo ignoto

Cada criança aprende
após nascer
vai pela vida aprendendo
mas quando quase tudo perceber
eis que
tudo começa esquecendo
até soltar dolorosa expressão:
-"quem me dera ter nascido agora
porque
com a minha educação
teria sido doutor ou doutora"

Aprende-se
sempre
até morrer
do que não se sabe
ou do que se quer saber
pois que

O estudo da ciência
revela-nos a importância
do bom que é sempre estudar
e de tudo um pouco entender
para compreender nossa ignorância:
nosso estado em permanência
X


Amor feito no ar

Qualquer aviador
que voe sobre as núvens do céu
se encontrar um amor
é uma paixão ao léu

a muitos metros de altitude
qualquer amor é aéreo
e o amor perde a virtude
de ser levado a sério

Um amor feito no ar
está sujeito a turbulência
pode até se desintegrar
mas
na terra há a demência de se pensar
de que só com o amor
se pode voar no mundo da quinta essência
porém
uma amor não se faz
ninguém o faz perfeito

perfeito
só quando no peito se traz
de nascença
um amor já feito

por vezes amor
não é entre só homem e mulher
nem só entre macho e fêmea
pode alguém amar alguém qualquer
se o sentir alma gêmea
X

À espera dum tiro

Sento-me
levanto-me
estou inquieto
não estou bem em nenhum lado
não estou sossegado
e não sou refugiado
sento-me
vejo televisão
....notícias do afeganistão
leio um jornal
notícias do afeganistão
ligo o rádio
só notícias sobre o afeganistão
afeganistão é o que está a dar
análises políticas
diplomáticas alianças
políticas em muitas danças
etc etc

Continuo inquieto
olhar inquieto
como o das crianças
não sou nenhum refugiado
do que se passa não me admiro
pois o homem
há milhares de anos que isto faz
guerreia enquanto prega a paz
não sou refugiado
não estou sossegado
inquieto
não me admiro
estou à espera de levar um tiro
depois
outros
que cá ficarão
explicarão
de como fazer guerra a bem da paz
pum pum
já está!
X


A benção

Dê-me sua benção
deus te abençoe
era este o diálogo quando
eu saía ao encontro do meu padrinho a
caminho de sua namorada
às vezes dava-me cinco coroas
então
era eu quem o abençoava
naqueles abençoados domingos

Hoje fui à missa do seu sétimo dia
há muito tempo que o não via
agora
não tenho mais a quem pedir benções
nem mais cinco coroas

Sinto dor
fui à sua campa
deixei-lhe uma flor e pedi-lhe baixinho:
dê-me sua benção
para o resto do meu caminho


Ânsia

Maldição
não poder ser livre para livre ser
maldição tudo ver e reparar
e criticar

Queria apenas ser livre como o vento
maldição
que de mim só lamento
se eu fosse cego
se eu fosse surdo-mudo
que seria do meu todo?

Maldição
de não me libertar desta opressão
ver
reparar e criticar
julgar
comparar

Queria ser como o vento
mas o vento também pára
também se amarra de vez em quando

Quem me dera ser apenas espelho
onde imagens apenas se reflectissem
não as retendo
nem eu
próprio espelho
as vendo

Que por mim passasse todo o passar
que eu fosse só mais algo em cada passo passado

Porquê a maldição de tudo ver
analisar
criticar e comparar?

Que me interessa o estatuto de ser um ser racional?
Que me interessa inventar o amor?

Que me interessa a busca incessante
do que está para além de todo o mirante?

Ah, esta maldição!

Porquê sou apenas um átomo da criação?
Para quê fazer tanta interrogação?
Para quê a mim dar tanta importância?

Afinal
eu sou todo só ânsia
X


Alquimia

Queremos transformar o mundo
mera quimera de alqumista
de querer transformar o chumbo em ouro
nunca jamais tal conquista
não dominamos a matéria
nela apenas nos incorporamos
não transformamos o mundo
porque também não nos transformamos
e continuamos a usar o chumbo para
fazer do mundo um túmulo

Todavia
temos sempre a esperança numa mudança
difícil tarefa de levar a cabo
é que há tanto chumbo
....e é tão pesado.
X


Almocei

Almocei bem
fiz boa digestão
vi os problemas do mundo
dos que não têm pão
dos que estão lá longe
e dos que cá dentro estão
trás-os-montes perdeu

Em dez anos
um terço da população
todo portugal é
atraído pelo litoral
para o mundo industrial
para o mundo serviços
para trás ficou o mundo ruraL
a técnica de encher chouriços

Ah
e então as auto-estradas
para desenvolver o interior?

