Figas no Jornal de Notícias

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Aquando da entrevista ao JN nos seus 120 anos.

Poder

Pensamento do Conde:
O poder não reside em quem pensa que manda mas sim em quem desobedece.

domingo, 16 de novembro de 2008

Morteiradas em Almourol!

Morteiradas em Almourol!

Já adivinhava que algo iria correr mal ... e acabou mesmo!
Como gosto de fazer reportagens, e como colaboro para o jornal “O Criminoso” , pediram-me para fazer a reportagem do “3º Convívio dos Desabafantes e Bloguistas JN”.
Disfarçado de ceguinho, com grandes óculos escuros, e com o meu cão pastor Califa pela trela, lá me meti a caminho, via combóio, em demanda da arena do encontro. Digo arena, porque, segundo informações prévias, iriam acontecer actividades bélicas, com uma brigada estrangeira, do outro lado do Atântico, que viria impor a sua “ordem democrática” aos comunatugas e à turma do funil, assim apelidados!

Chegado ao Entroncamento, para despistar, rumei em busca de transporte fluvial pelo Tejo. Ainda tentei alugar um pequeno submarino, mas o Tejo tem pouca profundidade! Assim, aluguei uma pequena bateira, e lá fomos. Chegados defronte ao Soltejo: restaurante alcantilado na encosta, desembarquei, disfarçadamente, e comecei a deambular pelo jardim. Eu segurando o Califa e ele segurando a mim! Pelos óculos, vi que alguém, de binóculos, nos estava observando! Assim, para que não restasse dúvidas sobre a minha cegueira, preparei-me e....dei grande queda sobre a relva! Logo o Califa começou a ladrar, enquanto eu, às apalpadelas, fazia esforços para me levantar. Senti passos de alguém que se aproximava para me socorrer. Com a sua ajuda levantei-me.
-“Precisa mais de alguma coisa?”- perguntou.
-“Olhe. (isto era para ele, porque eu era ceguinho). Já agora, o senhor pode-me dizer onde fica o Soltejo? É que eu quero lá almoçar!
-“Pois não. Eu levo-o lá”.
Aceitei. O senhor apresentou-me ao gerente do restaurante. Disse-lhe que queria almoçar numa mesa, num canto, sossegado. Assim, arranjou-me uma mesa a um canto. Califa ficou deitado a meu lado, depois de ter bebido água das pedras, porque vinha enjoado, devido aos balanços fluviais! Para mim, pedi um café, dizendo que almoçaria mais tarde. Puxei por um livro, em braile, e fingi que lia!

Embora afastado, percebi que havia um pequeno grupo na sala, que falava inglês americano e também afrancesado. Ainda não eram onze horas, mas pareceu-me que estavam à espera d’alguém. A conversa era sobre temas bélicos. Aqui e acolá, apanhava palavras sobre armamento moderno. Cheguei mesmo a ouvir a palavra “granada diarreica”.
“Such a undeveloped country! Perhaps due to the number of blind men, as this one, sat here”. disse um, enquanto olhava a paisagem
Percebi que eram portugueses emigrados, porque, disse um deles:
“E se os comunatugas não vêm?” Tanto dinheiro que gastámos nas passagens!
São quase onze horas e eles sem aparecerem!
Meu cão estava a ficar muito nervoso. Eu estranhva.
-“Calma Califa, está quieto”, dizia eu, enquanto procurava passar-lhe a mão pelo lombo, para o sossegar, mas sem resultado!

De repente, soltou-se da minha mão, e de seguida ouvi o ranger duma saca pelo chão, e alguém dizer:
-“Leave it”, disse um. “Foda-se pró cão”, disse outro, lembrando-se de puro português para situações extremas. De súbito, pequenas explosões, tipo bombinhas de carnaval.
Rapidamente o ambiente ficou empestado dum cheiro insuportável, até porque todos os presentes, inalando aquele estranho gás, começaram com tosse convulsa intestinal, que mais parecia arremesso de granadas de artilharia dos cristãos contra os mouros do Castelo de Almourol. O gerente, de imediato chamou a polícia. Entretanto, apercebi-me que alguém entrou, dizendo que se chamava Mata e que tinha uma mesa reservada para um convívio.
É ele, pensei. Que não. Que não tinha chegado ninguém, mas que agora tinha que resolver aquela situação, disse o gerente. Realmente, vi que os clientes estavam todos a abandonar o local, devido à contagiante e geral tosse convulsa intestinal.
Vi o Mata afastar-se, puxar pelo telémóvel e falar com alguém.
Entretanto, a polícia, após umas perguntas, a que um respondeu que só queria pôr uns pontos nos is, outro dizia que aquilo era só poeira cósmica, enquanto outro dizia: “ God bless”.. (qualquer coisa) prendeu os donos da saca e partiram para a esquadra. Do carro da patrulha saíam estrondos, tipo morteirada, e um terrível cheiro, que queimava os arbustos da estrada à sua passagem! O gerente, em alta voz, perguntava quem é que iria pagar os prejuízos do dia? Não só os almoços perdidos assim como toda a desinfecção a fazer ao restaurante, devido àqueles estrangeiros, que tinham trazido aquelas bombinhas Ainda se fossem daquelas bombimhas de fazer só ah aha ah ah ah! . O Soltejo também tem quartos. De um deles um casal hóspede, estourando por todos os lados, saltou da janela, devido aos gases inalados, ferindo-se gravemente.

Eu, como eu estava protegido pelos meus grandes óculos, e também devido a uma constipação e estava a assoar o nariz, não foi muito afectado. Só um pouquinho! Apenas notei que comecei a andar mais rápido, porque parecia que tinha o turbo ligado! O Califa, esse já está habituado a maus cheiros humanos e tal situação passou-lhe ao lado.

Do Mata, dos comunatugas e da turma do funil perdi o rasto. Não sei se houve ou não convívio.Depois, passei pela esquadra, e soube que os americanos vão, possívelmente, ser processados por introdução de material bélico ilegal em Portugal e por homicídio involuntário, na forma tentada e por atentado terrorista químico!

Para compensar toda a minha frustração de não ter visto o convívio, fui até ao Castelo de Almourol e tirei algumas fotos! Na vinda do Castelo, encontrei um peregrino, quase cego como eu, que penosamente subia a escarpa!
-“Quer o meu cão?” Ofereci.
-“.Não. Obrigado. Cães há muitos. O que eu queria era apanhar o cão que me convidou para o convívio e não apareceu. Matava-o.”

Mais um descontente, pensei. Enganar os outros é o que está dar.

Nota do rerpórter. O director do “Criminoso” não me pagou as despesas, porque, disse ele, esta reportagem foi de merda, e ele não tinha culpa de eu também ter sido enganado! Resultado: despedi-me. Também vou pedir uma indemnização aos estrangeiros! Um milhão, pelo menos.
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Assina: Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque ( um repórter falhado, sem emprego)

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