Figas no Jornal de Notícias

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Aquando da entrevista ao JN nos seus 120 anos.

Poder

Pensamento do Conde:
O poder não reside em quem pensa que manda mas sim em quem desobedece.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Divagação sobre poesia

Divagação sobre a poesia

Oral ou escrita, a poesia é a síntese da expressão mais profunda do sentimento humano, traduzido por palavras veículantes de harmoniosas sonoridades, transmutacionais da matéria em espírulas espirituais.

A poesia vê para além do longínquo horizonte! É a aproximação ao divino! O poeta pare versos de espantos perante toda a criação que o rodeia, mas, consequência da sua humana condição, também denuncia humanas hipocrisias e suas contradições! A poesia é alquimia que transmuta a matéria, dela retirando extraindo etérea espiritualidade!

Reportando-nos à história do aparecimento do Homem na Terra, atendendo que esta tem, segundo cientistas, 4.500 milhões, a vida tem 500 milhões e que o Homem apareceu há cerca de 50 mil e a escrita há 4000 anos, constata-se que desde a idade da pedra, subsequentes períodos de desenvolvimento, em milhares de anos, foram necessários para que, desde os primeiros sons guturais humanos, pouco mais ainda que “macacos”, se chegar à formulação da linguaem oral e escrita, e dentro destas as formas poéticas; catalizadores de emoções!

Nesses recuados períodos, em que a linguagem humana não passava de espasmos vocalizados, a poesia residia no espanto dum olhar perante a alternada visão do Sol e da Lua, perante rios e mares ou ficava quase petrificado perante dantescas tempestades; terreno propício para habitáculos de deuses, entretanto criados pela mente humana, nomeadamende pelos egipcios e gregos, basta analisar, destes últimos, a evolução da sua Teogonia!
Lentamente, o Homem habituou-se à musicalidade dos ventos, ao ribombar dos trovões, à luminosidade dos raios e ao fogo provocado.

O conhecimento actual revela que o aparecimento do Homem não foi espontâneo, tanto na forma como na inteligência, tendo sofrido, como animal que é, influências da actividade cósmica, em permanente evolução em todos os aspectos. As pinturas rupestres datam entre 20000 a 10000 anos! Imaginem todo o processo até se chegar à moderna pintura ou desde a primeira nota musical até à grandiosa sinfonia!
Em termos poéticos, não se sabe quando apareceu o primeiro beijo entre homem e mulher, quais os jogos de sedução mútua, qual o primeiro poema ou a quem dedicado!. Talvez o primeiro poema fosse apenas um sorriso ou na forma de maçã, dada por Eva! Todavia, não é difícilm de intuir, que a primeira poesia oral, fosse o acalanto; o  óóóó duma mãe embalando seu filho, hoje melhor estruturado:

“Nana nana meu menino,
que a mãezinha logo vem,
foi lavar teus paninhos
à pocinha  de Belém”

Sucessivos cataclismos, entre eles incêndios e destruições da antiquíssima biblioteca de Alexandria, causaram perdas irreparáveis de conhecimento, entretanto adquirido, para o estudo de eventuais formas mais antigas da poesia.

Realçar que estudiosos dizem que a Biblioteca de Alexandria, fundada no século III  A.C., na altura era o maior centro de conhecimento da antiguidade, albergando entre 400 mil a um milhão de papiros, alguns deles com dezenas de metros de comprimento! Felizmente, que um dos seus mais famosos bibliotecários; Calímaco, fez um catálogo, com notas biográficas sobre os autores do acervo que na altura existia e que serviu, posteriormente, para nfluenciar Virgílio nas suas obras Bucólicas e Eneida, e que por sua vez influenciaram toda a literatura ocidental!

O espólio literário mais antigo parece ser os hieróglifos egípcios, alusivos a cerimónias religiosas ou também amorosos, como demonstra o poema abaixo, com mais de 3000 anos!

”Há sete dias que não vejo a minha bem-amada.
O desalento se abateu sobre mim.
Meu coração tornou-se pesado.
Esqueci até minha vida.
Quando os médicos vêm à minha casa,
Seus remédios não me satisfazem...
Ninguém descobre minha doença.
Mas se me dizem: "Olha! Ei-la",
Isso me restitui a vida.”

A passagem da linguagem oral à escrita teve como primeiro suporte primitivo a pedra, depois placas de argila e papiros até chegar ao moderno papel, actualmente prevalecente. Outros suportes, dentro da evolução tecnológica electrónica, perfilam-se no horizonte, dispensando, cada vez mais, o papel!

