Figas no Jornal de Notícias

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Aquando da entrevista ao JN nos seus 120 anos.

Poder

Pensamento do Conde:
O poder não reside em quem pensa que manda mas sim em quem desobedece.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Será que vai haver um Museu Mineiro em s,.Pedro da Cova?




Intróito.
Atendendo que, recentemente, um grupo de professores de S, Pedro da Cova, tem vindo a pressionar, através da criação dum movimento cívico, a favor da preservação do Cavalete de S. Vicente, achei por bem transcrever um artigo meu sobre o mesmo assunto, publicado no Jornal de Notícias, página 39, (formato antigo) do dia 5 de Dezembro de 1997. Passados doze anos ainda estamos na fase da esperança!
A Deputada Isabel Santos (candidata à Câmara de Gondomar) apresentou na Assembleia da República, uma resolução em que pede ao Governo a urgência na qualificação do Cavalete de S. Vicente e todo o couto mineiro de S. Pedro da Cova.
É positivo. Mais vale tarde que nunca. Este assunto anda a marinar há já quase 20 anos! Porquê tanto desinteresse? Será por os mineiros votarem maioritariamente na esquerda que foram esquecidos pela direita que tem governado o Concelho?

Não bastou a desgraça da vida desgraçada dos mineiros para, depois do 25 de Abril, não verem o poder político local, por manifesta falta de vontade política, ainda mais os castigarem, ignorando a mais que justa pretensão, desde 1990, em honrar uma memória épica de trabalho e sofrimento. Não é só o carvão que é negro, porque também é negra a sensibilidade cultural de quem tem governado Gondomar!
Será preciso dizer quem?

“SERÀ QUE VAI HAVER UM MUSEU MINEIRO EM S.PEDRO DA COVA?
Uma multinacional, encarregada de elaborar um relatório/projecto, integrado no Programa Urban para a expansão do pequeno museu mineiro existente, contactou-me, há dias, por sugestão do Pelouro da Cultura da Câmara de Gondomar, afim de conseguir alguns subsídios, a nível de ideias, para a elaboração do projecto.
Não sou natural de cá, mas sim de uma freguesia vizinha, porém vivo cá há 25 anos. Assim, a pedido, aqui vai o que penso:
Em primeiro lugar, estabelecerei três regras, para expender o mais sintéticamente possível, as minhas ideias sobre o assunto, a saber:

1º-No plano dos dos princípios
2º-No plano dos meios.
3-No plano dos fins.

No plano dos Princípios:
Óptimo que, dentro de cada vez maior sensibilidade para a preservação do património, tenha surgido a consciência e a vontade política para a criação de um verdadeiro museu, na dimensão proporcional, penso eu, à grandeza gloriosa (embora passada, nunca se sabe se vai ser outra vez futura) das minas de carvão de S. Pedro da Cova, que, segundo o que todos nós aprendemos há dezenas de anos atrás, eram as mais importantes do país. Se é para se fazer um museuzinho do tipo Portugal dos pequenitos, isso não. Só arranjar mais espólio, armazená-lo e não lhe dar vida, será então manter “status” do actual pequeno museu que, embora honre quem criou o pouco que existe, está bastante passivo, amorfo e quse ignorado pela maioria da população da própria freguesia de S. Pedro da Cova. Que esta expansão do museu seja assumida como cuidar de um património supraconcelhio e, como tal, dinamizado pelos concelhos que compõem a área do Grande Porto, cujo sistema inicial de transporte público, pós “americano”, foi baseado no carro eléctrico, tendo este a sua “alimentação” na força motriz gerada pelo carvão das minas de S. Pedro da Cova, indo directamente para as centrais dos S.T.C.P. que garantiam o abastecimento aos quilómetros de cabos aéreos de toda a rede.

Natural da Vila de Gondomar, passei uma vida a correr para o Porto e, ainda menino, lembro-me de ver, muitas vezes, as zorras pejadas de carvão a caminho da central de Massarelos, e não só.

Concluindo: se o carro eléctrico ajudou imenso à fixação do povo na área do que é hoje considerada a região do Grande Porto, é óbvio que deveria ser o Grande Porto, através da sua Junta Metropolitana, a supervisionar a criação de um verdadeiro museu mineiro, sua expansão e manutenção. A nomeação do director do museu seria da competência da Junta Metropolitana. Poder-se-ia criar um grupo de trabalho integrado por um representante da Junta de Freguesia, (ou um freguês pela Junta nomeado) um das Câmaras que compõem a Àrea Metropolitana do Porto, um da Direcção Geral das Minas, um dos actuais proprietários das minas, e ainda, a título consultivo, um representante dos mineiros que trabalharam na mina, nomeado ou não pelo Sindicato.

Este grupo de trabalho teria por missão elaborar propostas para o desenvolvimento e das suas actividades em todas as suas componentes, nomeadamente na divulgação do museu, a todos o níveis, procurando inseri-lo, coo corpo atractivo, na sociedade, como exemplo da preservação do património. À Junta Metropolitana caberia homologar as propostas e garantir o suporte finaceiro para a sua realização.
Está fora de questão que, por muita boa vontade que houvesse, fosse só a Junta de Freguesia, devido ao seu limitado âmbito, a ficar com o ónus da gestão do museu.
Isso seria mesmo contradizer e limitar a própria ideia da expansão do museu e do seu carácter universalista. Mesmo só a cargo da Câmara seria negativo, porque se as minas de S. Pedro da Cova serviram a todos, então todos têm de ajudar, até mesmo o Governo.