Vê-se
borboletas atraídas por luzes da ribalta
pelas cidades do litoral

Já antes assim era
marinheiros sempre
nas praias de Portugal

Continuei a fazer boa digestão
analisando os problemas
lá longe
mais os de perto que cá estão

Desliguei a televisão
melhores dias virão
X



Talvez

Se eu fosse mulher
seria um verbo d’encher
como sou homem
sou um verbo d’esvaziar
com muitos tempos passados
e poucos futuros pra praticar!

Qual o meu verbo?
d’encher ou d’esvaziar?
X

Afundanço

O encontro da água com a terra
esta do mundo um quinto
água que seduz na sua profundidade
e do seu labirinto
água que na superfície faz praias
que nas nascentes faz fontes
e que a marinheiros
de muitas raias
abre novos e largos horizontes
no mundo há mares de muita água
mas também muitos desertos de sede
e mares de fome
e de sede de água
como jamais o mundo teve

Se toda a água
que o mundo tem
a seu quinto de terra matasse a sede
então
não haveria tantos marinheiros
que navegam em grandes mares
cheios de fome
como jamais o mundo teve

O encontro da terra com a água
que encanta com seu muralhar
torna-se num cântico
para o seu qinto
para o afundar

Restam só ilhas de abastança
e oceanos
só de esperança
X


Abandonaram o menino

Falta pouco
vejo-os correr

Sacos cheios em mãos de corpos vazios
perdidos
mas com felicidade
em etiquetas de sacos
e mais sacos

O Natal está quase a chegar

Até que enfim
é meia-noite
eis o instante

Pronto
o Natal já passou
é Natal passado

Oiço o rádio:
-“menino abandonado à porta do hospital”
o menino natal acabara de nascer
mas não quiseram dar-lhe de comer

Ao romper da aurora
vi lixeiros recolhendo lixo
montes de sacos vazios
usados por corpos perdidos

O Natal já tinha ido embora
X


Poema retalhado

Fechei-me na concha do silêncio
ignorei o exterior
ganhei o interior
assumi ignorância
saciei minha importância
deixei minha estupidez
exportei jactância
saí onde entrado

Num arroubo
injectei-me com paciência
naturalmente penitente
tudo naturalmente
pregado em mim
impelido à quietude
explorador de virtudes

Rodo em giroscópio
revelo o fantástico
enfm
tudo em mim

Delirei nos sonhos
estrelas me embalaram
lavado meu horizonte
asséptica minha fronte
bastei-me de necessidades
ungi-me com verdades
rompi o pré-estabelecido
assim vivo comigo
nada mais preciso

Últimamente nada digo
está tudo dito
X


Aparelhados

No amor
há uma coisa a meditar
nem tem todos fazem amor
apenas fazem par
X


Amor é como pão

O amor é como pão
a todos nunca se dá
muitos deitam a mão
ao muito pouco que há

Por amor há quem grite
esfomeado
e de amor morre sub-nutrido
mas não falta quem dele empanturrado
e nunca dividido

Amor não se come à mão
nem tão pouco com colher
entra directo no coração
tem-no quem calha
não quem o quer

Não adianta por amor gritar
amor para todos não há
mas há sempre alguém
a tentar
ficar com todo o pouco que há

Quem grita enche seu peito de vento
o vento-lhe bate-lhe de frente
e mete-lhe a barriga para dentro
e assim morre
só com amor no pensamento!
X



Ânsia (regresso ao amor)

Amor
na ânsia de te querer
d’estar perto do teu umbigo
dou comigo a escrever
sem saber o que digo

Temo que não entendas
a ânsia de me querer dar
em mim há muitas prendas
para te presentear

No meu escrever e dizer
digo que quero ser teu querido
desgraça se tal não acontecer

Amor
saberás que ficarei perdido
se
na vida
não saber viver contigo



Afasto-me

Afasto-me dos poetas
que pegam em fios d’algodão
e tecem
com intenção
rimas a metro
com palavras obtusas
confusas
difusas
o que lhes importa é que dê certo

Afasto-me dos poetas
que violam palavras
fazendo-os parir insignificâncais

Que importa?
o que lhes importa são as consonâncias

Afasto-me dos poetas
que só conhecem a manhã
e nunca sobem ao meio-dia

Afasto-me
não quero ser contaminado

Na poesia há palavras vãs
por todo o lado



A um coqueiro, em gaibú (recife)

Foste farol verde do mar turqueza
por muita caravela avistado
em ti bricou muita alma portuguesa
quando
para beber
em ti corpo trepada

Muitos ventos alísios por ti passaram
muitas vénias llhes fizeste
brincaram ao passar no teu nordeste