Desde suas formas rudimentares até ao formato do soneto evolutivo do septssilábico ao decassílabo, muito aperfeiçoado por Petraca, que com seu amigo Bocacio, posteriormente muito influenciaram a Europa com este modelo, até chegar ao soneto alexandrino, iniciado por Lambert Licors econtinuado por Alexandre de Bernay, mas mais tarde a sua estrutura foi modificada por Shakespeare, que em vez de três quadras e dois tercetos, utilizou três quadras e um dístico!

Muitas formas poéticas, ainda sem preocupação de rima, mas sim apenas adaptada para à  Lira, instrumento em voga na antiguidade, com diversas posições da acentuação tónica e silábica serviram para realçar e glorificar feitos épicos de atletas ou guerreiros, em que “Píndaro, poeta dos Jogos Olímpicos; no Século V A.C., o maior dos poetas gregos, cujas odes revelam audácia de pensamentos e metáforas, harmonia e majestade de estilo e uma invenção plena de vigor.
Sabiam que nos jogos os atletas corriam nus? Os primeiros foram no século oitavo A.C. e o primeiro campeão foi o cozinheiro Coroebus de Elis, que venceu a única prova; corrida de 192 mts. Nesse dia chovia muito, por isso só aconteceu essa corrida!

A preocupação estética do gregos pela beleza do corpo, levava-os a que não houvesse nada a esconder, embora fosse proíbida a presença das mulheres.
Píndaro, escrevia (por encomenda) hinos, cantos guerreiros e odes triunfais em honra dos atletas vencedores dos Grandes Jogos Gregos! De realçar, que já nesse tempo, os atletas vencedores eram glorificados pela cidade donde originários, e a sua preocupação era que tivessem uma estátua e um hino. Para esse fim, Píndaro recebia encomendas para cantar os feitos do vencedores. Aqui logo se põe a expressão do nosso Pessoa quando diz que um “poeta é um fingidor”, pois que, certamente, para receber mais uns dracmas acrescentaria uns exageros.

Se uma estátua era uma glória fixa, erigida num local da cidade do vencedor, o Poema-Hino; Peã ou Péon, como lhe chamavam, servia para a difusão da glória dos atletas nas rotas comerciais pelo Mediterrâneo e outros mares, levando longe o nome do campeão!

Digamos que se na altura não era a Internet poderiamos chamar a Internáutica informativa!

A poesia, desde cedo, pela letra, aliada à música, passou a servir de identidade dum povo, plasmada no seu Hino Nacional,
É mais pela letra da poesia dum Hino, por exemplo o português: “Heróis do mar, nobre povo, nação valente e imortal, levantei hoje, de novo, o esplendor de Portugal” do que pela música  ou pela página dum romance que um povo se identifica! Não, não é por uma página dum romance ou por uma novela ou conto! A música pode ser dispensada, a letra da poesia não!  As palavras é que são a força da alma; do espírito!

Os modelos poéticos, como qualquer outra arte, foram evoluindo, neles existindo formas de expressão, como na pintura, na música, na escultura e na arquitectura, sejam formas narrativas, descritivas, abstratas ou idealistas. Desde formas evoluídas, consideradas clássicas, atè à sua ruptura e desconstrução em formas livres, processo que na poesia foi iniciado por Stéphane Mallarmé no séulo XIX.
As temáticas evoluiram, desde a religiosa, pastoril, romântica, até chegar à sátira dos costumes, de escârnio e mal-dizer e à crítica dos poderes vigentes.

Desde a antiguidade; na Pérsia, Grécia, Império Romano, que os poetas eram tidos como seres superiores, próximos de deuses. A corte persa de Mahmud de Ghazna , Século X, albergou 400 poetas, onde reinou a poesia didática. O significado de poesia, em grego, era fazer, criar!
Os poetas eram considerados uns criadores e ainda o são.

Por outro lado, a poesia, como representante da parte mais espiritual do Homem, comercialmente pouco vende. Da literatura em geral, o seu ramo poético, em particular, pouco vende!

São raros ou inexistentes os êxitos que enriqueçam seus autores, quando comparados com obras doutros géneros, romance, novela, conto ou ficção!
Também não é timbre dos poetas produzirem para o êxito comercial.

Para um poeta, em termos de tempo, é relativamente fácil fazer um poema, porque em minutos pode traduzir o pulsar do seu sentimento para o papel. Nos outros géneros, acima mencionados, demoram meses ou anos!

