Figas no Jornal de Notícias

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Aquando da entrevista ao JN nos seus 120 anos.

Poder

Pensamento do Conde:
O poder não reside em quem pensa que manda mas sim em quem desobedece.

domingo, 9 de dezembro de 2012

CONTA SUADA!

CONTA SUADA

Logo à entrada ela reparou e pensou:


-“Que chic!. Meus pais nunca me trouxeram aqui!”

Veio o empregado, que, solícito, os guiou por caminhos de bom ambiente, perfumado com música clássica das Bodas de Fígaro. Sentaram-se à mesa, coberta, com toalha de linho, louça fina, talheres de estilo, e a elegância dos copos de cristal da boémia, rodeando um belo arranjo floral! Ele pegou na carta do menu e dando-a a ela, disse:

-“Amor. Escolhe”

-“Não. Escolhe tu “-

-“Que tal uma santola?”

“-Pode ser”, (disse ela)

Tiveste bom gosto. Este restaurante é mesmo muito chique!

-“Tu mereces tudo”, disse ele

Depois, na mesa; no altar de sacrifícios, a santola cumpriu o seu destino de satisfazer humanos e sensuais desejos, esperando com a santola fazer catarse espiritual! Todavia, uma santola não foi suficiente, porque, de seguida uma lagosta teve o mesmo destino de viajar até ao âmago da satisfação, situado no pico da pirâmide do êxtase!

No meio do jantar, um ramo de flores foi oferecido ao som do violinista executando a Primavera, de Vivaldi

-“ Oferta da casa, disse o gerente, previamente, recomendado para que assim fosse dito.

-“Estás a gostar?”. Perguntou ele à namorada.

-“Uma delícia. És tão querido!” Meus pais nunca me trouxeram aqui, disse ela.

Ele calculava os ganhos promocionais, para os seus avanços na relação afim de preparar o casamento, tanto mais que ela era um bom partido, filha dum novo rico, emergente da corrupção vigente e certamente que algumas das sobras do seu riquíssimo eventual futuro sogro o aliviaria dos encargos no futuro, de que tanto precisava para levar uma vida com a máxima qualidade visto que o seu porte de D. Juan não bastava!

Além do mais, a namorada, ainda não tinha tido tempo de entrar na High-Society beneficiando da visibilidade de seu pai na área dos negócios públicos!

Ela nunca entrara naquele restaurante, mas, c’os diabos, alguma vez teria de ser, tanto mais que se aproximava o tempo de entrar em período de noivado proposto pelo namorado!

Ele, que também era a primeira vez que lá ia, de soslaio ia vendo que, em algumas mesas, a conta, depois de apresentada, era paga com cartões dourados! Aí, sentindo-se um pouco humilhado, lembrou-se que o seu cartão era somente de débito. Numa das mesas, reparou que alguém, após a conta ser longamente observada, chamou o gerente, que era também o proprietário. Porém, tudo ficou resolvido no meio das agradáveis notas da música clássica, que impregnava o ambiente zen.

Começou a ficar preocupado. Estava na altura da sobremesa. Que escolher?

Não evitou de olhar, mais pormenorizadamente, os preços. Chiça!

-“Eu estou cheio. Amor. Não me apetece mais nada. Só café. Mas tu, amor, diz-me o que queres para a sobremesa?”

Inevitavelmente, doce como ela era, sua namorada só podia escolher doçuras para alimentar sua ternura. Foi o que aconteceu com um reforço de doces “Barrigas de Freira”

Enquanto ela estava na fase final do repasto, eis que:

-“Vou ao quarto de banho” disse ele, enquanto se dirigia aos fundos. No regresso passou pela caixa

e pediu, receosamente, a conta.

Olhou. Não disse, mas pensou: Ui! Que tombo!”

O seu cartão de débito tinha saldo insuficiente!

Depois duma rápida conversa com o gerente, que não gostava de broncas no seu restaurante e estava preparado para todas as eventualidades, foi-lhe apresentado um papel para assinar; era uma declaração de dívida!

Dirigindo-se à mesa, acompanhado do gerente, lá estava a sua futura mulher, muito satisfeita.

Que ouvi u do gerente: -“Tive muita honra em ter mais, uma vez, o Sr. Albuquerque, no meu restaurante. Tanto mais que, agora, veio acompanhado duma linda senhora. Espero que venham cá muitas vezes”, disse, solícito, o gerente-proprietário, enquanto afastava, elegantemente, a cadeira da mesa, com todo estilo.

“-Com certeza. Gostei muito”

Ela não estranhou. Já estava a ficar habituada à etiqueta! Ele é que não.

Não sabia bem explicar, mas não se sentia com ânimo para executar o que tinha pensado, como final apoteótico daquela noite romântica.

Já em casa, sentiu um ligeiro suor na testa, que atribui à lagosta suada, que tinha comido,

Mas, tal suor perdurou até quando veio o carteiro e lhe entregou uma carta, com registo de recepção.

Era a primeira prestação por conta da conta!

Aquela lagosta seria, realmente, muito suada, ...em prestações!

Enfim. Cenas dum D.Juan com jeito para amores, mas para contas não, embora fosse um técnico das Finanças, que já tinha topado os negócios do futuro sogro. Pensava que o teria na mão! A verdade, é que a corrupção exige sempre uma sociedade, neste caso seria alargada, para permitir muita lagosta suada!.......................xxxx------------Autor:Silvino Taveira Machado Figueiredo-Gondomar

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