Agora
outros coqueiros
ébrios
ao vento
no seu alto espaço
fazem
como lhes ensináste
vénias de beleza
e são
com tu foste
na praia de gaibú
faróis verdes do mar turqueza
onde navega muita alma portuguesa
X


Assunto supremo

Todos nascem com mãe
mas nem todos com pai

Uma mãe
é o maior bem desde o nosso primeiro ai

O homem quando sai da mãe
para duro mundo enfrentar
nunca sabe para onde vai
mas à mãe quer sempre voltar

Há quem de dinheiro seja rico
mas de educação desabrida
com base no penico
coitado
todo o dinheiro que tem
faz dele um pobre toda a vida
X

Assobiando pró’ar

Mote:
descalço anda pelo nabal
Valentim em Gondomar
quando a coisa corre mal
assobia pró’o ar!

Leva na cara branca barba
na mão ramo de oliveira
para o proteger da fogueira
com nabos do nabal se engasga
e como a coisa vai mal
descalço anda no nabal


Descobriu a arte de lavrador
artista de muitas sementeiras
que encheram tulhas inteiras
e dele fizem um “senhor”
mas agora quase a acabar
Valentim em Gondomar


Vai usando pesticidas
para matar todas as pestes
usa técnica conhecidas
em disfarçadas vestes
que usa de modo natural
quando a coisa corre mal

Não gosta que lhe apitem
apesar de duro de ouvido
não gosta que lhe gritem
pois logo fica sentido
e se continuam a apitar
ele assobia pró’ar!
X


Abril dói

Sim
Abril dói
porque Abril foi esperança
Abril foi ilusão
prolongou o engano além do dia primeiro

Hoje
reina outra vez
quem dele foi coveiro

É destino fatal
revolta dos escravos acabar mal

O capital vence sempre
e sempre que se vira à esquerda
a direita sempre espreita
e mina a esperança portuguesa
do Abril
que dói
dum povo
que quer um Abril permanente
para sempre

Abril português
para quando outra vez?
X




Ardendo

Subo
subo e escrevo
devagar
devagarinho no azul do céu
inocentemente
mas logo estrelas me perguntam
com voz forte
quem és tu?

Minha voz
tremelicas
responde
sou estrela cadente
e logo caio na terra
novamente
entre clarões de guerra
ardendo
disfarçadamente
tentando sempre subir ao céu
e agarrar-me às estrelas
firmemente
X


A cada passo
em cada passo que dou
piso tudo o que não sou
piso pó, mas não sou terra
piso deserto, mas não sou areia
piso pedra, mas não sou pedreira
piso prado, mas não sou relva

Em cada passo que dou
piso tudo o que não sou

Piso pasto mas não sou erva
porém
embora pisando tudo o que não sou
sei sempre o que serei
não o que pensais
mas sim o que ninguém sabe
.........jamais

Entretanto
em cada passo que dou
piso tudo o que não sou
por enquanto!


À Lua

Chegou-me um beijo pela net
claro
um beijo em sentido figurado
bem intencionado
electrónico

Ah
mas um beijo sonoro
mudo
gestual
ou até ao natural
é sempre um bom tónico
detonador de hipóteses

É isso
um beijo é uma prótese
ajuda
compensa
é mesmo uma recompensa

Embora eu receba beijos de muita gente
e dos meus entes
mais um é sempre bem-vindo
então
se for da Lua
até fico rindo

Aliás
sendo um beijo eletrónico
cósmico
ajuda-me a escrever o que estou sentindo
espero mais

Quando é que mos enviais?
X


Aos poetas

Tenho poemas dentro de mim
minha identidade
parte da minha construção
nunca se viu coisa assim
ministro a mandar na liberdade
querer nos outros fazer sua programação
dizer sim
ou não

Que estupor de governo este
que resvala para o autismo
não é um governo
é peste a imitar o comunismo

Ainda respiramos
ainda vivemos
qualquer dia um tiro levamos por
aquilo que dizemos
mas a liberdade nunca morre
porque do povo escorre
X


Auto-pista

Lanço-me à escrita
estricta do meu pensar
emanante do meu ser
outra coisa não podia ser
porque ninguém me pode representar
nínguém pode falar
ninguém pode escrever

Quando falo
ou escrevo
sou máquina abrindo auto-estrada
deixando de ser quelha com saída bloqueada

Minha escrita
atém-se à matéria estricta de abrir caminhos

Em se abrindo nova pista
abrem-se novos destinos
como minha mãe
que quando de novo se abriu
me pariu
e nasci eu para olhar o céu
e novos caminhos percorrer

Ninguém os percorre e morre por mim
só eu por mim posso morrer
abrindo caminho para outro nascer
X