Porque fazer poemas é como respirar, os poetas têm necessidade, não de os vender, mas sim de os mostrar e com outros partilhar, daí compreender-se o aparecimento de pequenas tertúlias para esse efeito.
Mais valia será quanto maior for a partilha. Se poeta não consegue ver os seus versos editados,
porque não tem quem o patrocine, já fica feliz em os soltar no ar intimista duma tertúlia, como o eram nas cortes reais, onde eram protegidos, ou em serões palacianos da fidalguia!

Nos últimos séculos, movimentos arcadianos ou parnasianos irradiaram seus conceitos e adaptaram-nos à realidade da evolução social e tecnológica.

Devido aos modernos recursos disponíveis, hoje, mais que nunca, cada ser humano pode imprimir a sua marca poética em suportes electrónicos, (o autor deste texto, por exemplo) sendo a Internet um distribuidor universal da edição de cada autor.

Como tudo, como nas constelações estelares, só as estrelas com maior brilho seduzem e chegam mais longe, pelo seu próprio brilho ou porque poeiras cósmicas não deixam ver o brilho de outras estrelas, que eventualmente até terão mais brilho, mas ainda fora da nossa visão física ou intelectual!

Entretanto, a evolução não pára. Hoje, reina o experimentalismo e não tanta a preocupação de seguir cânones que vigoraram durante séculos, mas que, entretanto, foram, paulatinamente, abandonados. No fundo, bem no fundo, não há nada de novo sob o Sol. Se o Homem nasceu e andou nu e devagar, devagarinho vestiu-se até chegar à moda do século XVIII e XIX, com as senhoras bem enfunadas e cavalheiros cheios de rendas e folhinhos! Hoje, livremente, o homens e mulheres despem-se sem preconceitos e anda-se por aí com modas às três pancadas com direito a desfiles em chiquérrimas passereles.

Notar que após o fim do Império Romano e subsequente e lenta reestruturação territorial da Europa, nomeadamente após o período Carolíngio e o desenvolvimento do tecido urbano das cidades italianas, devido ao comércio das especiarias com a Àsia, antes de serem substituídos pelos Portugueses, com a descoberta da rota da India, as ricas famílias italianas, não querendo ficar atrás da opulência da Igreja, com suas catedrais e palácios episcopais, muito contribuiu para o florescimento de ateliers e escolas de artistas, tanto na escultura, como na pintura, na construção e decoração dos grandes palácios senhoriais! Numa fase inicial recorreram aos cânones gregos e romanos, mas depois divergiram para novas formas até chegarem ao estilo barroco, rócócó, e chegarmos às formas de muitos Gugenheims no mundo, ou como o da Casa da Música, no Porto!


Também na poesia todas as formas são permitidas, e como cada homem reina um criança, a menina poesia pode brincar com suas quadras, quintilhas, sextilhas, oitavas, sonetos alexandrinos ou outros mais pequeninos, com versos homéricos, épicos, sáficos ou  "seráficos", com seus troqueus, espondeus, jambos, dátilos, em estilos pindéricos ou pindáricos, como diz o Figas.

Não esquecer que o aqui focado é uma sumária análise das origens da poesia no Ocidente, para não falar dos Haikos japoneses (três versos, em que o primeiro e o terceiro são de cinco sílabas métricas e o do meio tem sete, assim como a recente forma de Poetria ou Poetrix, que são três versos, no total maáximo de trinta sílabas, oriunda do Brasil.

E pronto. Para terminar, basta dizer que um poema dum só verso pode conter imensa poesia;
“Amor, amo-te”, por exemplo!

Agora, brincando um pouco (à Figas) há quem substitua um poema por um colar de pérolas ou de diamantes, casaco de peles de vison, etc!

Mas, se as jóias brilham no peito a poesia fica no coração!
Cada um que escolha! Todavia, a poesia é mais ecológica!

O que é preciso é que, de qualquer forma, a mensagem esteja lá.
Que no poema haja poesia.
Não basta saber encastelar palavras!
Não esquecer que um poema
Pode ter a forma correta na forma e na métrica, mas de mensagem deserta!

Porém,
a poesia que se vista com beleza,
que poetas a saibam cantar,
que a bela poesia portuguesa
seja a maior no céu a brilhar.
................xxxxxxxxxxxxxxxxxxx..................
Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(o Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque)
Gondomar

1 comentário:

neli araujo disse...

Figas,

Muito prazer em conhecê-lo!Gostei!

O amigo é muito simpático!

Um abração,

neli