Chap chap com olhar d'engate

CHAP CHAP COM OLHAR D’ENGATE
Vi-te como sereia
A quem deram belos pés
Para caminhares
Na fímbria da água com a areia
Na praia de lés-a-lés!

Ias e vinhas
Num lento chap chap
Olhavas-me
Via no teu olhar um olhar d’engate!

Entraste mar adentro
Lenta
Lentamente
Cada vez menos pernas
Cada vez menos ancas
Cada vez menos dorso
Até que só um braço no ar
A acenar

Desapareceste
Veio a sétima onda
A mais forte
Fiquei encharcado
Nela imaginei acrescento do teu chorar derramado
Por não acompanhar tua entrada no mar!

Foi devido à crise!
Fiquei na praia especado!
Na crise afogado
Que me cortou as pernas!

Não posso caminhar
Mas também não quero rastejar.

Vi-te sereia
Que encanta com seu canto
Vi-te com belos pés na areia
Entrares no mar
E nele te afogares
E de mim teu desencanto!

É a crise!
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(o figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar-PORTUGAL