No plano dos meios:
Em primeiro lugar, convocar-se-iam todos os antigos mineiros e todas as pessoas que estiveram ligadas à exploração das minas, a fim de as sensibilzar para o projecto. Apelar-se-ia para a identificação e localização de todo o espólio disponível e à sua eventual dávida ou compra simbólica, por parte do museu, de utensílios com interesse.
Tentar-se-ia obter o maior número de objectos relacionados com a extracção e comercialização do carvão; filmes, fotografias, desenhos, plantas das galerias, histórias documentadas de vivências mineiras, etc. Tudo isso seria bem-vindo. Mais tarde, todo o material receberia suporte bibliográfico nas línguas turísticas apropriadas.
O museu, para mim, para ser uma coisa em grande (como as minas foram) deveria ser instalado no local mais identificativo, ou seja, junto ao poço de S. Vicente, (tinha eu para aí uns dez anitos e cheguei a lá ir, a mando de minha mãe, buscar “bolas”).
Na lavaria ou na serralharia, num deste edifícios a restaurar, deveria ficar instalado o Museu Mineiro. Um bocado do Poço de S. Vicente deveria ser aberto às visitas e, com a máxima segurança, levá-las a percorrer uma pequena galeria, onde estaria todo o equipamento como se ainda estivesse em laboração. Um nicho para a Santa Bárbara não estaria mal.

No términus da linha 11 deveria renascer o pequeno troço de carris e neles circular uma zorra, adaptada para os visitantes iniciarem a visita às minas. Seria um aspecto lúdico interessante para apequenada, e não só. Outra zorra deveria estar, por lá, devidamente estacionada e carregada de carvão, nem que fosse só para inglês ver.
Uma pequena secção de transporte de carvão, por cestas, devia fazer lembrar aos vistantes que o seu destino era alimentar a Central das Medas. Outra linha ia até ao Monte Aventino, nas Antas. De lá seguia o carvão para muitos destinos e fins.
Dever-se-iam preservar, também, algumas casas dos bairros minieros, como exemplo a mostrar como viviam.

Todo o espólio actual, que está na Casa da Malta, passaria para o novo espaço a criar. A Casa da Malta seria conservada, preservando a ambiência para que foi inicialmente construída. A ter um uso útil diferente, mas similar, talvez fosse de encarar uma mini-pousada para a juventude. Afinal, a Casa da Malta para que servia? Era exactamente para a malta dormir.

Para terminar, como as minas estão “encostadas” aos fojos de Santa Justa, e estes uma vez tornados visitáveis, seria de estudar um projecto comum como o Município de Valongo, na captação de visitantes para o “resort” mineiro. Aqui a mimi-pousada podia dar um básico apoio para os raids pela serra.




No plano dos fins:
Se o princípio da criação, ou expansão, do museu mineiro é a preservação da memória colectiva! Se o meio é tudo o que o compõe! Então, o fim, ou seja o objectivo do Museu Mineiro será a sua divulgação, a mais ampla possível a nível nacional e internacional, por todos os meios: Rádio, Imprensa, Televisão, Internet, etc.
Também muito importante seria a sua divulgação junto das escolas, colégios, institutos, universidades. Se, realmente, for um Museu a sério, então deverá ter uma base lúdica e de formação junto dos menores. Tem de ser um museu vivo e activo. Penso que seria aconselhável que todas as crianças, pelo menos da área metropolitana do Grande Porto, no decorrer do Ensino Primário, visitassem o Museu Mineiro. Seria, também, um ponto de referência para o apoio de estudos superiores, onde fosse necesário referenciar as tecnologias usadas na extração mineira. Aí o Museu Mineiro seria um repositório de Arqueologia Industrial ao serviço de todos.

Se S. Cosme tem três jardins S. Pedro não tem nenhum, se S. Cosme tem uma equadra da G.N.R. e outra da P.S.P., tem Auditório Municipal, tem Notário, Conservatória, Tribunais, Contrastaria, etc, etc, S. Pedro nem sede própria de Junta de Freguesia tem!
Não quero falar do muito que, comparativamente, Rio-Tinto, Valbom e Fânzeres têm. Fica para a próxima. O que ressalta de tudo isto é que S. Pedro da Cova merece ter um Museu Mineiro, que seja o orgulho dos Gondomarenses, ao seviço do país e do Mundo. Haja vontade política e não só boas intenções e a costumada cantilena da falta de verbas!

Pronto. Isto são apenas sugestões para um Museu Mineiro. É o que penso.
Quanto ao impacte que as minas tiveram aqui em S. Pedro da Cova, as suas glórias, as suas desgraças, estas mais do que aquelas, (há muitas histórias para contar) não falta quem as conte, por exemplo o meu amigo Mazzola.
Silvino Figueiredo (S. Pedro da Cova)

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