Figas no Jornal de Notícias

Figas no Jornal de Notícias
Aquando da entrevista ao JN nos seus 120 anos.

Poder

Pensamento do Conde:
O poder não reside em quem pensa que manda mas sim em quem desobedece.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Mudanças!

MUDANÇAS
Desde que o Homem é homem ele muda e provoca a mudança.
Cada geração assiste a mudanças.
Com a minha idade, dou comigo a constatar como as coisas, em apenas um século, mudaram tão aceleradamente!

As mulheres deixaram de andar vestidas até aos pés, raparam buços, pernas e sovacos, passaram a usar mini-saia, depois calças, depois calções, bikinis e até já se faz nudismo, legalmente! Os homens vão pelo mesmo caminho!

O pessoal da plebe andava vestido com gangas, com umas chitas, e todo remendado! Hoje quase só se usa roupa de marca e muda-se de roupa em cada estação, só porque em poucos meses se deixou de usar um modelo ou uma cor!

Passou-se do transporte a cavalo ou de carro de bois para os automóveis e tractores. De barcos de três ou quatro mastros, passou-se para paquetes para milhares de passageiros ou cargueiros de 300 mil toneladas!

Ainda tenho na memória do chiar dos carros de bois, vindos do mato, carregados com o dito, para os quinteiros das casas de lavaoura, onde era um fedor que tresandava! No rez-do chão eram as cortes e por cima os quartos! Imaginem o “cheirinho”.

A malta, após a segunda grande guerra, ainda ia para a escola descalça, de socos ou chancas, com meia dúzia de pequenos livros na sacola e um papo seco, que (mesmo seco) na minha terra é chamado de molete, para o lanche, que, mesmo assim, era dividido com quem não levava nada!
Era a época do racionamento. Açucar, do pão, bacalhau e azeite, não eram para todos! Era a famosa época duma sardinha para três!
Comia-se tudo o que vinha ao prato. Hoje, dá para sorrir quando se vê as exquisitices perante a fartura existente. Lembro-me dum tio meu, que na guerra, cheio de sede, até tentou beber urina de cavalo. Porém, era cerveja demasiadamente salgada! Não é novidade para ninguém se disser que no deserto, com fome, até os ratos eram comidos pelos militares! Diziam que eram um bom petisco. Aliás, os árabes dizem que os gafanhotos são os camarões do deserto!

Passou-se da lousa e lápis de ardósia para as máquinas de calcular e dos computadores, dos telefones fixos para os móveis e net de banda estreita para a larga.
Deixou de haver a iluminação a azeite, a petróleo e passou-se para a electricidade e todos os desenvolvimentos que esta proporcionada à moderna electrónica.

Passou-se de andar a pé para se andar de automóvel, de avião ou até ir à
Lua!

A economia local e nacional deu lugar à economia global, com os negócios a desenvolverem-se via internet, assim como pagamentos, trasnferências e conferências pela mesma via, também é utilizada para tele-medicina!

O desporto era correr, saltar, jogar à bola, pouco mais!
Agora há todo um leque de desportos normais e radicais.

Do namoro normal, que levava ao casamento, passou-se para o namoro permanente sem casamento! O pessoal junta-se e desconjunta-se. Tipo leasingou ALD (aluguer de longa duração)

Na música deu-se o salto da roda arrendonda a saia, dos malhões e dos viras acústicos, para a música electrónica, com novos ritmos e toda a gente a sambar músicas hodiernas.

Passou-se do tempo de trabalho de sol a sol, sem férias, para as dez e oito horas diárias, de segunda a sábado, até se chegar à semana inglesa, francesa, etc.

A remuneração deixou de ser à semana (por vezes só se trabalhava três dias) para a remuneração ao mês, sendo que agora trabalha-se onze meses, mas recebe-se catorze!

Antes o pessoal tinha a noção da poupança. Quase que não havia bancos e guardava dinheiro no colchão, nas meias, no quintal e só comprava o valor de dez quando se tinha os dez, vinte ou cem! Agora, tem contas em muitos bancos, tem muitos cartões e no fim do mês também muitas prestações!

Dos fidalgos que dominavam o poder, este passou para as mãos, não de quem tem mais lanças e espadas, mas sim mais notas!

Antes fazia-se um empréstimo para compar coisa básicas.
Hoje pede-se empréstimos para pagar dívidas de futilidades.