Ainda bem que

Ainda bem que
sobre uma labareda de fogo invernal
sobre lava incandescente
sobre o desespero do medo
sobre o terror do pânico
sobre a fome abominável
sobre a miséria detestável
sobre a hipocrisia exacrável

Ainda bem que
sobre todo o mal
-que é mais de metade do bem-
que é considerado normal
há um céu azul

É só erguer a cabeça
o azul brilha sempre
sobre tudo o que nos aconteça
X


Até um dia

O mar imunda a terra
esta nele navega suas florestas
montanhas
jangadas d’estelas

Barcos e escunas
navegam nas arestas de aquáticas dunas
puxadas por eólicos cavalos
ou por outros, motorizados
mas parecem parados

O mar
deserto aquático
os barcos; seus camelos

Vão e vêm
e levam gentes
coisas
e além
num contínuo navegar
aparentemente errático
mas prático
com papéis e selos pagam tributo a Neptuno
e desaparecem
para sempre
na linha do horizonte
carregados
afundados com água da sua fonte

O mar
fonte maior que a terra tem
inunda a terra
esta nele navega trazendo notícias d’alguém
e de alguém notícias leva

Há marés cheias e vazias
porém
nelas a terra sempre a navegar
até que a terra se afunde
e que só reste mar
um mar maior
com lágrimas da terra
e do seu chorar
X


Ao porto da bola

Do porto cresceu Portugal
nele há um campeão
-é natural-
o Porto é uma nação no país do futebol

A cor mais bonita
que assenta num corpo
e que lhe dá sorte
não é o vermelho benfica
nem o verde sport
mas sim o azul porto

O céu é azul
as nuvens são brancas
as pretas estão a sul
o sol brilha nas antas

O porto é da cidade
não a deixa ficar mal
porque toda a gente sabe
daqui cresceu portugal

Coisa mui normal
o porto ser campeão
mas fenomenal
é o porto ser porto duma nação
donde se partiu à conquista
à sua frente fugiram mouros
até à mouraria da luz

O porto fez um brilharete
para os mouros foi desdita
enfiaram um barrete
e agora andam de capuz

O porto é um farol
que ilumina Portugal
tem equipa de truz
a jogar bom futebol

Outros
outrora gigantes
de jogar bem perderam calo

O Porto tem um pinto
dos grandes
que agora
e desde há muito
canta de galo
X


Angústia

Sou rio
que corre para a foz
que leva montes de lágrimas de fontes
que vão ficando para trás
mas escutando sempre uma voz
para além do mar
para além do horizonte
onde a vista se desfaz

Gostaria de ser só eu
mas eu sou feito d’outros
escrevo o que alguém já escreveu
versos sãos
podres e loucos

Apetece-me arrear a giga
ou meditar sobre a carga
quem é que a isto me obriga
quem é que isto me paga
como fazer preço a um sentimento?
como cobrar sua exposição?

Um poeta anda sempre nu de alma
permanentemente em exposição
X

Eterna dúvida
eterno querer ser eu a comandar meu querer
meus versos
meu escrever
mas alguém os dita
e cada verso que de mim sai
tem sempre raíz profunda
na árvore de minha mãe ou pai

Sou rio que corre para a foz
que leva lágrimas de fontes
que vai ficando para trás
mas ouvindo sempre uma voz
para além do mar
além dos horizontes!
X


Beijos

Um beijo
não dura mais que a suspensão da respiração
é pouco
por isso é que se dá outro
e outro
e mais outro
X


Boa noite

Quase só noite na terra
mas ainda um halo de claridade no céu
é fim do dia

O risco do cume montanhoso
faz fronteira entre céu e terra

O sol
acabado de descer pela escapa da tarde
deixa alguns reflexos à noite
que se avizinha
preparando-se para seu turno
nocturno
da outra metade do dia

Não tarda que deixe de haver horizonte
não contraste da luz e que reine a escuridão
paro de escrever
minha pena quer dormir
mas há quem trabalhe de noite

Para quê prolongar o dia
e inventá-lo com vinte cinco horas?

As penas dormem
sempre
na noite do sol
ou na noite que há dentro de nós

Boa noite
deixo-vos com as vossas penas
X



Baptizado

Quando nasce um bebé
nasce um raio de sol
que ilumina a sombra da nossa vida

Quando nasce uma criança
nasce a esperança duma vida renascida

Quando uma criança nasce
nasce um raio de sol
oxalá
que ilumine a nossa sombra
como aurora duma manhã

Botas

Não há azul
não há pombas nem gaivotas
só cinzento chumbo
o silêncio das horas mortas
e um andar de botas
no meio das enchurradas
X


Borboletas

Queria deixar de ser eu
fingir que não existo
não saber que por mim morreu cristo
é o que dizem
eu tal não pedi
não
hoje não me vou interrogar
só quero observar a linda borboleta
com as cores mais lindas do planeta
que voa
à toa
pousando em flores
mas eu não sou colorido
não tenho asas nem cores
porquê
lá volto eu a me interrogar
volto ao eterno desejo do Homem querer voar
rastejar sabemos que rasteja

Voar não há quem o veja
só Cristo
que pelos vistos
por nós morreu e subiu ao céu
é o que dizem
vocês acreditam?

