Incendiou duas cabeças!
Ele achava que não merecia, mas ouvia:
-“Tu não ajudas nada! Não fazes nada!
Mas, ó querida, é só pedires. Diz lá que eu faço.
-“Só pedir?! Então não vês o que é preciso fazer? Não vales nada, senão fazias sem perguntar!
Ele não achava justo tal recriminação, até porque contribuía com seu cabedal para cada refeição, além de a conduzir até ao hipermercado e ajudá-la nas compras, conduzindo o carrinho, pagar as contas e até com ela jogar à bisca!
Mas, ela era exigente! Queria que ele em tudo fosse competente e em tudo ajudasse. Tudo o que não sabia ele tinha que aprender! Bastava ver fazer, segundo ela!
Que fazer? Ele Andava triste. Mesmo triste por ser tão incompreendido, embora reconhecesse ser um pouco distraído e por vezes vê-la a trabalhar, e ficar só a olhar o seu jeito e eficiência!
Ela pouco reconhecia a ele o seu talento para outras coisas que não as do sustento!
-“Estás a ver? Seu cegueta! Estás aí parado e eu aqui a fazer tudo! Depois admira-te de eu dizer que não vales nada, que não sabes fazer nada!
Tu, que te dizes um homem moderno, saíste-me cá um songa!”
Estas cenas repetiam-se frequentemente.
Ela andava desnorteado. Precisava de estabilidade mental. Não. Assim não dava. Não podia continuar. Não podia ser. Tinha remorsos de não saber fazer o que ela queria! Logo ele, que tanto queria agradar-lhe! Que fazer? Decidiu. Naquela manhã, os ponteiros acercavam-se das 11. Ela andava a jardinar. Decidiu tomar radical decisão; incendiar a cabeça!...
Antes dela chegar. Seria uma supresa. Imaginou a cena antes dela chegar: uma fricção e um clarão duma cabeça a arder.
Sentia remorsos por não ter feito isso há mais tempo. Então, quando ela já subia a escada, a caminho da cozinha, zás, puxou dum fósforo, incendiou-lhe a cabeça e a do fogão a gás!
Ela entrou e abriu a boca, de espanto!
-“Ia fazer o almoço”, disse ele.
-“Deixa estar. Tu não sabes. Eu faço”. Disse ela., docemente.
Ele deixou. O almoço estava uma maravilha.
A cena final foi:
”-Que lindo menino! O meu querido hoje acendeu-me o fogão!
Vês que como quando queres sabes ajudar!”
Um eco dum repimpado beijo, pespegado na face, soou na cozinha.
-“É só pedires” respondeu ele num intervalo do palitar dos dentes!
Vamos jogar à bisca?, perguntou.
Ele só quer ajudar!
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(o figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
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