Antes, a felicidade era ter de comer, beber, de vestir e ter uma casinha.
Hoje a felicidade moderna é ter casa com piscina, casa de férias, carro, cartões de crédito e um cãozinho ou gato para levar a passear e estar a par do jet-society.

Passou-se das simples grafonolas ao rádio, de simples difusão de notícias, à televisão e suas centenas de estações, que nos metralham com informação de toda a espécie, com “pacotes”, telenovelas, futebóis, do faça você mesmo, políticas, concursos, corridas de fórmula um, campeonatos europeus e mundiais disto e dquilo, além dos jogos Olímpicos.

Um vida de mais recato deu lugar a uma de mais espalhafato, com concursos de misses e de machos!

Do vinho da pipa e à caneca, passou-se à garraja de marca, (com rótulos que são autênticos poemas, na descrição dos diversos sabores) donde se verte , elegantemente, uma pequena porção num copo, e muito se cheira antes de se beber, ao contrário do antigo esvaziar da caneca num só trago!
Agora discute-se marcas. Antes era apenas tinto ou branco, com o copo ou canecas cheias. Passou-se das tradicionais sopas aos finos consumés!

Passou-se dum tempo em que quase não se abria a boca., do come e cala, para as amplas liberdades de até se falar de mais. Hoje contesta-se, contesta-se, fala-se, fala-se, fala-se, com greves e greves, porque os patrões são muito “amigos” dos trabalhadores ou colaboradoes, mas muito mal compreendidos! Coitados!

Isto não tem nada de extraordinário. A mudança será cada vez mais veloz, como o antigo e ronceiro combóio deu lugar ao TGV, e o lento aeroplane ao avião supersónico. O que é de admirar é tanta mudança em tão pouco tempo!

Antes arranjava-se emprego para toda a via. Hoje, o ritmo de mudança é tal que toda a vida é feita de mudança!

Das firmas nacionais passou-se para as multinacionais e transnacionais!
Os trabalhadores, que antigamente moravam perto dos empregos, tem têm de viver em roulottes para acompanhar as deslocalizações, impostas pelas grandes empresas. Aliás, passou-se da designação de trabalhadores à de colaboradores a termo ou a empresários a recibos verdes e sem garantias!



Duma crença num deus único assistiu-se a muitas ramificações de religiões e seitas, embora todas ela cobrando seus dízimos, para garantir a subida ao Paraíso, e dum Papa fixo passou-se a um papamóbile e missas por rádio, telisão e internet. Não me admira que (esta é uma previsão minha) o pessoal adquira, em qualquer supermercado, hóstias previamente benzidas pelo Bispo de cada diocese e as traga para casa. Em escutando ou vendo missa, via rádio ou TV, chegando ao ponto da comunhão, o crente tome a hóstia em sua mão e recatadamente a digira, acompanhada dum bom vinho, também comprado e previamente benzido!


Antes, as mudanças, que as havia, eram lentas, com séculos e séculos com o mesmo visual, com o mesmo tipo de barcos sobre o horizonte.
Hoje há as lanchas voadoras! Navegar à vela é só para sonhar!

Na medicina passou-se do uso normal do cajado como apoio às modernas próteses de mamas, dentárias, de pernas e braços, aos transplantes de corações, de rins, olhos biónicos, injecções de silicones, mudança de visual, etc, etc. Até já se consegue fazer clones de animais. Não tarda que seja de seres humanos. Só falta fazer de cada quarto de banho uma fábrica de perfumes, com transformadores ambientais aplicados à saída de cada ETRS (estação de tratamento de resíduos sólidos, mais conhecido como “Óbdeguinus”)

Na guerra, passou-se dos cavalos, lanças e espadas aos canhões, tanques, aviões e bombas atómicas teleguiadas!

Se as pessoas, que viveram há cem anos cá viessem, ficariam cem anos
de boca aberta!

Para terminar, confesso-me adepto da mudança, porque o Mundo é o que o Homem quiser! Além do mais o que era ontem já não o é hoje. Nem o Sol é o mesmo! Até o dinheiro, que parece estar seguro nos bancos, de repente não está!

Considero-me um priveligiado, porque assisti a estas mudanças. Meu bisavô viveu conhecendo o trivial da sachola, da enxada, das ceroulas, do uso do chapéu, do bigode, como seu pai. As mulheres também o usavam, além das saias até ao chão!

Se meu bisavô cá viesse seria mais um homem-estátua de espanto perante tanta mudança e por ter um bisneto, que é um espanto

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