Também dizem que
acreditar dá asas para voar
talvez as borboletas sejam crentes!


Beijos e sonhos

Não guardo beijos
quero senti-los

Não guardo sonhos,
quero cumpri-los

Beijos são osmoses de salivas
por vezes são como cola
colam barrigas quando tardam na descola

Beijos não se guardam
como não se guardam fragrâncias de champanhe,
a doçura não se perde se não houver quem a apanhe

Os sonhos são negativos à espera de revelações
por vezes desfocados
ou tremidos de tremidas ilusões

Mas é bom sonhar.
é bom beijar.
é bom ser doce e doçura espalhar.

Não se guardam beijos
é melhor beijar com amor
mas não se guardam beijos
é melhor dá-los
senti-los

E os sonhos?

Ai os sonhos
se forem doces
é melhor cumpri-los
X


Coisas que acontecem

As coisas acontecem no
tempo e no lugar do acontecer
e parecem não ter explicação
e coisas anormais até parecem
mas têm sempre explicação
por isso
é que pareceu anormal o Porto ficar campeão
mas
é sempre natural
o Porto ser campeão de Portugal
e
por estranho que pareça
ganhou a Taça da UEFA!

Este foi o poema que me saiu da cabeça
não tem explicação
coisas estranhas que me acontecem
mas que tem sempre uma razão
ou talvez não
X

Caídos pelo chão

Na vida tenho sido muita coisa e nada
temporariamente esperando o nada
que serei eternamente

Pediram-me para editar um livro meu
disse que não

Cada poema
que escrevo num guardanapo
num farrapo
em qualquer pedaço de papel
logo de mim fica livre
e
independente vagabundeia
por aí
perdido entre gente

Pediram-me para eu editar um livro
eu disse que não
porém
se quiserem ajudar meus “filhos poemas”
basta levantá-los do chão
quando eu estiver caído
eternamente
X

Como um sol deitado

Quando o sol se põe
deita-se no seu poente de cama ardente
quando apaga a luz
só a lua fica à sua cabeceira
sob um tecto de estrelas cadentes

com o sol deitado
só com a Lua a alumiar
com as estrelas brilhar
vou eu para a cama
para o meu poente
e cubro-me com o lençol
depois
quando toco no meu amor
sinto-me na companhia dum sol
deitado
mas nascente
X


Bem fundo mas está

Bem fundo mas está
parece que não
mas tem
parece que não
mas sim
parece que sem alma
mas não
está bem fundo
mas está lá
parece indiferente
mas só aparentemente
parece duro mas é mole

Parece
mas não isto não é uma adivinha
o que cada um esconde
mais cedo ao mais tarde
vem ao de cima
mesmo os que dizem não gostar de poesia
sentem sua magia
parece que neles magia não há
mas ela está lá
bem no fundo
não a querem mostrar
parecem duros para disfarçar
para enganar o mundo
mas todos sabemos que um homem
também acaba por chorar

Quando um homem não chora
não liguem
é só aparência por fora
porque o sentimento poético por dentro está
pode estar bem fundo só para disfraçar
só para enganar o mundo
mas está lá bem........ fundo


Círculo de pedinchice

Um bebé
quando nasce
mais tarde aos pais
e aos padrinhos pede benções
mais tarde pede emprego
mais tarde vai ao banco pedir
mais tarde pede a mão de alguém
mais tarde vai pelas casas pedir pão
vai à câmara pedir casa
vai à igreja pedir perdão
às pedir descontos
mais tarde pede a reforma
e
quando está no “ir”
no morrer
porque ainda pedir é preciso
pede a deus para renescer
ena tantos
meu deus
que por tudo e por nada
andam sempre a mendigar
e tão poucos
que têm muito
pouco querem dar
porque esses não sabem pedir
souberem
sempre
roubar
X

Confesso

Confesso que
quando escrevo
deixo minha pena
ir ao sabor do pensamento
pela minha mente elaborado
sinto
no momento de escolher a palavra
mil e uma hesitação
hesito na composição
na rima
na mensagem

Hesito
não pressinto o fim do poema
quando assim estou
sem nada premeditado
sou assim mesmo
poeta inacabado
sem saber que dizer
mas não querer ficar calado
mas a querer criticar
a não querer louvar
apenas pedir

