Figas no Jornal de Notícias

Figas no Jornal de Notícias
Aquando da entrevista ao JN nos seus 120 anos.

Poder

Pensamento do Conde:
O poder não reside em quem pensa que manda mas sim em quem desobedece.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Ó eu-

Ó EU

Ó eu, desculpa esta mania que tenho de querer entrar por ti dentro, sem te pedir licença, ó eu.

Que mania! Vê lá tu do que, agora, me lembrei: tirar meu olho esquerdo (o direito, para a pontaria na vida faz-me jeito) e metê-lo boca a baixo para ver como és por dentro, ó eu.

Com livre trânsito, meu olho esquerdo trataria de fazer uma completa reportagem de ti, que sou eu, mas que és tu por dentro, ó eu.

É que tu vives no meu corpo, por dentro, no mesmo condomínio, mas levas vida secreta. Nunca apareces às assembleias de condóminos, ó eu.

Escuta, ó eu. Tu mandas-me sempre recados, mas nunca apareces!

Quantas vezes, o meu eu por fora, ao querer fazer uma coisa, logo tu, ó eu por dentro, só porque te sentes com direito a metade da sociedade do meu corpo, mandas-me uma mensagem, do género:
-“Não faças isso, ó palerma”. Já ando a ficar irritado com teus recados.

Há anos atrás, eu não te ligava ou não te ouvia, mas agora, volta e meia e meia volta, estás sempre a dar palpites sobre a vida do meu eu por fora!
Por isso, ó eu por dentro, abre teus secretos escaninhos dos teus secretos fucheiros ao meu eu por fora. Deixa que meu olho esquerdo te ponha o olho em cima. Deixa-o filmar tudo. Responde a todas as perguntas. Não te escondas. Não te disfarces.
Tu adoras disfarces. Tocas a harpa de todos instrumentos, mas logo foges para esconderes tua música preferida!

Quando meu eu por fora ri tu te ris por dentro. Quando tu por dentro choras o meu eu por fora ri! Assim não nos entendemos! Não.

Eu, por fora, tenho que ser independente. Não tenho que te dar satisfações. Aliás, não sei bem em que compartimento moras no meu corpo, que é teu apartamento. Não sei se moras na cabeça,, na barriga ou no coração! Mas, quando o meu olho regressar, depois de ter lido o seu relatório, tomarei uma decisão.

Talvez tenhas mesmo que sair de mim, ó eu.

Tens vivido sempre escondido dentro, ó eu, mas o meu eu por fora é que paga as favas. Ouve cá cada uma! A ti nunca dão castigo!
Ah, mas, de certeza que o meu olho esquerdo, quando regressar ao seu lugar, vindo do teu interior, me vai contar tudo.

-“Então, que notícias me trazes, ó olho? Que viste? Como é meu eu por dentro?. Porque é que está sempre a intrometer-se no meu comportamento? Tanto é amoroso, sarcástico, irónico, crítico, corrosivo, como deixa de ser e torna ao mesmo! Porquê?”

-“Sabes, teu eu por dentro é uma nebulosa sentimental, que pulsa sob a cosmicidade do sentir e não tem forma concreta. Está sempre a evoluir!Mas ele dá-se bem contigo, com teu corpo, embora nele viva escondido! Gosta do teu sorriso, do que dizes, do que escreves, do que fazes e do teu ar maroto, mas pediu-me para não pensares em o expulsar, porque senão o teu eu por fora logo fica morto. Ele não diz que não terá problemas em fazer campismo, por algum temp, no infinito!”

Calei-me.
Agora, a cada asneira que o meu eu por fora faz, meu olho direito culpa meu eu por dentro, enquanto o olho esquerdo com ele se ri, até que um dia esta brincadeira acabe. Isto é: meu corpo ficar vazio do meu eu por dentro e ele andar por aí, vadio, na companhia do sol, da lua, das estrelas, do vento, em toda a natureza, mas sempre escondido......por dentro!
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Auror: Silvino Taveira Machado Figueiredo
Gondomar-PORTUGAL
Texto escrito em Julho de 2001

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