Deixai-me ser assim
não noutros mandar
mas não quero que mandem em mim
e
assim
cheguei ao fim do poema
sem saber se o queria assim

Ah
já me esquecia
não quero que ninguém mande em mim
mesmo eu
X



Calma

62 batidas por minuto é
o bater do meu coração
o que me faz parecer calmo
mas não

Calmamente
ele bate em mim enquanto gente

Quando deixar de bater
então vou irritar-me
se deixar de viver

Não é por nada
mas mesmo
depois do corpo morto
dele preciso para a alma ter calma

Para que serve um corpo ressuscitado
se nele está um coração parado

Entretanto
enquanto não tiver um enfarte
meu coração bate 62 batidas por minuto
bate serenamente
o que me faz parecer calmo
mas não
sei que não baterá eternamente
um dia acabará sua batida
o corpo não mais terá vida
o resto é conversa sabida

Infelizmente
por querer saber das batidas do coração no além
é que o coração do homem leva batidas da vida
na pobre vida que tem
X


Casamento

Casamento é um mero contrato

formalismo social
cada sócio entra com seu capital

Casamento é prenúncio de divórcio
de muitas dores
porque o verdadeiro casmento
sem contrato
é quando acontece encontro de dois amores
que pode durar apenas uma hora
só um dia
só uma semana
meses ou anos

Se não houver formal casamento
não haverá divórcios

Não havendo casamento
o amor encontra-se de tempos a tempos
até pode durar
até pode acabar
e não é de admirar o casar e descasar
X

Céu vazio

O céu anda vazio
oco
sem estrelas
apenas de negro vestido
céu
como céu
tal não é reconhecido por olhos dum terreno

Céu
sem estrelas
sem sequer uma
é tecto dum inferno

Se houver uma
pelo menos
e se essa fores tu
meu amor
ver-te-ei
toda iluminada
entre toda a bruma
X


Cheio de fome

De manhã tenho fome
logo como
ao meio-dia também
à tarde até merendo
à noite janto e
fico pronto para o descanso
para outras coisas ir fazendo
mas o espírito não tem horas de comer
nem sempre tem fé
nem sempre amor
nem sempre fraternidade
também não encontra supermercado
onde se poss comprar a felicidade
X


Comer

O corpo come bem
beber também
mas nem sempre o corpo alimenta seu espírito
o homem deseja sempre o que não tem

Muitas vezes sinto do espírito sua barriga vazia
então puxo a lua para mim e faço poesia
depois adormeço
tudo esqueço
até que novamente vem a aurora
com seu despertar
para com trabalho o corpo alimentar
mas
quantas vezes eu não passo o dia com a alma vazia?

É assim a vida dum homem
muitas vezes com abarriga cheia
mas de amor cheio de fome
X

Coisas malandras

Uma mão numa coisa poisa
não em coisa qualquer
mas
uma mão onde sempre poisa
é em coisa de mulher
não vos digo a coisa
onde a mão quer poisar
pois
antes que ela poise
há outra mão a desviar

Um dia hei-de dizer a coisa
onde a mão quer poisar
nem sempre é onde quer
é sempre num calhar
mas é sempre em corpo de mulher
onde (a)bunda muita coisa
à espera que uma mão lhe poise



Charlotte

Charlotte anda desgostosa
carente
Charlotte pensava que era amada
Charlotte ganhou forças
e disse isso mesmo ao marido
resultou

Charlotte
ao tomar banho
ficou surpreendida
ao ver que seu marido
lhe queria
docemente
esfregar as costas
com uma escova de cabo comprido

Charlotte ficou contente
e nesse dia
resolveu andar mais tempo em pelote

Charlotte gosta que lhe esfreguem as costas
X


Cai neve

Cai neve
é lindo
mas sinto frio
um frio de rachar
ainda há pouco tempo estava calor
de sufocar
mas
com este frio
cmo é que s epode fazer amor

Um enrosca-se outro enroscado fica
o amor também esfriado
até que
um dia
mesmo que frio esteja
ou calor de sufocar
haja energia criadora
para o acto de amar

O amor não quer neve
nem granizo
o ambiente que melhor lhe serve
é um bocado do paraíso

Cai neve
é lindo
mas muito frio estou sentindo
X


Caminhar

Caminhar na vida
é natural
para isso temos pernas
só é pena
que pernas saindo de portugal
as mãos
de muitos portugueses
escrevam saudades e
....penas


Mas
um português
longe da pátria
logo navega no mar da saudade
enfrenta tempestuosas monções
e é
de vez em quando
de quando em vez
um poeta como camões
em versos ou em orações

Não é impunemente que se é português
X


Cavalos

Numa romaria
com muitas luzes
cavalos em carroceis
vi senhoras e senhores
mostrando ricos casacos e anéis

Os cavalos rodavam
as crianças riam
os olhos brilhavam
suas mãos
ainda sem anéis
só acenavam
eram quatro
os cavalos eram seis

As crianças pulavam
saltavam

Coitadas das crianças
ainda tão inocentes
ainda sem anéis para mostrarem
às grandes gentes

Suas vidas cheias de alegria
enquanto que as grandes gentes
misturadas com cavalos
eu não as distinguia
só seu ouro luzia
luzia
num vida sem alegria
vazia
X

Clamar

Quando um poeta faz um poema
o declamador o declama
por quem se chama?

Há muito quem escreve
quem muito lê
mas o que lê não percebe
ou faz que nem vê

Pobre poesia
pouca gente lhe liga

Não importa
basta que o vento a oiça
e o mar em rebentação
e o horizonte do deserto
e o luar de encantar
porque a ti
poesia
basta-te o ar
tu estás em cada elemento
não dentro do homem
não

Bem pode escrever o poeta
bem pode declamar o declamador
porém
uma coisa é certa
à poesia fazem ouvidos de mercador

Pobre poesia
quão triste seu penar
resta-lhe a alegria
de que para existir
basta-lhe o ar
X

Coração bomba

Há uma bomba dentro de nós
a que chamam coração
pronta para explosão
que faz ouvir sua oz
que gostaríamos de comandar
que corre em váriasdirecções
sem saber muitas vezes qual tomar
que desacelera ou acelera
que quase estoura em paixões
de acordo com seu corpo
onde mora pela vida fora
onde luta com seu amo e patrão
que tem e que usa muitas vezes a cabeça
e ao coração diz não
mas o coração não gosta de quem lhe desobedeça
quando isso lhe acontece fica revoltado
amarfanhado
e sua grande dor
pode até originar um baque num ataque
e se num esforço poético
tiver forças para ir ao médico
dizer de sua maleita
ouvirá sempre a mesma receita:
tomar dose dobrada de amor
e ter alguma compreensão pela cabeça

Como remate bom seria
seria poesia mas utopia
que entre eles houvesse empate
nem sempre a cabeça fazer o coração sofrer
nem este fazer sempre o que lhe apetecer
bom seria que o coração não fosse só bomba
pronta para explosão
mas sim
dentro de nós só pomba
apenas doce
oxalá que fosse
X


Criar raízes

Tanta gente que há no mundo
tantas ondas no mar
tantas rajadas tem o vento
tantas dunas no deserto
e eu só grão de areia a voar

Tantas árvores tem a floresta
que meu pensamento profundo
a nada consegue chegar
a não ser
num momento
pensar que tudo isso não presta
pois
de toda a floresta
sou só uma árvore a vegetar

No mar não navego
no vento não cavalgo
tudo o que me resta
é criar raízes mais fundas
onde a elas me apego


Chove

Chove sem parar
cai água
muita água
Trombas d’água enchem levadas
riachos
ribeiros e rios
tudo regressa ao mar
e águas levam corpos gelados
frios

Além da água que do céu cai
da água que para o mar vai
vão também lágrimas de quem chora
por ter perdido pai ou mãe
ou amigos
caídos da ponte
cuja saudade
agora
só no peito mora

Mas quando parar de chover
quando de novo raiar o sol
quando enfim vier bom tempo
muitos vão tentar fazer crer
que neles a dor também parou de chover
e que de novo neles brilha o sol
mas só Deus sabe da sua tristeza
...por dentro
X


Cinzento

O cinzento pousa
razante na cumieira da montanha
o verde escuro da floresta
anuncia raízes
e a profundidade da magma
que de tudo que anda à superfície
é sua cama

Hoje o sol esqueceu-se de dourar o dia
a Lua não lhe deu banho de prata
só cinzento escuro
que reina sobre a montanha
que parece que tudo mata

Coisa estranha
toda a floresta verde espera o azul
sobre a terra castanha

Entretanto chove
e tudo corre sobre a magma
destino de tudo o que se move



Calendário

Amor
não sei porquê
estás sempre a perguntar
se eu gosto de ti
se te amo

Tu és assim
não sei porquê
não gostas do calendário
perguntas-me
sempre
quantos dias tem o ano

Cada vez que me perguntas
é folha de calendário
que de mim rasgas
sem que eu fique rasgado

Amor
quero ser teu calendário
em teu peito pendurado
X




Colar de pérolas
(a meus netos)

Quatro pérolas fazem um colar
mas
de pesadas que são
só posso pôr uma
de cada vez
em meu peito a brilhar
enquanto outras três
esperam brilhando
no chão!

Pérolas não criadas no mar
mas sim em águas de ventres
que acabam por nos encantar
por tão belas pérolas
luzentes!

Quatro pérolas andam pelo chão
qual delas a mais bela!

Quando numa pego
pela mão
passeio uma estrela!

Quando
numa pego ao colo
e encosto a cabecita a meu peito
eu
avô
todo me consolo
e em ternura desfeito!

As quatro pérolas têm nome
Inês Miguel Rita Margarida
só num pego de cada vez
cada uma dá brilho à minha vida

Mais tarde
serão noutros peitos encastoadas
serão pérolas a brilhar
sempre bem guardadas
para ninguém as roubar!

Com estas pérolas
em meu redor
doutras musas não preciso
com elas a poesia fica melhor
com mais brilho
e embora sem rimas certas
fica mais traquina
como as meninas traquinas
que são minhas netas!

Já a pérola Miguel
delas é diferente
assume outro papel
e já pensa que é gente!

O avô
que os ajuda a brincar
tem o papel de
simplesmente
os ajudar a sonhar

Este foi um poema de pérolas
que quatro são
qual delas a mais bela
mas todas em meu coração
a brilhar
e que fazem
à minha volta
um colar de estrelas
X

Credenciais

Quando entrei no teu território
não te conhecia
lembrei-me de
em ti
abrir embaixada para te cohecer
dia a dia
mas
primeiro tive de fazer reconhecimento
para te conhecer bem por dentro

Explorei-te à mão desarmada
para encontrar local de construção
disseste-me que não precisava
que tinhas um bom salão
onde eu teria sempre livre entrada
entrei
apresentei meu embaixador
que apresentou suas credenciais
lêste-as
devagar
foi a primeira relação diplomática
depois quiseste sempre mais

temos vivido em paz
com a diplomacia
que o meu embaixador faz
x

Cavador

Cavador da terra
a ela se curva
vezes sem conta
para dar de comer a senhores de monta
que por ele passam
e fazem de conta

Um cavador de letras
que se passeia pela cidade
vai diezendo
e escrevendo
algumas verdades
e a maior de todas
não considerada louca
é que no mundo
anda uma metade a comer a outra!
X


Desconhecimento

O infindo desconhecimento do princípio
infinda a ignorância do fim
infindo o desconhecimento do meio
infindo o desconhecimento do infinito
e o infinito ignorar do que somos
por que aqui viemos
para onde vamos
e o que seremos

Infinita ignorância
e do saber infinita ânsia
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Chatice

Minha alma
quando se levanta
é grande montanha
aonde tenho de subir
quando se deita é planície
onde me deito para sentir
quando nem uma coisa nem outra
é tudo uma grande chatice
só dá para dormir
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Couraça

A pele
que me cobre
esconde tudo que tenho por dentro
não deixa ver a côr de cada sentimento

Há quem tente adivinhar o que sou
porém
nunca acerta
porque eu
por dentro
estou sempre a mudar
como por fora muda meu olhar
que tudo vê por fora
mas que também nunca vê
o que dentro de mim mora
nunca me vê por dentro

Minha pele
que me cobre
nada de mim descobre
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Caminhos cruzados

Não queiras que te metam em livro
serás só areia perdida no deserto
pega em tudo
que tens contigo
e sê tu um livro aberto

Dá asas à água da tua fonte
tenta contrariar a tendência
procura que tua água suba ao monte
donde a luz tem mais fulgência

Não te preocupes que te conheçam
nem conhecido de lés a lés
depois que todos desapareçam

Caminha só com teus pés
porque embora todos te esqueçam
saberás sempre quem és

Não queiras que te metam em livros
serás só areia
perdida no deserto
pega em tudo que tens contigo
e sê tu um livro sempre aberto

Que importa o que outros digam
que importa o que outros julgam
importa
sim
que todos os caminhos sigam
em paz
nos caminhos que em ti se cruzam
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Comunicação

Falho no acto de comunicar
comunico só num sentido
sou como o vento
que
quando sopra
sopra só numa direcção
só para um lado
e do outro não traz resposta
d’alguém que se gosta

Que interessa fazer um poema
escrever ou falar

Que interessa falar de amor e amar
sempre o mesmo dilema
vai tudo no vento
a voar
sempre só num sentido
e tudo fica na mesma
porque falho
no acto de comunicar contigo

Tenho que esperar um vento
que rodopie em volta de ti
para assim eu rodopiar contigo

Só assim será possível
ter resposta ao que digo
e não falhar no acto de comunicar
quando te quero amar
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